-Obrigada por teres vindo. – Volto a sentar-me, enquanto ela faz o mesmo.
Um empregado aparece, perguntando-nos pelos nossos pedidos. Ambas pedimos um café, e Katherine quer um queque de chocolate a acompanhar.
-Não tens de agradecer. E... parecias-me preocupada. – Forma uma carranca na sua testa.
-Sim... - Sei que Katherine é a pessoa certa para me ajudar nesta confusão da minha cabeça. Ela conseguiu após dois anos de batalha, conseguirá agora também. – Lembras-te daquele quadro que eu ia entregar ontem? – Acena um sim. – Era tudo uma farsa. – Arqueia de imediato uma sobrancelha. Afastamo-nos ambas um pouco da mesa por os nossos pedidos chegarem, e quando o empregado vai, continuo. Ela mexe o açúcar que deitou no café, nunca deixando de me olhar, intrigada. – Era o Harry. O Harry voltou. – A minha voz treme, claramente.
E o seu choque deve ser quase tanto como aquele que tenho sentido ao reviver a noite de ontem. Os seus lábios entreabrem-se e ela deixa cair de imediato a colher na chávena do café.
-O Harry?! – Grita, apesar de cochichando, aproximando a cabeça do centro da mesa.
Engulo em seco enquanto abano a cabeça para cima e para cima.
-Inventou um nome, um assunto, tudo. Foi tão sinistro...
-Sinistro como?
-O sítio onde lhe entregaria o quadro era a suíte de um hotel onde nós teríamos de esfregar chão dia e noite durante meses para o conseguir pagar. Quando cheguei, não havia ninguém, fui obrigada a abrir a porta com uma chave que me entregaram. Estava sozinha. E haviam fotos de quadros meus espalhados pelo chão, um em cada canto... Até que finalmente apareceu alguém. O suposto John Hill. – Rio sem piada nenhuma, levando a mão à cabeça.
Suspira, um daqueles suspirares de apenas um bafo de completamente choque, e encosta-se à sua cadeira.
-O que aconteceu depois?
-Depois... bom, depois eu entreguei-lhe o seu belo quadro que ele colocaria numa paleta vazia ao pé de si, uma que estava ao lado de outra com o quadro de pintei sobre nós e deixei em sua casa... - Tão planeado e macabro. – E preparei-me para ir embora. Tinha entregue o quadro, o seu teatro tinha acabado, eu disse-lhe isso. Mas aí ele deixou de estar tão despreocupado e esquecido de que passaram cinco anos e explodiu apenas um pouco do que está a sentir... disse que me ia fazer sentir o que ele sentiu.
-Isso é suposto soar tão ameaçador como eu estou a achar?
-Totalmente. Ele disse que se vai vingar. E não parecia ter uma única ponta de dor naquilo que dizia... isso foi o que me custou. Saber que ele estava tão despreocupado, que não parecia estar minimamente chocado ou surpreso, de uma forma boa, por me ver... acho que me iludi, e ele está tão zangado comigo que nunca me poderá perdoar. – E mesmo que já soubesse disso, era inconsciente, só agora o pude raciocinar e dizer, mas sinto que esse foi sempre o meu problema. Saber que ele sofreu por minha causa, tanto, que nunca me poderá perdoar. Mas apenas castigar. Saber que para ele, eu talvez já não seja nada... que já não o posso deixar minimamente feliz por me reencontrar. Baixo a cabeça, apenas para puder piscar um pouco os olhos e empurrar as lágrimas que começam a aguar os meus olhos. Discretamente corro os olhos pelo teto e volto a encará-la.
-Oh Blair... - Trinco o interior do meu lábio. -Anda cá. – Estica o braço, apanha-me a mão e massaja-a. – Não te sintas assim tão culpada, não te rebaixes dessa maneira. Tu sabes que não poderá acabar bem. E... por muito que eu não queira dizer isto, tu sabes que ele não estava despreocupado ou não sentiu um nada ao ver-te novamente. Por mais que ele tenha sofrido, e deixa-me lembrar-te que tu também sofreste muito por causa dele – Suspiro, ela tenta sempre fazer-me lembrar disso. -,ele não poderá ficar zangado contigo eternamente. No interior dele, eu sei que já te desculpou desde o primeiro segundo que te viu outra vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Shadow 3 - ForEver
FanfictionNa tentativa de que a distância possa ajudá-la a esquecer o seu passado perverso, Blair cria uma vida baseada na mudança, no mais desejado longe do contacto com as memórias. Harry culpa-se pelo definido fim que pensa ter chegado, não deixando de...