Poderia ser um trem,
Mas é um simples ônibus
Onde, quando possível,
Colocamos a bunda no assento
E nos enganamos
Tentando não olhar.
Já dizia um sábio
Onde as massas forem, vamos no sentido contrário
O problema é que
Sempre vamos
Para o mesmo abatedouro
Morrer trabalhando
Trabalhando sem viver
E nos alegrando com
Dois banhos quentes ao dia...
Chegar em casa e abraçar e beijar e babar e comer
Dizer 'hoje o dia foi bom'
Sem ter nada de bom
Engolindo, junto com o arroz,
Ou o feijão talvez, a mesma mentira.
De que tudo vai melhorar
De que vamos enriquecer
De que meus filhos vão formar
De que não vou ser demitido
De que minhas mentiras vão, enfim, me fazer bem.
A gente se mutila
sabendo que ninguém vai dormir nossos sonhos
E mesmo assim, dorme sem sonhar
Depois de um banho quente,
Esperando, até estar no ônibus.
De novo e de novo
De novo e de novo
E nada é novo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Delírios
PoetryPoemas ao estilo Bukowski e Leminski baseado nos doces delírios cotidianos da madrugada. Onde o pensamento não cessa, o cigarro não apaga e nosso café não pode esfriar.