#47

51.3K 3.9K 369
                                    

- bea?

- Oi, Mãe...Eu.. Bom..

Ela me olha confusa, sei que em sua cabeça estão sendo elaboradas mais de mil motivos que justifiquem a visita de uma filha que mora do outro lado da cidade as duas horas da madrugada na verdade até mesmo eu me pergunto o que vim fazer aqui.

Já se fazem anos que não venho a minha antiga casa, o balanço da varanda está ainda mais velho, mas sua imagem me conforta, como se ainda restasse algo sólido dos anos em que vivi aqui.

- Filha? - Meu pai surge ao lado de minha mãe, os dois trocam um olhar cúmplices mas é óbvio que nenhum deles fazem ideia do motivo para eu ter vindo - Entre. Eu estava preparando um chá você quer?

- obrigado.

Ao entrar vejo que muitos móveis foram trocados, as paredes agora seguem um padrão creme, e até mesmo uma clareira foi implantada na sala, sento-me na poltrona de frente ao sofá onde minha mãe senta de modo que sua atenção seja diretamente a mim.

Respiro fundo, sinto minhas mãos um pouco trêmulas, não sei o que de fato vim fazer na casa dos meus pais, mas após toda aquela confusão no hospital, lembrei de como meus pais eram ótimos em me aconselhar, e então eu peguei o primeiro táxi para cá, onde estranhamente me sinto em segurança.

- Eu.. Eu estava pensando em.. Bom não agora, quer dizer, antes, a algumas horas atrás, antes de tudo acontecer, eu só estava pensando em..

- Filha. - minha mãe apoia uma de suas mãos sobre minha perna. - respire fundo e fale de uma vez.

- Eu queria adotar uma menina, a princípio esse não era o plano, quer dizer, eu sou muito nova, como iria me sustentar?.. Mas o sorriso dela era tão mágico, quer dizer, estar com ela era mágico. Mas então ela foi levada ao orfanato, e de algum modo eu vi como meu sonho dera lugar a realidade, e nela tudo é mais difícil.. Eu só não queria vê-la crescer sem uma família para ama-la.

Longos minutos de silêncios se seguiram, neles pude ver os olhos de meus pais repleto de surpresa, mas a esse ponto já não consigo mais reconhecer se isso é bom ou ruim.

- Caraca. - meu pai diz ainda boquiaberto. - lembro que a maior surpresa que você me deu, foi quando apareceu com o cabelo cor de rosa, acho que você tinha uns quinze anos, lembro que disse a mim mesmo que nada mais poderia me deixar tão surpreso, eu realmente acreditei que você já tinha feito de tudo, mas.. Isso. Bom isso realmente me pegou desprevenido!

- Um bebê, Beatriz? - Minha mãe pergunta incrédula. - onde você colocaria um bebê? Aquele apartamento é pequeno até mesmo pra você, imagina com um bebê. Isso é loucura, filha!

- Eu sei mas..

- Mãe solteira.. - balança a cabeça freneticamente, ela costuma fazer isso quando não concorda com algo ( o que é quase sempre).- sabe o quanto é difícil criar uma criança sendo mãe solteira? sem falar no gasto, eu amo minhas filhas mas só Deus sabe o quanto já gastei com vocês! - Ela para de falar por um instante e então pergunta. - o que o Christopher acha disto?

- Não cheguei a conversar com ele sobre isso.

- ele seria capaz de largar a vida que tem pelos seus sonhos?

- Eu não sei.

- Você seria capaz de sustentar, educar e amar um criança?

- Acho que.. Não sei.

- Então você não está pronta pra ser mãe, minha filha. - Ela sorri com ternura. - Ser mãe é bem mais que sonhar, você tem que planejar tudo meticulosamente, tem que estar com a vida estável tanto financeiramente quanto emocionalmente.

-ter um filho não é só uma questão de querer. - Completa meu pai.

Suas palavras vagam pelo espaço, talvez eles tenham razão, quer dizer, com certeza eles tem razão. Vejo agora como fui infantil, está claro que não estou em condições de criar um bebê, não tenho nem mesmo um lugar para colocá-lo.

....

- Por que não me ligou? - Christopher pergunta assim que passo pela porta. - Eu teria te buscado!

- Vim de táxi. - Dou de ombros.

- por que você está me tratando assim?

- Assim como?

- Você está me desprezando desde que saímos daquele hospital.- ele se senta no sofá e cobre o rosto com as mãos. - Não é minha culpa que a garota esteja no orfanato!

- Eu disse isso em algum momento? - Ele nega com a cabeça e então continuo. - mas sim eu estou chateada com você, mas o que você quer? que eu fique feliz depois de você ter flertado com a aquela loira oxigenada na minha frente. Na minha frente, Christopher!

- Eu não estava flertando com ela. - Se defende. Um sorriso irritantemente lindo surge em seus lábios antes das suas próximas falas serem ditas. -está com ciúmes?

- "será que poderia autografar meu pescoço? "- afino minha voz para ficar parecida com a da loira, mas nem assim soa tão irritante quanto. - que droga foi aquilo?

- Eu dando um autógrafo para uma fã. Ponto. - Ele se aproxima, suas mãos se apoiam em meus ombros e então ele me olha sério. - Você é a única que eu quero, Beatriz.

- Você tem certeza? Porque não foi isso que pareceu... - sou interrompida por seus lábios que grudam nos meus. Ele segura a lateral de meu rosto com suas mãos, e então sua língua pede passagem, e mesmo irritada eu dou.

Ficamos nos beijando por mais alguns minutos, minutos estes em que todos os problemas e furias que me dominavam foram pelo ralo. E é este o efeito que Christopher tem sobre mim, ele é como um entorpecente, me faz relaxar e flutuar, porém seu defeito, ou melhor, o único efeito colateral é que ele é altamente viciante, e eu soube disso assim que senti seus lábios nos meus pela primeira vez, desde então venho lutado contra este súbito desejo dilacerante, porém ele sempre ganha e quando chega o fim do dia me sinto completamente rendida e desesperada para acabar com essa abstinência chamada Christopher.

Quando enfim nos afastamos para recuperar o fôlego ele diz:

- eu tenho certeza de que te amo. Tenho certeza de que nunca te trocaria. E tenho certeza de que quando estávamos naquele hospital tudo que eu quis fora te ver sorrir e mesmo que isso não tenha ocorrido ainda é o meu maior desejo.

Minutos de silêncio se passaram, suas palavras flutuavam pela sala.

Um sorriso nasce em meu rosto e então percebo que é a primeira vez que sorri naquela noite.

- meu desejo se realizou. - diz triunfante. - sabe, nos últimos meses em que passamos juntos descobri que seu rosto fica rosado quando está dormido, que seus olhos ganham um lindo brilho quando você está irritada, que suas bochechas ficam rosadas quando digo alguma besteira, mas quando você sorri.. Bom, quando seus lábios se abrem em volta de um sorriso meu peito palpita desesperadamente e por dentro eu rezo para que este sorriso nunca mais desapareça, e quando isso acontece eu fico triste, então me obrigo a fazer de tudo para vê-la sorrir novamente, pois só assim posso me encontrar feliz também..

Em um ato súbito e repleto de paixão eu me inclino para frente e o beijo, talvez o beijo mais apaixonado que já dei em toda minha vida, Chris parece perceber isso pois me afasta por um instante, o instante em que nosso amor era recíproco e transmitido por um único olhar.

- Bea.. - Ele cochicha. - por favor me diga o que eu posso fazer para te ver feliz.

Sua pergunta me pega de surpresa, mas era tão fácil que demorei menos de dois segundos para responde-lá.

- Apenas me ame.

- difícil seria não amar. - ele ri e então volta a me beijar.

***

Peço desculpas pela demora e também pelo capítulo curto.

Tenho andado muito ocupada, mas fiz este capítulo para não deixar a história morrer, sei que ele não ficou tão bom quanto esperavam mas como disse " tenho andado ocupada". 1018287 vezes perdão.

Deixem os seus comentários, preciso saber se estão gostando, bjao.

O Garoto Do Sexto andar ( Em Reforma)Onde histórias criam vida. Descubra agora