O Reencontro - Legend

June

Day está começando a se lembrar, depois de dez anos. Sem saber quem era, apenas com uma vaga memória e como "Representante da República" agora se lembra de mim, ou está começando a lembrar. É estranho, tinha medo de qual seria sua reação se soubesse que havia lhe causado tanto sofrimento.
- Como assim, Tess? - perguntei.
- Não sei muitos detalhes, falei com ele hoje de manhã apenas - disse ela num tom calmo. - Parece que ele bateu a cabeça em alguma coisa antes de dormir.
- E aí? -perguntei curiosa, ansiosa para poder ouvir a história e seus mínimos detalhes, mas seria impossível.
- É tudo que sei, June. - Respondeu, estilhaçando todas as minhas esperanças. - Day não me contou muito, ele teve que levar Éden ao primeiro dia no trabalho e depois resolver alguns documentos dele.
- Obrigada! - digo logo em seguida, pelo menos ela veio até aqui me avisar, não ficaria sabendo tão cedo se não fosse por Tess. - Sabe do que ele se lembrou exatamente?
- Sim! - respondeu ela mais animada. - Prepare o coração, não quero ter que levá-la ao hospital se sofrer um ataque cardíaco.
- Diga logo, Tess. Estou ficando curiosa.
- O Day - ela parou - se lembrou...- para novamente - de...- fazendo suspense, ela finalmente conclui - DE VOCÊ.
Espera. Eu havia escutado certo? Depois de dez anos vivendo em mundos tão diferentes essa seria a possibilidade para um recomeço?
Não soube ao certo como reagir com aquela notícia, ele havia se lembrado de mim, depois de tanto tempo.
- Você ... sabe do que ele se lembrou? -me ouvir dizer.
- Sim. Do momento em que você o ajudou a fugir da prisão da República.
Eu congelo.
Não sei quanto tempo fico olhando para a parede.
O dia em que seu irmão morreu para salvá-lo, ele se lembrou do sofrimento que o causei, havia evitado isso há anos desde que ele acordou, e agora ele se lembra. Não tenho reação.
Não posso ver Day tão cedo, não posso me envolver com ele, irei lhe causar sofrimento, isso é tudo que faço na sua vida.
Ele sofrerá por minha culpa novamente.
- June - disse Tess num tom alterado-, você está me ouvindo? 

- E-eu ... es-estou.

- Está? Você ficou simplesmente olhando para a parede por meia hora enquanto eu falava, nem se quer me respondeu.
- E-ele.. se lembrou.
- Sim, June - disse ela já mais calma. - De você.
- Do sofrimento que eu o causei.
- Não pense assim, June.
- Mas é a verdade, Tess. - Me ouço dizer, mas não tenho certeza de como aquelas palavras saíram da minha boca. - Se não o tivesse perseguido, sua família ainda estaria viva.
- Mas Éden não está morto, graças a você ele está vivo - disse ela, se aproximando de mim. - A culpa de tudo não é sua. Não se torture a esse ponto.
- Tu-tudo bem.
- Quando irá ligar para ele?
- Ligar?
- É, June, vocês precisam conversar.
- Não tão cedo assim.
- Entendi, você vai ficar evitando ele.
- Evitando?
- Pelo amor de Deus, pare de repetir tudo que falo!
- Des-desculpe.
- Você está chocada, já sei.
Talvez chocada não fosse a palavra certa, e sim desesperada, como se ele fosse me odiar, já não bastava ter sofrido todos esses anos com a ausência de Day. Agora ele se lembrava que seu irmão havia morrido por minha causa. Se nunca tivesse o perseguido, toda sua família estaria junta. E viva.

- JUNE!
- Não precisa gritar Tess. Só estou pensando.
- Tenho medo desses pensamentos, por favor - pediu ela, mas sua voz saiu num tom de sussurro -, pare de se torturar, sei o quanto você sofreu com a ausência dele. E agora ele está começando a se lembrar de tudo, ele tem o direito e você sabe disso.

- Eu sei, mas não tenho certeza se estou preparada para que ele se lembre de todo sofrimento que lhe causei.

- Nada foi culpa sua, June. - disse Tess, calmamente - mas você precisa saber que mesmo que não se lembre totalmente, ele sentiu sua falta. Mais do que você pode imaginar.
- Eu sei!
Ela se levantou da poltrona e começou a andar em direção a porta, sabia que ela tinha vindo apenas para me dar a notícia, e agora iria embora me deixando completamente confusa com meus próprios pensamentos. Uma coisa eu tinha certeza: eu sentia falta dele. Não apenas dele comigo romanticamente, mas dele como aliado, amigo. Uma pessoa que poderia confiar, contar quando as coisas estavam estranhas. E havia perdido isso.
- Tenho mesmo que ir agora, June - disse ela, me despertando dos meus pensamentos. - Por favor, não se torture. Ele não iria querer que se culpasse tanto por tudo.
- Você fala como se ele estivesse morto, Tess. - Caminhamos até a porta.

- Fique bem. - Tess diz.

- Obrigada por ter vindo - digo, a abraçando. - Obrigada por estar comigo desde que ele saiu da Republica.
- Não precisa agradecer, você é a unica que me entende.

E foi a última coisa que me disse antes de sair, estava grata de certa forma por ter me avisado, mas ainda não sabia ao certo o que esperar, não sabia se ligava para ele, ou se esperava ele aparecer aqui para falar comigo. Tudo o que queria no momento era uma boa noite de sono, estava cansada e o trabalho não iria parar porque Day começou a se lembrar da memória que havia perdido. Mesmo sem sono nenhum iria me obrigar a dormir e ter uma boa noite de sono.