#25

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( Christopher. 2 anos atrás..)

- Amor você está bem? - pergunto discretamente a Ana que parece estar no mundo da lua - o que houve?

- Nada, meu bem. - coloca a mão sobre meu rosto. Ela esta muito estranha nos últimos dias, chora o tempo todo, não sei mais o que fazer para tentar anima-lá. Raymond até nós convidou para jantar em sua casa na tentativa de entreter-la, mas ainda sim ela continua estranha.. - Só preciso usar o banheiro.

- Então vá antes que Raymond peça para servirem a sobremesa. - ela sorri de lado. Como eu queria adivinhar o que se passa em sua mente e absorver todos seus problemas para que assim
ela possa curtir a gravidez. Estou cansado de a ver chorar pelos cantos, sinto o medo em seu corpo, o receio.. tudo nela parece uma grande confusão.

- cara, o que deu na Ana?- olho para Raymond ainda distraído. - ela parece triste.

- A gravidez sempre deixa as mulheres sentimentais meu amor. - Rosane sorri mas sei que no fundo ela também esta preocupada, Rosane sempre foi uma grande amiga tanto para mim quanto para Ana. - não vamos pertuba-lá com nossos receios.

- Tem razão. - digo em seguida. - mas temo por ela e temo por nosso filho. - olho em direção as escadas me certificando de que a mesma não esta vindo.- estou com um mal pressentimento à dias.

- Não se preocupe.. - Raymond afirma mais para ele do que para mim. - Talvez seja apenas fruto da sua mente.

- Espero que sim ..

- vamos falar de coisas boas agora - Rosane sorri - qual vai ser o sexo do bebê?

- É um menino- foi praticamente impossível conter a emoção.

- te conhecendo como eu conheço. - Raymond ri. - vai ser o tipo do pai babão!

- sei que é cedo mas não vejo a hora de ver sua reação quando ele aparecer com a namoradinha- Rosane ri puxando um trio de risos.

-meu filho será do mundo.- respondo entre risos.

Nossas risadas foram interrompidas bruscamente por um estrondo, meu corpo inteiro fica tenso. Assim que me viro em direção às escadaso o pavor me domina.

- ANA! - corro em direção ao seu corpo agora caído no chão. - aí meu Deus. você está bem?- seus olhos semi fechados me olham. - me responda por favor. - suplico em seu ouvido.

- Me desculpe.. - as falas saem de sua boca com tamanha dificuldade.

- vou chamar a ambulância. - Rosane corre em direção ao telefone.

- Não vai dar tempo. - Raymond anda de um lado para o outro procurando alguma solução.- ela caiu de barriga.. - Ele então me olha assustado.

- Meu filho! - Pego Ana no colo. Ela me olha aturdida mas não reage. - Ligue o carro!

Desajeitadamente carrego o corpo de ana até o carro e Raymond o liga apressado. Nós quase nunca damos valor ao tempo mas em siatuações como está o tempo é crucial, elê pode salvar ou matar uma vida, mas por sorte hoje é domingo o que resulta em ruas sem trânsito, assim que chegamos no hospital uma enfermeira a coloca em uma das marcas e a leva para ala de emergência. Queria entrar com ela. Ver como Ana e meu bebê estavam, mas a enfermeira não deixou. Disse que apenas os pacientes entravam na sala de exames. Então eu fiquei ali paralisado em frente à porta branca. Esperando o médico me dizer que estava tudo bem, que minha esposa e meu filho estavam bem.

Duas horas se passaram e nada. Ninguém passava por aquela maldita porta! Neste exato momento eu desabei no chão, não contendo mais as lágrimas, me entregando de bandeja ao medo.

- Ei cara.. - Raymond e Rosane se sentam ao meu lado. Naquele piso gelado.- vai dar tudo certo.

- mas e se não der? - ele me olha inseguro mas não se arrisca a dizer nada. O doutor passa pela porta, meu coração dispara. Em um pulo me levanto e vou em sua direção. - como ela está doutor?

- achei melhor deixar sua esposa em observação apesar dela aparentar estar bem, mas o bebê..- ele então abaixa o olhar. E eu instintivamente sei o que ele vai dizer, dizem que somente as mães carregam uma ligação inexplicável com seus filhos, mas naquele momento eu senti algo se apagar dentro de mim. Levando junto a minha felicidade.- Ele não resistiu.

E então olhando para trás, há poucas horas atrás.. o choque foi grande, tudo parece não fazer sentindo. Isso só pode ser um pesadelo. Logo, logo eu acordo e lá vai estar Ana, ainda grávida, ainda carregando minha pequena vida em seu ventre. Tudo isso não passa de um pesadelo!

- Eu sinto muito.

- Eu.. Posso ver minha esposa? - minha voz quase não sai.

- Claro. Ela esta na primeira sala a direita. - ele me olha triste. Não deve ser fácil dizer a alguém que seu filho morreu antes mesmo de ver a luz do dia. Deve ser horrível notificar a morte de um filho e ver qual será a relação do pai ou da mãe, mas a dor dele nunca será tão grande quanto a dor de ser o pai desta criança.- ela deve estar sonolenta pois foi medicada a pouco tempo.

- Obrigado.- vou em direção a porta. A cada passo ela parece mais distante, mas quando enfim chego percebo que no fundo eu não queria entrar, entrar ali contretizaria tudo o que houve, contretizaria a morte do meu filho. Tento imaginar em minha mente como ele seria, o sorriso do pai, os olhos da mãe, uma junção de nós dois, a obra prima do nosso amor. Ele seria perfeito, ele seria amado. É tremendamente horrível pensar que tudo não vai passar do "seria".

Quando em fim criei coragem para abrir a porta. vi Ana, o amor da minha vida. Mas algo nela estava diferente, a luz que tanto me guiou agora esta apagada, seus olhos repletos de vida agora estão opacos, ali esta uma nova Ana, e mesmo estando ali por cinco segundos eu já sentia falta da minha antiga Ana. A mulher a quem pedi a mão em noivado. E dentro de mim tudo dizia que ela nunca mais iria voltar.

- Como você está? - Sento-me na poltrona ao seu lado.

- Nosso filho.. - As lágrimas brotam em seus olhos. Ali estava, aquela era a prova de que nada disto é apenas um pesadelo. Tudo é assustadoramente real. - me desculpe.

- A culpa não foi sua, meu amor.- tento sorrir mas dentro de mim nada se esforça para isto. A dor é grande demais - foi um acidente.

- Você não entende - ela vira o rosto me impedindo de a ver. - não foi um acidente.

- você está sobre os efeitos dos remédios. - viro seu rosto com minha mão, preciso olhar em seus olhos - não sabe o que diz.

- eu estou mais do que lúcida. - seu rosto se deita suavemente sobre minha mão. - a dor nos deixa lúcidos Christopher.- olho para ela ainda confuso. não sei o que está acontecendo. - não foi um acidente..

- O que?..

O Garoto Do Sexto andar ( Em Reforma)Onde histórias criam vida. Descubra agora