1º dia, sexta-feira.
Tomei um banho e experimentei quatro camisas diferentes até decidir ir com a primeira que havia escolhido. Queria transmitir confiança e tive receio de que ao explicar que era um brasileiro sem nenhuma recomendação ela me botasse pela porta da rua para fora. O perfume de sempre (que preocupação era esta?) e me olhei no espelho. Agradei-me com o que vi e dei um sorriso tímido. Percebi que, apesar de jovem, já tinha marcas de expressão, que me faziam parecer ser bem mais velho. Achei que poderia ser um ponto positivo ela me encarar como mais reservado, um cara mais vivido e centrado. Vivido? Eu?
Peguei um táxi e fui ao encontro de Claire. Ela havia marcado em um café, na esquina de uma rua, e deduzi que fosse perto do apartamento. Lógico! Quem, em sã consciência, ia marcar um primeiro encontro no lugar em que mora sem saber a procedência do seu convidado? Ou, melhor falando, como assim primeiro encontro? Eu não estava normal, com toda certeza.
Sentei-me à uma mesinha do lado de fora do estabelecimento e fiquei encantado com o bairro. Eu não tinha ideia de que fosse tão bacana, com bares, lojinhas e gente caminhando pelas ruas, com muita maquiagem e seus pequenos cães de colo. Acho até que vi uns dois ou três astros de Hollywood passando de carro... Fiquei entretido com a vista e fui pego de surpresa quando uma mulher pôs a mão em meu braço. O toque me era tão familiar que tive até a impressão de sentir o cheiro de camomila dos cabelos da Mel. Fui tirado do devaneio:
— Gabe, é você?
Respondi meio atordoado e ao levantar de supetão derramei o café na mesa, sujando a camisa e um pouco o vestido azul céu que a Claire usava. "Ótima apresentação, Gabriel", eu pensei. "Para quem queria deixar uma excelente primeira impressão, acho que está começando com os dois pés esquerdos".
Ela sorriu um sorriso imenso e fiquei embevecido com toda aquela claridade. Ela não era só uma bela mulher. Ela tinha luz própria. Longos cabelos coloridos e um corpo esguio, porém cheio de curvas. Como diríamos em bom português: "Um corpo de parar o trânsito". Apertei a mão dela, cumprimentei-a como fazemos no Brasil e me atrapalhei com os beijinhos nas bochechas. Desisti.
Ela não só sorria... Ela gargalhava. E aquele som invadia os meus ouvidos, fazendo-me corar. Pedi desculpas algumas vezes e ela segurou a minha mão a fim de me tranquilizar, dizendo:
— Já gostei de você! Também sou distraída e bem sei como me colocar em situações embaraçosas.
Quis me explicar e dizer que ela estava equivocada, que, pelo contrário, não sou distraído e que jamais me colocaria em uma posição de trapalhão. Mas não deu...
Ela já estava pagando a MINHA conta e dizendo:
— Vamos para o nosso apartamento. Você precisa limpar a sua camisa e eu vou trocar este vestido.
Não discuti. Não consegui ao menos perguntar o que a havia feito mudar de ideia. Quando percebi já estávamos entrando no elevador de um prédio bastante agradável, situado no meio da avenida onde ficava o café. Excelente localização (como se eu tivesse assimilado o quanto andamos de lá até o prédio... Sorri por dentro).
— O prédio tem academia de ginástica, uma piscina no terraço e um pequeno restaurante no mezanino que vive fechado.
Ela abriu a porta e não posso negar que fiquei impressionado com a decoração logo na sala. As paredes, os móveis, tudo branco e todas as peças de decoração coloridas, mas com extremo bom gosto. Imaginei que ela fosse decoradora de interiores ou algo ligado à área. O apartamento estava impecavelmente limpo. Ela me tirou dos pensamentos:
— Você tem certeza de que vai ficar parado na porta? Tem muito mais aqui dentro para ser visto e acho que vai gostar.
Entrei com um ar desconfiado e falei:
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O quarto do sonho
Romance(Degustação) Conteúdo adulto. Para ter acesso aos capítulos você precisa me seguir e adicionar a obra à sua biblioteca!! 1º volume da trilogia "Entre Quatro Paredes" Lançado pelo selo Talentos da Literatura Brasileira - Novo Século O livro está disp...