Capítulo 2

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 O gancho vem delicadamente pelos seus cabelos, com o meu medo de a magoar.

-Acho que é o último.

-Boa, posso ir brincar agora? – Já o seu pé está a sair do apoio do banco, ficando balançado no ar pronto a saltar para uma correria.

-Não, primeiro deixa-me pentear-te. – Trago o seu corpo para toda a cadeira, de novo.

-A Katherine chegou! – A informação chega como uma oportunidade para finalmente fugir da minha vista e ir a correr, tendo-me deixado apenas pentear o mais despenteado do cabelo.

-Felicity! – Ainda tento mas sei que mesmo que se me tivesse ouvido, não voltaria. Suspiro, encolhendo os ombros e pousando a escova na mobília.

Vejo a pequena já no colo da loira, que hoje parece vir sozinha.

-Foi muito, muito giro! Tu devias ter visto... - Meio que lamenta.

-Oh mas quem disse que não vi?

Levanta a sua pequena cabeça, os olhos arregalam-se na esperança.

-Viste?!

-Eu consegui ver duas danças.

-Estiveste lá? – Aproximo-me, cumprimentamo-nos com um abraço íntimo.

-Sim, mas como sabia que entretanto estaria a ser chamada de novo fiquei junto à porta.

-Bom, a tia Kath viu como estavas linda. – Passo a minha mão pela pele do seu braço.

Lissy sorri abraçando a mulher que a segura e depois vai para a sala, agarrando a barbie e arranjando-lhe o tutu.

-Ela tem jeito. – Comenta enquanto sorri, olhando para ela, tal como eu.

-Sabes que ao início pensei que seria apenas para se sentir como as barbies dos filmes ou assim, mas vi como os olhos dela brilhavam. Quase tanto como naquele dia. – Sorrio com a escapatória até a essa memória. Foi o dia em que encontrei alguma da felicidade que nunca pensaria ter, a minha felicidade.

Esfrega a sua mão no meu braço, meio que me acordando, e entramos na divisória aberta da cozinha, já a nosso lado.

-Precisas de ajuda? – Inclino-me para ver, por cima do ombro de meu pai, a carne que mistura com massa.

-Não querida, está tudo orientado.

Assento, sorrindo. Vejo como Kath se preparava para se sentar num dos bancos.

-Talvez pudéssemos ir falar para a varanda. – Para – Esta tão bom tempo. – E faço-lhe sinal, esperando que possa compreender.

-Sim, claro.

Vem comigo.

Passamos pela mesa rasteira da sala, e tamborilo os meus dedos na cabecinha de Felicity. Os seus olhos grandes e bem redondos sorriem-me e logo se continua a entreter com a sua boneca. Encosto o máximo que posso a janela de vidro e puxo uma das cadeiras de madeira, sentando-me no lado oposto da mesa a onde ela está e parando para contemplar um pouco a imagem que consigo ter de alguns topos de prédios e o rebuliço em cada movimento das pessoas de Chicago. Se olharmos bem, conseguimos, entre construções e dezenas de cabeças, ver um pouco do azul brilhante do lago Michigan.

-Queres falar de alguma coisa, certo?

-Sim.

Junto os braços em cima da mesa.

-E aparentemente é sério. – Prende o olhar na minha posição.

-Bom, acho que não é um drama...

The Shadow 3 - ForEverOnde histórias criam vida. Descubra agora