III

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A minha rotina era sempre a mesma. Estudar já fazia parte de mim. Estudava para esquecer dos meus problemas e inclusive, dos meus sentimentos. 
A aula acabou e Rachel e eu, nos despedimos. Eu passava o dia todo na escola, então me dirigi a cantina e fui almoçar, sozinha, como sempre. Até que em um certo momento um vulto apareceu entrando pela porta, era o Mon. Fiquei pasmada e perplexa. Meu coração acelerava, evitava encarar o Mon, mas era meio que impossível. Nossos olhares foram se cruzando e desviando, repetidas vezes.
Mon foi se servir e quando foi se sentar, parou na frente da mesa em que eu estava sentada e me perguntou :
—Posso me sentar aqui?
— Claro . — Respondi meio que baixo, toda envergonhada.
Almoçamos em meio a um silêncio constrangedor. Não queria incomoda - lo e muito menos parecer intrometida.
O horário do almoço passou e me dirigi a biblioteca, como de costume e fui procurar um novo livro, para ler. Peguei um e me sentei num canto, tentava me concentrar na leitura, mas não dava, me vinha na memória o que aconteceu no almoço. Reli várias vezes o mesmo parágrafo por causa disso.
Lembranças eclodiram em minha mente, me veio na memória, o dia em que Mon parou na minha frente, na frente do portão e ficou parado na minha frente, parecia que queria falar algo, mas não saia. Me lembrei da primeira vez em que ele olhou para mim, na barraca de pastéis. A conversa que sem querer ouvi dele com a melhor amiga...
A tarde passou rápido, me direcionei para sair da biblioteca, mas acabei esbarrando em um garoto,era o Mon. Fiquei toda sem jeito,mas pedi desculpas e fui as pressas pegar o ônibus, para ir para casa e descansar.
Já em casa, joguei minha mochila na cama e fui tomar um bom banho. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, pensamentos em minha mente vinham a tona. E ia cada vez mais me perdendo neles. Aqueles poucos momentos que tive com ele,invadiam a minha mente. Era tudo realidade ou apenas fruto de minha imaginação?
Terminei meu banho, me vesti e me dirigi até a sala,como de costume.
Meu pai estava sentado na minha frente, então resolvi perguntar ao meu pai se ele havia se apaixonado na minha idade e me aproveitando desse assunto, decidi contar a ele o que estava acontecendo. Confiava muito em meu pai, ele,apesar de muitas vezes ser duro, era a pessoa que eu mais confiava, depois de Rachel, é claro.
Meu pai ficou boquiaberto, pasmado, ele me olhava confuso, até que então, me perguntou :
—Claro. E você? Acha que está gostando dele pra valer ou acha que é apenas uma paixão passageira?

— Eu não faço a menor ideia do que estou sentindo, só sei que é a primeira vez que alguém mexe desse jeito comigo. Eu estou muito confusa. —Respondi.
—Um dia você irá descobrir se isso é amor de verdade ou não. Amor é algo que permanece. Mas, você não acha que é muito nova pra ficar pensando em namorar? — Perguntou meu pai.
—Agora sim, tenho outros planos. Acho que estudar é mais importante do que namorar. Ele pode muito bem só estar tentando fazer um "joguinho" comigo, mas isdo, só o tempo dirá. Seria muito estranho, alguém como ele, gostar de alguém como eu. —Respondi.
A conversa continuou por muito tempo, até que o sono bateu e me lembrei da escola, no dia seguinte.
Acordei pela manhã, não muito disposta e ainda desejando poder dormir novamente na minha cama quentinha, mas fazer o que, compromissos a parte,uma rotina a cumprir.
Tomei meu café e fui logo esperar o ônibus , o dia estava nublado, porém lindo. Fiz o mesmo trajeto de sempre, as mesmas coisas que eu fazia no colégio, todo santo dia, aquela rotina monótona,que chegava a enjoar.
Meses se passaram e o fim das aulas se aproximava, alegria para uns,tristeza para outros,que iriam precisar fazer as provas finais.
Isso não era algo que eu deveria me preocupar,normalmente.
Enquanto os outros tinham que ficar para a revisão,eu ficava na biblioteca, como sempre.  Aquela biblioteca que as vezes me dava uma sensação de  conforto , mas outras,me fazia sentir arrepios.
Eu estava em uma fase de mudanças, mas só agora havia notado.  Eu tinha amadurecido cedo demais?  Ou as outras pessoas estavam amadurecendo tarde demais?  Eu estava confusa, sentimentos borbulham em meu peito, eu havia realmente mudado. Mas não sabia se isso era algo bom ou ruim.  Principalmente pela parte do primeiro amor,que poderá ou não ser correspondido. Mas o que uma garota tola como eu entende sobre o amor? Absolutamente nada. Se isso realmente for amor e não apenas uma "paixonite" qualquer.
Estudar sempre foi meu foco,principalmente pelo fato de estudar garantir algum futuro digno. Eu via alunos andando e andando a minha frente, durante anos, mas acho que sempre fui invisível, ninguém me notava, ninguém me conhecia e isso doía em mim. Eu via garotas populares e queria ser como elas, mas eu não passava de uma CDF miserável,invisível para garotos bonitos, invisível para o mundo, as vezes, até para mim. Eu nunca seria popular por ser bonita,muito menos desejada por garotos. Eles me viam como uma idiota com a cara enfiada nos livros.
E esse amor que parece que o Mon sente por mim? Será que é algo real ou algo da minha mente?
Se fosse real, acho que não daríamos certo, éramos muito diferentes, vivíamos em mundos completamente distintos, realidades paralelas. Do mesmo jeito que duas linhas paralelas nunca se encontram,ele e eu também não daríamos certo. Então pra que se iludir desse jeito?  Eu realmente preciso tentar esquece - lo. É o melhor a se fazer,melhor do que continuar me iludindo com coisas praticamente impossíveis. Água e óleo não se misturam, assim como nós. Então pra que continuar deixando esse tipo de sentimento vivo dentro de mim?  E ainda por cima alimenta - lo?
As férias começaram,mas como sempre, era algo chato para mim, não tinha nada que eu gostasse de fazer nas férias além de ler, dormir e estudar. Eu era um pouco estranha quanto a isso.  Na verdade, meu todo é esquisito, uma estranha no planeta, com um futuro incerto.
Durante o recesso acabei indo várias vezes na casa de Rachel e vice-versa. Eu desabafava com ela tudo o que eu estava em relação a Mon. Eu tinha jurado esquecer dele,mas era impossível. Sempre estava na minha cabeça.

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