Capítulo 6

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2º dia, sábado.

Não tinha muitas malas e nenhum móvel. Naquela mesma noite preparei a minha mudança, tomei uma única cerveja, o que era raro, com a turma da república e desejei partir cedo para minha nova vida.

Passei mais uma noite maldormida e aproveitei para mandar um e-mail para meus pais contando as novidades. Obviamente, omiti detalhes, como o fato de estar dividindo o apartamento com uma mulher, de ela ser estonteantemente linda e de me fazer perder a cabeça com curiosa frequência.

Cheguei em Bel Air às 10h e fui cumprimentado cordialmente pelo porteiro do prédio.

— Bom dia, dr. Gabe! Seja bem-vindo! Se precisar de algo é só usar o interfone. Meu nome é James e estou aqui para servi-lo.

Nossa! Eu nem me apresentara e ele já sabia quem eu era. Ajudou-me com as malas e se retirou com o elevador assim que chegamos ao 9º andar.

Apertei a campainha e aguardei. Quando ia apertar pela segunda vez, abriram a porta e lá estava a Rosa. Quer dizer, deduzi que fosse ela. Uma senhora meio gordinha, de pele morena e notoriamente, não somente pelo sotaque, mexicana.

— Bom dia, dr. Gabe. A Claire ainda está dormindo. Ela chegou agora há pouco e deve descansar o dia inteiro.

Ela misturava um pouco do inglês com o espanhol, o que não seria problema algum para mim. Estava achando ótimo poder falar em outro idioma além do inglês.

Agradeci e ela me acompanhou até o quarto. Simpatizei-me com aquela mulher automaticamente. Percebi que tinha personalidade forte e que levava o trabalho dela muito a sério. Dois pontos para a Rosa.

— O senhor gostaria que eu o ajudasse a guardar as suas roupas nos armários?

— Sim, Rosa. Muito obrigado.

Bati o braço no dela sem querer e me desculpei imediatamente.

— A Claire comentou que o senhor costuma pedir desculpas com certa frequência.

— Ela comentou isso de mim? E o que mais ela comentou?

— Que o senhor é brasileiro e que eu estou proibida de falar em espanhol para que ela possa fazer parte das conversas.

Tive vontade de rir. Comportamento natural de alguém carente e que não suporta sentir-se excluída.

— Tudo bem, Rosa. Podemos falar em espanhol quando a Claire não estiver em casa. Será o nosso segredo. E outra coisa: se você a chama de Claire, por favor, me chame de Gabe ou Gabriel, como preferir.

— Sim, senhor Gabriel.

— Obrigado.

— Posso ajudá-lo em mais alguma coisa? Gostaria de comer algo?

— Não, Rosa. Obrigado! Vou arrumar os meus livros e depois dar uma volta pelo bairro. Preciso encontrar algo para dar a este quarto um toque meu.

— Com licença, senhor. Se precisar é só chamar.

E ela saiu do quarto encostando a porta. Gostei daquela mulher de imediato e percebi que não ia demorar muito para me sentir em casa.

Depois de caminhar sem direção e adentrar algumas galerias, estava carregado de sacolas com badulaques e peças de decoração. Consegui encomendar também uma pequena estante, que caberia perfeitamente no quarto e na qual eu conseguiria organizar minha pequena biblioteca. Comprei uma lembrança como forma de agradecimento a Claire por ela ter me aceitado na casa dela: uma cesta com os mais diversos sais e espumas de banho para ela pôr em sua banheira.

O quarto do sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora