Enfim..

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Tudo começou a girar. Começou a ventar forte lá fora e eu só queria encontrar a cadeira onde havia me sentado antes de entrar em desespero. Na minha cabeça eu tentava dar uma desculpa a mim mesma para me confortar, do tipo:

"Mamãe partiu, ela foi viajar com certeza."

Porém a expressão de Beth não me ajuda muito. Ela tentava sorrir para me confortar, mas logo chorava. Continuei sentada, tentando dar continuidade aos próximos longos minutos que ainda restavam pro dia acabar. Levantei- me e fui até o quarto da mamãe, na esperança de encontra lá sentada lá, sorrindo para mim. Encontrei aquelas paredes brancas, meu nome escrito com giz de cera, suas pantufas sempre no mesmo lugar e nossa foto no zoológico, encima do bidê em uma moldura quebrada desde os meus 11 anos. Sentei na cama, peguei a moldura e fiquei encarando ela por longos minutos enquanto Beth me olhava da porta, sorrindo e chorando. Eu estava destruída por dentro e não conseguia perguntar nada a Beth sobre como ela morreu. Olhei em volta e vi o cabideiro. Nele estavam o sobretudo do papai e o meu boné da New Work favorito. Vesti o sobretudo, fiz um coque e o escondi no boné. O espelho me mostrava o garotinho que eu almejava ser. Fui até Beth, dei um abraço nela, perguntei em que hospital eles estavam e em seguida sai pela porta da frente. Nao consegui mais olhar para trás. Enquanto eu andava, cada momento que vivi com mamãe passava diante dos meus olhos. Quando cheguei no Hospital, a recepcionista perguntou:

- Qual é a paciente?

- Donna Noble - respondi.

Ela olhou em meus olhos e saiu de trás do balcão para me levar ao quarto onde mamãe estava. Quando abri a porta, papai chorava sentado do lado da maca onde mamãe descansava em paz. Papai levantou a cabeça e me viu. Veio até mim e me abraçou forte sem me dar tempo de abrir os braços. Ele chorava muito e me apertava com as mãos. Foi a pior sensação que ja senti em toda a minha vida. Quando ele me soltou, fui até a maca onde mamãe estava e havia uma cortina em volta dela. Abri uma fresta na cortina e a vi por poucos minutos até dois enfermeiros a tirarem daquele quarto. Papai entrou em desespero e seguiu o enfermeiros enquanto o doutor veio até mim, me deu um aperto de mão e condolências.  Eu fiquei parada dentro daquele quarto, tirei o boné, e abaixei a cabeça. O hospital estava mais agitado que de costume, enfermeiros corriam as pressas para uma sala. Fui ver o que estava acontecendo e ouvi uma voz suave de mulher, porém imponente se precisasse.

- PRECISO PASSAR, ME DÊEM LICENÇA!

A impressão que tive é que eu conhecia aquela voz de algum lugar, porém a modulação da voz fazia com que eu não conhecesse. Uma doutora passou, ofegante e com pressa, seus cabelos eram loiros e até os ombros. E eu estava perdida no meio de tanta gente, tentando entender por que meu dia estava tão conturbado.

Olhei para as luzes, fui até a sala onde papai estava, e pela troca de olhares ele sabia que eu queria ir para casa. Mamãe já estava fora da nossa vista. Sai pela porta do hospital enquanto as pessoas corriam pra direção contrária, naquela sala conturbada onde a doutora entrou.

Chegando próximo da porta de casa, a única coisa que eu queria era tomar um banho e fumar um maço inteiro de redwood.

Cheguei, tomei banho e em momento algum, por mais triste que eu estivesse nao conseguia chorar. Peguei a máquina de cortar cabelo do papai, e esperei o cabelo secar para fazer um corte curto, estilo asa delta. Subi as escadas até meu quarto, que ainda tinha as paredes cor de rosa, os colantes que brilhavam no teto e alguns posters colados na parede das minhas séries e cantores favoritos. Kiss e AC DC dominavam a minha parede. Me joguei na cama sem pensar, enquanto olhava pro teto brilhante. Minha cômoda rangia como quem parecia me chamar querendo mostrar alguma coisa. Dei uma olhada preguiçosa e vi uma foto minha com Rose de quando tínhamos 13 anos.

Fui até a janela e comecei o meu ato depressivo acendendo meu redwood e querendo que amanhã fosse melhor que hoje.

Esqueça- MeOnde histórias criam vida. Descubra agora