Epílogo-"Cinquenta reinos se passarão, Na Terra dos Sem-Coração..."

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Epílogo-"Cinquenta reinos se passarão, Na Terra dos Sem-Coração..."

"Esta história começou no início e chega agora a um fim."

***

Mais um dia... Já se passaram alguns meses desde que fui coroada como segunda Rainha da Terra dos Sem-Coração. Desde que assumi o trono que mais pessoas chegaram à Terra dos Sem-Coração.

A primeira vez que retirei um coração foi muito estranho, mas com o tempo habituei-me a fazê-lo, já ouvi histórias de vida muito complicadas, umas mais complicadas do que outras. Já visitei por diversas vezes a sala da estátua e muitas dessas vezes fiquei por lá em silêncio e algumas vezes consegui ouvir a voz da Joana. Pode parecer uma loucura, mas a verdade é que sinto que ela se mantêm perto de mim.

Ainda agora, aqui no topo da colina à entrada do Castelo, enquanto olho para a Vila lá em baixo, sinto que ela está mesmo ao meu lado a sorrir para mim. Durante aquela viagem partilhamos tanto uma com a outra que acabei por me habituar, mas não me arrependo de nada e voltaria a fazer tudo outra vez...

Perdida nos meus pensamentos, sou acordada por um raio de luz branco e silencioso que atravessa o céu até à Floresta Portal dos Pinheiros. Quando atinge o solo, uma onda de choque que só eu sinto confirma o que visualizei: um novo habitante chegou à Terra dos Sem-Coração.

– Mínimos!

– Sim, Majestade?

– Ah, já estão aí... Digam ao responsável pela Vila que prepare uma nova casa, um novo habitante chegou.

Os dois pequenos saem a correr e eu, ao vê-los desaparecer, entro no Castelo e digo a um Máximos que vai a passar:

– Prepara o meu cavalo e trá-lo imediatamente. Preciso de chegar à Vila rapidamente.

– Sim, Majestade.

Regresso ao exterior do Castelo. Os habitantes ainda não saíram para o trabalho. Poucos minutos depois, os Mínimos regressam da Vila e o Máximos aparece com o meu cavalo.

– A casa seis foi preparada.

– Muito bem. – Digo montando o meu cavalo e iniciando a cavalgada montanha abaixo. Está tudo silencioso e o vento sopra com calmaria. Deixo o cavalo à entrada do pátio e sigo a pé até ao outro lada.

Estou a apenas uns quatro metros do portão quando oiço o sino tocar. Mesmo a tempo.

– Abre o portão. – Um Máximos que tinha acabado de sair do estábulo acede imediatamente ao meu pedido.

O enorme portão é aberto revelando do outro lado uma rapariga que aparenta ter a mesma idade que eu e que entra por ele sem pensar duas vezes. Os seus olhos verdes estão brilhantes e vermelhos de tanto chorar e o seu cabelo loiro voa ao sabor do vento que começa a soprar com mais intensidade. Vai-se aproximando a passos lentos e, sem eu contar, abraça-me e sussurra ao meu ouvido:

– Ajuda-me...

Fico sem chão ao ouvir aquelas palavras que me atingem como flechas de tanta dor que carregam... Abraço-a também e passados alguns minutos afasto-a ligeiramente para lhe dizer:

– Sê bem-vinda, estás na Terra dos Sem-Coração.

– Não quero ir para casa. – É tudo o que me consegue dizer.

– Tudo bem, podes ficar.

– Posso?

– Claro que sim... Mas primeiro, o que te trouxe aqui? – A minha pergunta fá-la derramar uma pequena e cintilante lágrima. – Algo triste, não é? Ninguém vem para cá porque está feliz.

Rainha dos Corações Congelados - O Começo do Inverno [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora