Prólogo

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          Lá estava eu, no meio da multidão, em meio a uma festa enorme, usando meu jeans surrado, uma blusa velha e um casaco mais velho ainda. Me senti uma indigente no meio daquela gente toda. Ninguém iria me notar. Quem que iria notar uma garota como eu? Acho que ninguém iria gostar de estar ao lado de uma garota que não usa maquiagem e muito menos finge ser algo que não é, para agradar os outros.

         Fui para a barraca de pastéis e tive que esperar ser atendida ao lado do garoto mais lindo de meu colégio. Ele ficava me encarrando, me olhava de um jeito diferente. O que será que ele via refletido em mim? Apenas uma pobre, feia e estúpida? Era o que a maioria das pessoas achavam. O mal da sociedade de hoje é dar mais valor a aparência do que para o caráter. Caráter feio estraga rostinho bonito.

        As pessoas sempre me viam como uma pobre coitada, que não tinha onde cair morta... Me tratavam como se eu fosse uma indigente. Alguém invisível para a sociedade. Muita gente já me humilhou e eu deixei elas pisarem em cima de mim, fazerem o que quisessem de mim.

      Enfim, acabei ficando cerca de meia hora esperando ser atendida naquela maldita barraca, simplesmente para comprar um simples pastel. E o garoto nesse tempo todo, não parava de me olhar, seu olhar estava fixado sobre mim. O coração chega a acelerar e muito. Sinto ele saltando pela boca, respiração pesada, palavras entaladas,olhares tímidos (os meus, pelo menos). Acabo me afastando da barraca e vou rumo a um parquinho que situa dentre o espaço da festa. Me sento em um balanço. Me sinto ainda mais solitária, somente eu estava naquele parque. Sozinha, seguindo o meu destino. Mas de repente avisto o mesmo garoto da barraca, lá rodeado de pessoas, conversando, rindo com eles, ouço as risadas de longe, risadas escandalosas, algumas fofa. Mas quem era aquele garoto, na verdade? Eu mal sabia o nome dele e ele não devia saber quem eu sou.

      Todos o chamam de Mon,mas acho que é só um apelido mesmo. Nunca tive interesse em conversar com ele, para mim ele não passava de um playboy metido, grosso e mal educado. Eu não suportava nem olhar para a cara dele, literalmente. Ele mexia muito com o coração das outras garotas,mas com o meu, em particular, nunca tinha mexido, até esse dia... Nesse dia comecei a olhar pra ele de um jeito totalmente diferente... De um jeito totalmente novo, solene, sem nenhuma perversidade ou ressentimento. Talvez totalmente diferente, mas ainda achava ele um mesquinho. Odeio gente que se acha superior a todo mundo, para mim ninguém é melhor ou pior que ninguém. Somos todos iguais, mas a mediocridade não deixa o resto pensar como eu penso.

       Afinal, quem pensaria como eu? Uma garota solitária, estranha, que é o oposto do que é aceito na sociedade, hoje em dia? As vezes sinto como se ninguém gostasse de mim. Muitas pessoas acabaram se afastando de mim, me magoaram, eu magoei muita gente também. Acho que a vida é muito curta para ficarmos nos lamentando sobre coisas que fizemos ou deixamos de fazer... Nos culparmos por isso não irá fazer o tempo voltar e só perderemos tempo com essas bobagens.

      Mudanças são necessárias, na maioria das vezes, ninguém é o mesmo para sempre. Nem mesmo os amores são. Eternos são os momentos que ficam cravados da nossa mente, que mexem com a gente de um jeito encantador. Lembranças são eternas, momentos não. Existem momentos inesquecíveis que marcam a vida da gente, de um jeito ruim ou bom, péssimo ou espetacular. Existem pessoas que marcam a nossa história, o nosso trajeto, a nossa passagem pela vida. Aprendemos a saber em quem confiar ou não. Aprendemos que a mentira não leva a nada! A verdade pode até doer, mas é mais justa que a mentira.

      Se apaixonar não é algo ruim, o ruim é não ser correspondido. Tenho muito medo de falar sobre meus sentimentos. As pessoas simplesmente não ligam pros sentimentos dos outros, outros fingem se importar para descobrirem seus pontos fracos e te destruírem, pouco a pouco. Começam a te tratar como se você um nada. Como se nunca tivesse tido algum laço entre vocês. Pessoas mentem. Pessoas decepcionam. Pessoas nos julgam por tudo e qualquer motivo, desde uma besteira até algo bem mais importante. Mas esquecem de nos valorizar pelo caráter e não pelas roupas de marca, beleza, status social, manias. E você começa a ter medo de viver em sociedade e se isola de tudo e de todos. E como refúgio, escrevo. Escrever me acalma... Tenho muita dificuldade em me socializar com as pessoas. Acabo tendo um certo receio em me aproximar delas e logo depois de algum tempo elas me abandonarem e eu ser a única a sofrer nessa história. Raramente encontro pessoas com os mesmos gostos que os meus, imagina que maravilhoso seria encontrar a sua alma gêmea? A sua cara metade...A minha, acredito eu, que nunca irei encontrar. Sou uma pessoa muito perfeccionista, não me contento com o bom, prefiro o espetacular. Raramente existem pessoas espetaculares, raramente existem pessoas que não possuem defeitos, que nunca se magoaram, que nunca magoaram alguém.

      Um dia após o outro apenas existindo ao invés de viver, do que irá adiantar? Se achar superior a todos,o que irá mudar? Viagens a se fazer, uma vida inteira para se amar e estar perto de pessoas que você gosta de ter por perto. Amizades eternas, outras passageiras.

      Meu único erro foi confiar demais nas pessoas. Pessoas mentem para se sobressaírem na frente das outras. Possuem um pensamento maquiavélico, fazem de tudo para conquistarem o poder absoluto. Mesmo que seja passando por cima de tudo e de todos. A ganância muda o ser humano e acredite, pra pior. Pessoas acabam se tornando seres cada vez mais desprezíveis... O mundo ao invés de progredir só regressa. Principalmente em relação ao preconceito, que é algo primordial, talvez ele sempre irá existir, infelizmente. Saber aceitar o próximo é questão de tempo, mas a maioria prefere agir com hipocrisia ao invés de aceitar o diferente. E os "diferentes" acabam sendo excluídos e humilhados pelos demais. Eu sou a diferente e sofri muito com o preconceito e tive que aprender a parar de me preocupar com a opinião dos demais.

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