IX

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  — Hey Mah— Disse Scott, enquanto entrava em meu quarto.

— Oi, Scott, quanto tempo hein, faz anos que não nos vemos, andou por onde?—Perguntei.

— Por aí sabe, sou um pássaro livre.—Brinca Scott.— Você não me parece muito bem, aconteceu algo?

— Nada demais.—Respondo com um pouco de receio.

— Olha, posso não ser a melhor pessoa pra isso, mas se quiser desabafar, estou a todo ouvidos. Não sou bom com conselhos, mas sou um ótimo ouvinte.— Falou Scott.

— Prefiro não falar sobre, ok?— Disse eu.

— Então vamos dar uma volta por aí? Pela cidade?— Perguntou Scott.

— Não sei se meu pai deixaria.— Respondi.

— Já falei antes com ele e ele permitiu, então, sem problemas. Eu não mordo.— Disse Scott.

— Já que não tem outro jeito, então vamos.— Falei fazendo uma carinha meio triste, brincando.

E assim saímos e fomos para o centro da cidade, para passar o tempo, de uma maneira totalmente diferente da que eu estava acostumada, com a cara enfiada nos livros ou com o Mon, para ensaiar para a aula de música ou até para jogar conversa fora.

Foi algo totalmente diferente do que eu estava acostumada, Scott estava me mostrando as coisas boas da vida, novamente. Eu me sentia viva novamente. Talvez até mais humana. Não era mais robozinho que ficava de cara nos livros. Eu havia mudado. Pouco a pouco eu estava me desconstruindo. Desconstruindo pré-conceitos. Mudando meu jeito de agir e de pensar. Pessoas inteligentes não ficam na mesmice. Muito menos tendo uma opinião pra sempre. Opiniões são coisas maleáveis e que podem ser facilmente mudadas. Repensadas quantas vezes forem necessárias. Seres questionados estão em falta, infelizmente. As pessoas cada vez mais alienadas e eu não poderia me tornar mais um robozinho alienado na sociedade. Eu queria mudar o mundo. Revolucionar com ideias.

 Tive muita dificuldade em lembrar quando tinha sido a última vez que eu havia estado feliz por mais do que alguns segundos, em minha vida, era algo novo e era muito bom, era maravilhoso ter amigos com pra contar(embora eu sempre tivesse Rachel, como uma das minhas alegrias), mas no sentido de fazer coisas além de só estudar e estudar. Sair um pouco da rotina, sair mais ainda, no caso, já que eu ainda me encontrava com Mon para ensaiar algumas músicas e jogar conversa fora, inclusive. Meus sentimentos por eles estavam cada vez mais fortalecidos, mas eu tinha medo de acabar fazendo algo e a amizade acabasse, por ali mesmo. Eu tinha medo de perdê-lo, embora nunca tivesse tido ele, pra mim. 

Muitas vezes o vazio existencial batia e forte, me pegava inúmeras vezes pensando demais no futuro e deixando de viver o presente, eu deveria mudar isso, mas como? Acabou se tornando um vício passar no mínimo meia hora antes de dormir, planejando meu futuro, mesmo que incerto, ao lado de Mon e as vezes eu chorava até dormir por lembrar que provavelmente esse amor nunca aconteceria e se aconteceria, provavelmente não dariamos certo, poie éramos muito diferentes um do outro, ele tinha todas as garotas aos seus pés, então por quê ele me escolheria? Não havia nada que me tornasse de certa maneira, mais interessante que as demais garotas. Elas tinham algo que eu não tinha, carisma, beleza, enquanto eu, era apenas o oposto de tudo isso. 

Eu precisava parar de me martirizar, mas era algo totalmente impossível, fora do alcance e isso não fazia bem, de jeito nenhum, só me deixava cada vez pior, cada vez mais paranoica, a vontade de sumir estava cada vez masi visível, eu não aguentava mais isso, não aguentava mais não ter resultados positivos na minha vida. 

Meu relacionamento com minha madrasta estava cada vez pior, já estava prevendo que ela logo mais me expulsaria de casa, ela não aceitava que eu quiria continuar estudando para tentar ter um futuro melhor, ela achava um absurdo mulheres estudando ou até mesmo mulheres independentes, conquistando o seu espaço na sociedade, sem depender de homens, sem serem mais objetos de adorno ou troféus para os maridos, sem necessariamente estar somente cuidando do lar e muito menos tendo que cuidar exclusivamente de 10 filhos, se privando de tudo, para ser a submissa do marido... Eu achava um absurdo alguém pensar assim, ainda mais num mundo tão evoluído quanto este, as vezes tenho a impressão de que o mundo evoluiu, mas as pessoas que vivem nele, não. As pessoas estão cada vez mais vazias, mais parecidas com robozinhos, sem sentimentos, sem alegrias e o mundo estava se tornando de certa forma, sem cor, em outras palavras, sem vida!

Infelizmente era segunda-feira e isso significava que eu tinha aula, eu estava sentava na escadaria da escola, sozinha, Rachel não estava bem, estava internada, tinha acabado de receber esta notícia, fiquei um tempão fitando o vazio, até que de repente alguém grita:

  — HEY MAH! Era Mon/Jev  e seus olhos estavam com um ar de brincalhões, acho que alguém havia se divertido e muito no final de semana. Até que eu me dei conta de que era a primeira vez em todos esses anos que Mon havia se direcionado a mim, assim, me cumprimentando na frente de todo mundo, sem ter vergonha disso.

  — Oi. Respondo.

— Aconteceu alguma coisa? Você parece desanimada.— Pergunta Mon.

— A Rachel está internada, é isso. Respondo.

— Ela vai ficar bem, acredite.— Respondeu Mon tentando me consolar.

— E aí o que andou aprontando? Pergunto, cortando todo aquele silêncio constrangedor.

— Nada demais, só estou compondo algumas músicas.— Responde Mon.

— E falam sobre o que?— Pergunto, curiosa.

— Na verdade é sobre amor, amor não correspondido pra ser exato. Mas acho que vou ir mudando algumas coisas nela, pra não parecer tão melancólica.— Responde Mon.

— E tem alguma inspiração?— Acabo soltando a pergunta, sem querer.

— Na verdade tem, já estou gostando dela há alguns anos, mas o medo de me declarar e tomar um fora é maior.— Responde Mon.

Eu fiquei totalmente sem reação, ele estava gostando de alguém todo esse tempo e eu apenas me iludindo, como eu era trouxa e burra, eu apenas me controlei pra não chorar, felizmente bem nessa hora o sinal para a aula toca e cada um vai para a sua classe.

Eu estava totalmente desfocada hoje, eu estava sem paciência pra nada, nem para ler uma mísera linha ou até uma palavra, com Rachel internada e no combo ainda tem o que Mon tinha acabado de me contar. No intervalo decido ficar na sala, lendo para não precisar encarrar Mon tão cedo. Eu não sabia mais como eu iria olhar ele, com os mesmos olhos. Ele falar que estava apaixonado me doeu mais que um soco no estômago.  

Enfim a aula finalmente terminou e eu planejava ir direto para o ônibus. Até que sinto alguém pegando na minha mão:

  — Você iria ir embora sem se despedir de mim?— Pergunta Mon.

— Não.— Respondo meio seca.

— Aquilo que te falei te chateou?— Perguntou.

— Na verdade não, eu já esperava isso.— Respondo.

— Tem uma coisa que não falei, a garota...— Até que corto a fala de Mon.

— Eu  realmente preciso ir Mon. Até mais.— E saio correndo pro ônibus, até que ele grita.

  — É VOCÊ A GAROTA, SEMPRE FOI! EU TE AMO MAIS DO QUE PENSEI QUE PUDESSE AMAR ALGUÉM!

E a última coisa que vi pela janela do ônibus foi Mon sorrindo e me dando tchau.

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2019 ⏰

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