CIARÁN HUNTER

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Não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino  - Não Discuto, Paulo Leminski

As pessoas iam e vinham em um deslizar surrealmente monótono enquanto Ciarán desenhava, a realistic pen fazendo baques surdos enquanto batia suavemente no tablet.

Bobby nunca fora reconhecido por ser um bom observador, pra falar a verdade ele nunca parara para prestar muita atenção na multidão que percorria apressada a Amador Avenue. Hoje, porém, era um dia especial. Ele precisava terminar um desenho para a aula de Artes avançadas que escolhera cursar na escola. Seu desenho deveria ser surrealista e então ele pensou: o que existe de mais surreal do que as pessoas?

Ele adorava desenhá-las, todos os tipos. Adorava os diferentes nuances que faziam cada um ser especial, único, de sua forma insignificante. Bobby era um artista, afinal. Um artista com uma terrível dislexia, hiperatividade e déficit de atenção. Mas ele continuava um artista. Aliás, ele próprio dizia que todos esses problemas deixavam sua arte mais especial, devido ao jeito peculiar que ele possuía de enxergar o mundo e as pessoas.

Bobby seguia a linha surrealista, suas obras eram coloridas, vibrantes e móveis. Graças a seu pai, o engenheiro gráfico Zedd, ele possuía um sistema operacional único em seu tablet, um que o permitia mesclar vários desenhos em um só, dando um aspecto de velocidade a tudo que ele fazia.

   A arte fora a única coisa que impedira Bobby de enlouquecer nos primeiros anos de sua adolescência, quando a escola se tornou demais e ele se via sem conseguir respirar.

   Fora muito difícil se manter no encalço de Taehyun e Elex, seus melhores amigos. Taehyun era muito inteligente e um tanto quando desinteressado e Elex era brilhante em tudo que envolvesse biologia, o que lhe rendeu o apelido de Zico, que Bobby carinhosamente havia pensado pois Zico lembrava algum tipo de vírus mutante.

   Para não ficar para trás, ele desenvolveu métodos de estudo muito particulares, únicos. Ele desenhava as matérias para tentar entendê-las já que as palavras que lia não faziam o mínimo sentido a seus olhos. 

   Claro que sua hiperatividade o rendera mais problemas do que ele possa sequer lembrar. Já havia ficado tantas vezes na detenção após a aula que não era novidade chegar atrasado em casa.

   Bobby assustou-se ao ver a imensa telemensagem do líder Alexander sobrevoar a movimentada avenida. Obviamente, ele não havia prestado a mínima atenção em nenhuma palavra dita, mas tentou o máximo que poder ler as letras grandes e garrafais que pareciam saltar da tela.

   XV ENCONTRO ENTRE FRONTEIRAS. 

   Mas isso já vai começar de novo? , Bobby indagou-se, preocupado. Ele detestava a época dos encontros. Ele simplesmente detestava.

   A cidade ficava tão cheia de curiosos, havia infindáveis desfiles para, de alguma forma, mostrar a superioridade do Sul em relação aos outros lados e eles todos os malditos anos eram obrigados a fazer uma redação estúpida sobre como o lado deles era incrível.

   Bobby não achava o Sul incrível. Na verdade, ele compartilhava do sonho absurdo de Taehyun de sair e conhecer os outros lados. Claro que ninguém sabia o que tinha acontecido com o Leste, já que eles eram isolados geográfica e politicamente. Mas mesmo assim, Bobby gostaria de ir lá e ver com seus próprios olhos e talvez até mesmo desenhar o que ele vira.

   Olhou para o rascunho a sua frente, sem a mínima vontade de terminar o desenho agora. Sua mente já estava totalmente tomada de pensamentos sobre o lado Leste e como ele seria. Será se as pessoas de lá eram realmente todas más que desejavam a falência do sistema de Lados? Mas Bobby também odiava a idéia de separar pessoas por muros. Isso fazia dele uma pessoa ruim também? E se fizesse, o que diabos ele estava fazendo no lado Sul?

   As pessoas no sul se achavam muito corretas, incorruptíveis. 

   Bobby não tinha tempo para isso. Ele corria o dia todo, apressado, com um sentimento de urgência que nem ele próprio entendia direito. Ele só conseguia se concentrar no meio do caos agitado, tudo mais parecia atordoante.

   Talvez, talvez essa fosse a oportunidade perfeita de sair de York V. Os muros seriam abertos, por um período muito curto de tempo, ele sabia, mas pelo menos seriam abertos e ele teria a chance de ver outras coisas, coisas novas, frescas, vivas.

   Bobby levantou-se animado do lugar onde estava sentado durante um generoso período de tempo. Que se dane esse desenho estúpido, pensou ao jogar o tablet cinza na mochila colorida que trazia nas costas.

   Sendo o bom hiperativo que ele era, Bobby possuía coisas muito melhores para fazer agora do que terminar um desenho que ele simplesmente poderia por qualquer coisa e seu professor diria que era brilhante.

   E, além do mais, ele tinha várias ideias para discutir com Taehyun e Zico neste exato momento.

N/A: O capítulo do Bobby, ele é confuso assim propositalmente. O Bobby é totalmente diferente do Taehyun e do Elex então não esperem capítulos dele seguindo a mesma linha dos demais.

 

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