Minha vida estava passando por muitas reviravoltas, ensino médio era uma loucura, ainda me sentia um peixe fora d'água, talvez isso nunca mudaria. A única coisa que mudou para melhor, foi a minha relação de amizade com Mon, que finalmente não estava mais sendo as escondidas, mas as pessoas me olhavam com pena, desprezo, uma mistura de sentimentos ruins e isso de algum modo me afetava, de forma negativa, eu não me sentia autoconfiante, o suficiente, para encarar isso ou até mesmo ignorar tantas reações não muito boas. Toda vez que eu passava pelos corredores ou até mesmo em sala de aula, ouvia sempre alguém cochichando "o que ele viu nela? ela é muito feia pra ele, deve estar usando ele, só pode, deve ser cego", "será que eles tem algo? ele merece alguém muito melhor que ela, ela parece um alien" e muitos outros comentários deste tipo e eu me controlava para não chorar ao ouvir aquilo, me doía e muito.
Eu simplesmente não conseguia não dar bola para estes comentários, infelizmente, eles me afetavam e muito, a opinião alheia sempre valeu muito para mim. E isso certamente não mudaria tão cedo, ainda mais em relação a um garoto, que agora era meu amigo, na frente de todos e não somente as escondidas, diversos boatos começaram a surgir, um mais absurdo que o outro, mas como muitas pessoas só ouviam e não raciocinavam ou sequer suspeitavam que seria apenas uma mentira contada, passavam adiante e ainda com mais informações e com isso, eu estava indo de uma desconhecida, a invisível pra uma completa doida varrida, que estava namorando um cara que era muito pra ela e que ele merecia alguém muito melhor.
Eu estava tentando seguir minha vida normalmente, até que num dia eu acabei chamando a atenção de umas garotas e pior, eu estava sozinha, sem ninguém para me acompanhar, eu estava tentando passar, até que uma delas soltou um:
— Ora, ora se não é a namoradinha do pegador metido a galã. Parece que não se enxerga, ele tá com você por pena garota, ninguém com o juízo perfeito ficaria com uma garota tão sem sal como você, sem falar que olha só essa sua pele, horrorosa, toda cheia de espinhas, sem falar nessa sobrancelha de taturana, e o nariz enorme, nem se fala. Você não tem outra roupa não garota? Deve estar casada com ela. Deve se achar o máximo sendo usada, pena que logo mais vai ser chutada, como um cão sarnento.
Eu apenas fiquei em silêncio, não sabia como reagir, só queria sumir, sumir do mundo, talvez, isso me doeu muito, parecia que eu havia levado um tiro no meu peito e aquilo machucava muito, o meu interior estava completamente destruído, devastado...
Meu pensamento foi interrompido por uma das amigas da garota que havia dito aquelas palavras horríveis dirigidas a mim:
— O que foi esquisita? O gato comeu a sua língua? Além de parecer uma aberração, é surda...
Eu simplesmente segui meu caminho para casa e assim que cheguei em casa, fui correndo para o meu quarto e me joguei em minha cama, me enfiei debaixo das cobertas e chorei até não conseguir mais, ou melhor, até eu pegar no sono.
Eu só conseguia me sentir um lixo, eu estava cada vez mais no fundo do poço, minha vontade de viver estava praticamente nula, por quê as pessoas pisavam tanto em mim só por eu ser eu mesma? Sem falar que esses boatos de que eu estava namorando Mon, já estavam indo longe demais, nós éramos apenas amigos, e agora, por minha causa, a reputação dele estava sendo estragada, de alguma maneira, eu me odiava, eu me odiava simplesmente por existir, por ser uma tonta, por acreditar que minha vida melhoraria depois de não esconder mais a nossa amizade, foi literalmente a pior decisão que eu concordei na minha vida, por isso, eu havia ficado quieta, até Mon sugerir isso e eu, como sou burra, acabei aceitando e me ferrando cada vez mais.
Eu nunca imaginei que diria isso, mas daria de tudo para ser invisível de novo, para o mundo, eu me sentia totalmente desconfortável com essa minha nova vida. Tudo o que eu queria era fugir pra bem longe, pra um lugar que ninguém me conhecesse e muito menos me julgasse pelo que aparento ser, por conta do meu corpo, da minha aparência exótica, literalmente.
Me sentia completamente desnorteada, num labirinto sem começos e fins, eu estava no meio dele e sem ver uma possível saída e aquilo me assustava, me gerava insegurança, me gerava sentimentos não tão bons, mas que todo mundo sentia. Quanto mais fundo eu ia, mais perdida eu me sentia. Um frio em meu estômago surgia, junto com diversas borboletas nele.
Mon era importante pra mim, mas não mais do que a minha integridade e saúde mental, aquilo estava me consumindo e a cada dia que passava, mais difícil de suportar, eu precisava cortar o mal pela raiz, mas era tão bom falar com Mon, ele não tinha culpa de nada, eu não poderia puni-lo só para me livrar de problemas. Problemas esses que eu precisava enfrentar, mas eu não tinha força o suficiente para isso, eu precisava encontrar alguma solução para isso, sem envolver algo relacionado a romper a minha amizade com ele.
Eu precisava ser forte o suficiente para suportar tudo isso, sozinha, como sempre foi a minha vida toda, matando um dragão por dia, eu precisava por a minha máscara e fingir ser feliz, fingir que não me importava, mesmo que aquilo me destruísse por dentro, eu precisava manter a pose de "forte". Forte até ficar sozinha e desmoronar. Precisava manter as aparências, continuar a ignorar, me fortalecer cada dia mais.
Ocupar a minha cabeça com coisas diferentes, como sempre, algo que me acalmava, que me fazia ir para outro mundo, que me deixava longe de tudo e todos os problemas, eu simplesmente não poderia dar um final definitivo para problemas passageiros.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som de alguém batendo na porta e dizendo:
— Filha, acorda, tem alguém querendo te ver, é o seu velho amigo Scott!

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Um Amor Para Toda A Vida
RomansaUm amor pode mudar a sua vida, transformar a sua história. Marye é uma garota comum, introvertida e não se interessava muito em garotos, até conhecer Mon, o garoto mais popular de sua escola, que por sua vez era aparentemente frio, mesquinho... E é...