Capitulo 4

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Estacionamento lotado, enfeites exagerados, vestido longo e a sensação de ter tomado arsênio antes de sair de casa. Nada mudara em dez anos. Era o baile de formatura de novo e tudo poderia sair errado como da primeira vez. Mas agora havia algo de diferente: Azulaia não era mais a menininha assustada que tinha uma ideia louca na cabeça e uma cratera no estomago.

- Você esta bem? – Max perguntava observando o tom esverdeado no rosto da amiga

- Absolutamente. Vamos entrar. – tentou parecer mais firme do que estava

Foi uma enxurrada de abraços, sorrisos, comentários de "você finalmente veio", "olha só quem esta aqui", "os vivos sempre aparecem"... Rostos conhecidos de antigos colegas de sala, rostos totalmente desconhecidos de antigos colegas de sala e seus acompanhantes, comida de baixíssima qualidade, sapato apertado... Estava tudo ali, exatamente como ela imaginara. Mas algo que ela imaginara fervorosamente e fora o motivo de não ter ido a todos esses anos de reunião de ex-alunos, estava faltando.

- Vou pegar uma bebida. – Disse deixando Max com Rebecca, que estava vislumbrada com tudo.

- Não está uma festa linda? Nosso baile foi exatamente assim! Maravilhoso! – ela dizia emocionada

O ponche era de framboesa e sem a menor duvida havia sido batizado. A cena do presidente da classe vomitando no corredor do banheiro permanecia em sua mente como uma lembrança hilária. Azul começou a rir sozinha, aquilo realmente havia sido a melhor parte do baile.

- Ponche me lembra o Val der Pier. Ele quase entrou em coma alcoólico na formatura. – um desconhecido comentava a seu lado se servindo de ponche

- O corredor ainda tem o cheiro... – Azul respondeu se virando. Um caminhão passou por seu corpo, cimento foi despejado em cima de si e uma britadeira começava a fura-lo. Era essa a sensação de reencontra-lo. "Lembre-se de respirar idiota!" Era o que passava por sua mente.

- É verdade. Ei, eu me lembro de você! Você é a Azulaia Grein, não é? – disse informalmente com um sorriso estonteante o homem de blusa social branca e calça preta, com olhos castanhos quase pretos e o cabelo escuro que deveria ter estado perfeitamente penteado, mas agora estava jogado para o lado.

- Sou... isso mesmo... e você é? – é claro que ela sabia quem ele era. Ela nunca se esqueceria do nome dele.

- Willian Disport. Mas não me admira você não se lembrar de mim... sou uma pessoa imperceptível – aquilo fora sem duvida uma piada. Ele poderia ter sido tudo menos imperceptível, não só para Azul, mas para qualquer um.

Ele não era exatamente popular, pelo menos não de um jeito bom. Era sempre a pessoa errada no lugar errado. Will D. , como era chamado ou simplesmente Mister D. , era o maior azarado que o mundo já vira. Os professores o detestavam por sempre ter uma piada de baixo da manga e seus amigos não eram exatamente o que se pode chamar de exemplos de boa conduta. Mas se quatros garotos tacavam fogo na lixeira do banheiro, só um iria receber a culpa: Willian Disport! Sua fama começara no segundo ano quando ele assumira a culpa de ter soltado o hamister que Anabelle Rivier "libertara" da aula de ciências. Sua atitude fora tão nobre que Azul imediatamente deixou de achar ele um idiota sem metade do cérebro e começou a reparar em como ele poderia ser inteligente e legal, seu maior erro.

Will realmente era um cara legal. Simpático com todo mundo, engraçado, ela ate achava ele bonitinho...

- Acho que você me deve uma vitoria. – ele disse rindo sapeca. "O maldito sorriso! Tinha mesmo que usa-lo?"

- Hã? – "Que resposta ótima Azulaia, realmente!".

- Na formatura, sua amiga me contou que você ganhou uma aposta as minhas custas, não que tivesse sido um sacrifício ser agarrado por você. – "ai meu Deus ele lembra. Merda!".

- Ah isso... – seu sorriso sem graça era tão aparente que ele deveria estar rindo da sua cara – Hm...Obrigada.

- De nada. Então, o que fez depois que saiu do colégio?

- Escritora. Quer dizer, não escritora de verdade... eu tenho uma coluna em uma revista... onde... escrevo.

- Ah que legal. Revista de que?

- Adolescente. Eu sei... idiota... mas eu gosto de me manter próxima dos jovens. Me sinto mais jovem também.

- É ótimo se manter jovem. E uma revista adolescente não é idiota... ta bem, não é do tipo de leitura que as pessoas levem em consideração, mas os adolescentes precisam de algo para se distrair, não é?!

- É isso que eu digo para a minha mãe quando ela diz que meu trabalho é inútil para a sociedade! – Will solta uma gargalhada. E Azul sorri sem graça, suas piadas irônicas sempre funcionam.

- Pais, eles nunca estão satisfeitos. Se você é desempregado é vagabundo, se é professor ganha mal, se é medico não tem tempo para a família. – comentou tomando um gole, mas ainda assim não desprendendo seu olhar do dela

- E você? O que faz? – disse precisando urgentemente da vodca do ponche

- Eu sou publicitário. É mais difícil do que parece.

- Precisa de muita criatividade.

- É, e essa é a parte fácil. Difícil é agradar o seu cliente e adivinhar exatamente o que ele quer, por que ele nunca te dirá!

- Sempre tem alguém que vai adorar as suas ideia e alguém que vai detesta-las. Acho que isso acontece em qualquer profissão.

- Tem leitoras suas que não gostam do que você escreve?- Azul sorri olhando para baixo lembrando de todas as cartas de reclamações e todas as vezes que ela leu um enorme "você esta errada sua imbecil!"

- Já ate recebi ameaça de morte!- disse de forma dramática

- Sério?

- Não, é brincadeira – sua piada funcionara de novo.

A conversa se transformara em um show de criticar chefe, rir das piadas mais sem graças um do outro e esquecer completamente que existiam mais de 20 pessoas em volta com as quais poderiam conversar.

Do outro lado do salão Max ainda não percebera que Azul havia desaparecido, aparentemente estava ocupado de mais conversando com Rebecca sobre a diferença entre o marfim e o bege.

- Marfim é totalmente diferente de champanhe! – ela quase gritava indignada com a falta de sensibilidade masculina

- Agora só falta você me dizer que "branco gelo" tem uma diferença absurda de "branco neve"

- Mas é obvio que tem. O branco gelo é muito mais branco!

- Não existe um branco mais branco! Isso é idiotice! – disse revirando os olhos

- Ta me chamando de idiota? – ela já estava bufando


06/05/12 - domingo

02:00

Não acredito! Que dia sensacional! Se eu soubesse que o encontro dos ex-alunos seria tão produtivo eu teria indo anos antes. Passei praticamente a noite toda conversando com Will D., sim aquele Will D. que foi minha grande paixão de adolescência e que ate hoje não faz a menor ideia disso. Ele esta muito mais bonito. Alto, com um porte forte natural, mas não musculoso, a pele branquinha...Ai aquele cabelo curto com tope! Ai aqueles olhos negros! Ai aquele sorriso de criança que fez besteira! Ainda bem que eu fui arrumadinha para a festa e ainda bem que meu cérebro parou de travar depois de cinco minutos de conversa. Era como se fossemos velhos amigos rindo e lembrando de coisas do arco da velha. Amanhã tenho um jantar com ele a noite e NÃO POSSO ESQUECER que tenho uma visita ao Buffet da festa de casamento da Fabi.

Vou dormir como um bebê!


Diário de um casamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora