Prólogo

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Minha mãe sempre me diz que eu preciso parar de ser tão metida a sabe-tudo. Eu não sei tudo (embora ajudaria muito ser tão inteligente quando ela acha que sou, porque isso me pouparia muitas horas de estudo desnecessário que poderia gastar vendo futebol), mas há uma coisa que aprendi nesses meus longos oito anos de vida:

Se um jogador novato está correndo numa velocidade muito alta com a bola no pé, indo em direção ao gol, pensando na melhor maneira de encobrir o goleiro, e o jogador rival lhe dá um carrinho que o acerta em cheio sua canela, a sua primeira reação ao cair é de não acreditar. Ele não acredita que perdeu a oportunidade de fazer um gol que já estava pronto em sua mente, nem que perdeu a bola e, muito menos, que pode ter se machucado feio na queda.

Na segunda vez, ele está mais experiente, mas ainda não sabe como lidar com a agressão do time adversário. Ele cai, rola no chão, pede ao juiz um cartão amarelo, mas se levanta e continua o jogo. Na terceira, na quarta, quinta ou sexta vez, numa mesma partida, é bem provável que ele comece a pedir ao juiz uma expulsão. Afinal, é um jogo; não uma luta de MMA. Num desses carrinhos é bem provável que ele rompa um ligamento, um tendão, fique assustado com a ideia de estar por meses afastado do seu esporte favorito.

Até que acontece.

Há alguns jogadores que saem chorando; há outros que vão para cima do adversário e batem nele, perdendo a razão; há uns poucos que tem a sorte de pedirem para sair antes que o pior aconteça. E há aqueles que fingem que não estão com dor e apenas continuam jogando porque é melhor se focar em não perder do que pensar nos machucados que uma partida já perdida pode oferecer.

Essa história não é sobre futebol. Nem sobre jogadores. Na verdade, não tem nada a ver com isso. Você deve estar se perguntando porque eu fiz essa comparação, então. É que eu sou assim. Minha mãe diz que eu não tenho jeito, porque vejo futebol em tudo. Mas é ela que não entendeu nadinha – como é o que acontece com a maioria dos adultos.

Essa é uma história sobre feridas e cicatrizes, dessas que nenhuma maquiagem cara pode cobrir. É sobre quedas e rompimentos e, às vezes, sobre a necessidade vital de apenas continuar porque parar pode ser ainda pior. Não é exatamente uma história bonita, feliz ou de amor. Mas sobre recomeços, novas chances, e feridas profundas que temos que aprender a lidar, por mais que tudo o que queremos é escondê-las por baixo de nossa pele.

E eu adoraria contar essa história para você.


EM BREVE

Feridas Profundas (HIATO)Onde histórias criam vida. Descubra agora