#39

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(Christopher..)

- Beatriz! - vou o mais rápido que consigo até seu corpo caído no chão. - Aí meu Deus, Beatriz! - afasto seus cabelos de seu rosto. Pego um de seus braços e verifico seus batimentos pelo pulso- ela apenas desmaiou - suspiro aliviado- vou colocá-la na cama.

- Eu ajudo. - Minha mãe se aproxima.

- Pode deixar - faço um gesto com as mãos para que a mesma se afaste. -Certo..

Um..
Dois..
Três...

Sinto o peso de Beatriz sobre meus braços. Um gemido sai de meus lábios, aquele desgraçado ferrou com as minhas costelas.

- filho, você mal consegue andar.

- eu consigo não se preocupe - digo entre dentes. Caminho com muita dificuldade até minha cama. A cada passo que dou meu corpo implora para que eu desista. " não desta vez!" Quando finalmente chego a cama deito Beatriz sobre ela. A ver assim é de cortar o coração. Beatriz é linda dormindo..  mas não desse jeito. Com certeza ela desmaiou por conta do nervosismo, Henry a ameaçou.. Ele a ameaçou! Eu queria soca-lo agora mesmo. Covarde.

Viro-me e então fragmentos da discussão me vem a cabeça como uma martelada:

" - eu tirei de você a mesma coisa que tirou de mim.." - seus olhos repletos de nojo e fúria.

- Do que está falando? - pergunto confuso. Mas o que eu poderia ter feito de tão ruim para merecer perder minha esposa, meu filho, Minha família.. O que justificaria o fato de meu pai ser um monstro? - O que eu tirei de você? O que eu fiz para ser tão odiado pelo meu próprio Pai?

- Minha filha - grita."..
..

- filho, você está bem? - apoia suas mãos em meu rosto.

- Antes de sair Henry disse que eu tirei a filha dele - vejo Beth desviar seus olhos dos meus.  - o que você sabe sobre isso?

- Tem coisas que devem ficar no passado. - se vira de costas.

- Mãe.. - Me aproximo mas ela se afasta - Mãe eu quero que você me conte o que está acontecendo. Que filha é essa a quem Henry mencionou? Pelo que eu saiba sou filho único.

- mas não era.. - ela se vira novamente. Seus olhos estão vermelhos e inchados.

- Do que a senhora está falando? - uma dor profunda invade meu peito.

Não faço a mínima ideia de quem seja essa tal filha, nem mesmo sabia da existência dela a horas atrás, mas um pressentimento ruim se apossou de mim. É como se algo estivesse prestes a acordar. Algo que não traria nada além de tristezas.

- Você era apenas um bebê - sorri fraco - a culpa não foi sua.

- Eu.. O que eu fiz? - uma repentina tontura me faz cair sobre a cama e eu fico Sem conseguir levantar. Quando fecho os olhos uma lembrança me vem a cabeça, mas ela está distorcida, tudo que vejo é uma garotinha, mas seu rosto é apenas um borrão.

- Antes de você nascer .. Antes mesmo de me casar com seu pai - ela fecha os olhos - seu pai teve uma filha com outra mulher. A garota se chamava Caroline, ela era linda..-  se aproxima e apoia suas mãos em meu rosto novamente - tinha os olhos azuis iguais aos seus.

- E como eu nunca soube que tive uma irmã? O que aconteceu com ela? - Minha voz sai baixa.

- Eu a criei como minha filha - ignora minha pergunta - eu a amei como minha filha.. - Sorri. Mas seu sorriso não era de alegria,  era um sorriso dolorido - seu pai a amava muito. - Seus sorriso cresce um pouco mais - e quando soube que estava grávida de você .

Ela soluça, uma lágrima cai de seus olhos.

- Você está bem? - " é óbvio que ela não está."

- Ela disse pra mim e seu pai " eu quero que meu irmão tenha o nome mais bonito do mundo.. - um soluço ainda maior que o outro escapa de sua boca. Não sei se quero continuar ouvindo está história, não com minha mãe neste estado. - Christopher" ..

- mãe, o que eu fiz à Caroline?

E então eu senti aquilo.. Senti um cadeado se romper dentro de mim, senti meu mundo deslizar e minha cabeça girar. Eu estava enfim me lembrando dela.

..

"- .. Christopher " - vejo uma garotinha de cabelos loiros e pele branca de aparentemente nove anos me chamar. Ela vem em minha direção, arranca um flor do Jardim.. O jardim da minha casa, mas nele há também uma piscina.. Nós não temos piscina!  Ela continua a andar mas não parece me ver. Ela para de frente a um bebê.. - eu te amo muito! - O bebê bochechudo e de olhos arregalados sorri. O bebê sou eu?

- Caroline?  - Ela se vira pra mim. Seus olhos são mesmo azuis iguais aos meus. - Coraline!

Ela se vira novamente para o bebê, acho que ela não me viu. O que está acontecendo? . Isto é uma lembrança? Mas por que eu me lembro disso? Eu era um bebê, como posso ainda lembrar?

O bebê começa a engatinhar para borda da piscina.. Eu tinha cara de joelho. Caroline o segue com um sorriso bobo nos lábios, ela é linda. Seus cabelos diferente dos meus são loiros e sua pele mais branca que a minha, mas os olhos.. Os olhos são iguais aos meus.. Ela é mesmo minha irmã. Como eu nunca soube de sua existência?

Seu sorriso se desmancha ao ver que eu ( o bebê) está prestes a cair dentro da piscina, ela corre em minha direção.

- Chris! - Ela para de frente a mim e me empurra para longe da piscina, mas acaba perdendo o equilíbrio. Ela cai na piscina, seu corpo se debate contra água.. Ela não sabe nada!

- Caroline! - Corro em sua direção, estendo o braço para que a mesma possa pegar, mas ela não me vê. Seus olhos demonstram pânico, assim como os meus agora. Minha irmã!.. - Alguém ajude ela. - Grito. Mas não vejo ninguém. - Alguém ajude minha irmã!- Ela aos poucos vai perdendo a força, suas mãos aos pouco se afundam e então seu rosto.. Seus olhos.. Ela.. - Caroline!

...

-  Ela morreu afogada! - Minha voz quase não sai - por minha culpa.

- Claro que a culpa não foi sua meu amor - me abraça.

- mas ele acha que é..

- Seu pai não soube lidar com a perda da filha - me aperta ainda mais - mas no fundo ele sabe que o que houve não foi culpa de ninguém.

- Ele tem o direito de me odiar.- ela se afasta e passa a olhar em meu olhos -  eu tirei dele o que mais o fazia feliz.  Ele está certo em não me amar e sim odiar..

- Mas ele não te odeia. Ele te ama muito!

- O que?  - acabo não contendo o riso.

- você é a única coisa que restou à ele, Christopher.

- Ele tirou meu filho de mim. Tirou minha família mãe. Ele me matou duas vezes! - Grito. Meus olhos se enchem de lágrimas - ele teria dois anos.. E eu nem tive a oportunidade de escolher o nome.

- Ele cometeu um grande erro eu sei.. - Ela me abraça.

- se ele me ama, por que tirou minha felicidade? por que destruiu minha vida?  por que mãe?

- Eu não sei filho.. Eu não sei - acaricia meus cabelos - Eu sinto muito.

- Não mais que eu mãe. - A lembraça de Carolina me vem a cabeça novamente - por que eu nunca soube dela?

- nosso terapeuta achou melhor apaga-la. Ele achou melhor não deixar uma ferida exposta. Então nós preechemos a piscina com cimento, tiramos suas coisas do quarto e guardamos no porão.

- Mas deixaram o Jardim..

- sim - sorri fraco - cuidar do Jardim é como ainda ter um pedacinho dela para cuidar.

O Garoto Do Sexto andar ( Em Reforma)Onde histórias criam vida. Descubra agora