Capítulo 1 - Parte II

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Na nossa primeira noite juntos para valer, a iniciativa foi dela. Eu não queria forçá-la a nada, até porque eu também não era nenhum sedutor experiente. Já tinha ido para a cama com algumas (poucas) garotas, mas não tocava no assunto intimidade e ela me pegou de surpresa.

Estávamos completando um mês juntos e rolavam uns amassos com direito àqueles rubores de face e respiração entrecortada que, para mim, já eram o sinal de que estava na hora de parar. Pensava na família dela, na minha, em todo o tempo que nos conhecíamos e sempre cortava a coisa toda na melhor parte com a mesma frase:

— Já está tarde, Mel. Se continuarmos assim vamos fazer algo antes do momento certo e eu entendo que tem que ser especial para você.

Isto era o que eu pensava...

Certo dia, cheguei em casa no fim da tarde e tinha um bilhete debaixo da luminária da minha cômoda, o primeiro lugar em que parava, para deixar as chaves, assim que pisava em casa:

"Quando chegar passa para me ver. Meus pais foram a um casamento na cidade vizinha e só devem voltar bem mais tarde. A chave está na caixa de correspondência. Não estou a fim de ficar sozinha e tenho algo que acho que você pode gostar de ler! Mel".

Tomei um banho rápido e meu coração se encheu ainda mais de afeição. Vez ou outra ela me abordava com algum texto de William James ou de Sigmund Freud, e nada mais passou na minha cabeça além da ideia de que ela queria me surpreender com alguma maravilha do meu mais novo universo.

Corri para a casa dela ainda de cabelos molhados e com a camiseta pendurada no ombro. Peguei a chave, olhando ao redor para ver se alguém estava observando. Quando meti a chave na fechadura e abri a porta, fiquei paralisado. A luz se resumia a uma penumbra e o cheiro era bom, lembrando-me a plantação de alecrins na fazenda dos meus avós. O clima era bastante estimulante e percebi o que estava acontecendo. Ela havia armado tudo aquilo para ser a nossa "primeira noite especial". E estava encantadora.

Ela caminhou sensualmente em minha direção. Vestia uma camisola fina de seda preta, as pernas à mostra e os cabelos presos num rabo de cavalo alto. Eu adorava quando ela prendia os cabelos daquele jeito. Ela ficava com o pescoço exposto e eu a beijava com ainda mais dedicação, passando a língua e explorando cada pedacinho, desde a nuca até atrás das orelhas.

Ela me tirou do meu devaneio com um beijo e me levou para o quarto dela. Subi as escadas com as pernas cambaleantes, tendo a certeza do que estava prestes a acontecer. Ela rebolava na minha frente enquanto subia e a impressão que eu tinha era que os cabelos dela faziam cócegas nos seus ombros quando passavam de um lado a outro. Ela tinha colocado vários edredons empilhados no chão, transformando-os em uma cama grande e macia, e pediu que eu me deitasse. Puxei-a de assalto e ela fez um sinal de "pare" com a mão, imponente:

— Te convidei para vir aqui porque queria ler algo para você e nada irá me impedir!

Fiquei atordoado.

— Melissa, como você espera que eu me concentre com todo este clima? Com você vestida desse jeito?

Ela fez de conta que não estava me ouvindo e foi até a cama dela. Pegou um caderno debaixo do travesseiro e sentou-se ao meu lado.

— , será que dá para você se sentar e ficar encostado na cama? É que não quero me desconcentrar caso você decida me tocar antes de eu terminar de ler o meu sonho para você.

"Que porra é essa? Ela me chama no quarto dela para me contar um sonho?", pensei. Fui dizendo:

— Mel, meu bem... Eu não tenho o menor conhecimento sobre esse lance de interpretação de sonhos. Se quiser, depois até posso pesquisar com você na internet ou consultar algum professor.

O quarto do sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora