Capítulo 4

1.1K 29 21
                                    

Já estávamos nos aproximando do Natal. Cinco meses haviam se passado e nós continuávamos apaixonados. Quanta coisa nós aprontamos nesses meses. Ninguém nunca desconfiou de nada. Nesse tempo todo, Renato foi se soltando cada vez mais, tanto que entre nós limite era uma palavra que não existia.
Quando fomos acampar com a turma do colégio, no feriado do dia Sete de Setembro, tivemos que arrumar o maior esquema, em que Renato fez par na barraca com a Ana Cláudia, e eu com a Débora, que diga-se de passagem, era um tesãozinho.
Se por um lado o 'proibido' nos deixava às vezes putos da vida, por outro nos excitava, pois criava uma cumplicidade imensa entre a gente.
Não foi por acaso que forçamos a barra para ficarmos com a Ana Cláudia e a Débora. Na verdade, as duas possuíam uma 'característica' que muito nos interessava, ou seja, não enxergavam um palmo além do nariz e viviam no mundo da lua, sonhando com príncipes encantados ou coisas assim.
As únicas construções além da casa do administrador que o camping de Peruíbe possuía eram os banheiros. E foi lá que quase fomos descobertos.
Eu tinha acabado de acordar e estava lavando o rosto, quando o Renato entrou e de surpresa me abraçou por trás:
Bom dia.
Puta susto, cara.
E aí, Marcus? Transou com a princesinha?
Não respondi nada a ele, e perguntei:
E você? Transou com a Ana Cláudia?
Metemos.
Confesso que essa situação era meio estranha e, para que isso não me incomodasse, o melhor era não levar a coisa muito a sério.
Começamos a brincar de fazer cócegas um no outro e quando nos demos conta já estávamos excitados. Renato queria a todo custo me fazer uma chupeta. Ele disse que a minha porra seria o seu café da manhã.
Tentei convencê-lo de que não seria uma boa idéia, pois nem banho eu havia tomado. Não adiantou nada, ele ficou mais excitado ainda.
Na brincadeira, dei uma de difícil e fui praticamente arrastado por ele até um dos boxes. Ele fechou a porta, me encostou na parede, desceu o meu short até os joelhos e, antes de começar a chupar, perguntou:
Ontem você comeu a Débora?
Hã, hã.
O cheiro dela ainda está aqui.
Ele ficou super excitado em saber que eu havia comido a Débora na noite anterior, e começou a chupar o meu pau num ritmo acelerado.
Só sei que foi um tesão vê-lo agachado à minha frente, me chupando e se masturbando ao mesmo tempo.
Não demorou muito e gozei na boca dele. Como de costume, ele não deixou derramar nenhuma gota de porra no chão, engolindo parte dela, e passando a outra para a minha boca, num beijo.
A principio, tudo isso pode parecer nojento, porém é muito excitante e, afinal de contas, só faço isso com o meu namorado. Em relação a outros homens, somos religiosamente fiéis um ao outro. Nunca transamos com outros caras e quando transamos com mulheres sempre usamos camisinhas.
De repente, o banheiro enche de gente e não dava mais tempo para sairmos do boxe. Fiz o Renato ficar sentado no vaso sanitário e eu fiquei de pé, encostado numa das paredes, com o cesto de papel higiênico à frente dos meus pés. Mesmo com um trinco sem-vergonha, a porta do boxe estava fechada, porém não ia até o chão, ficando com um espaço aberto de mais ou menos um palmo.
Ficamos nessa situação ridícula por mais de uma hora, esperando o banheiro esvaziar. E, para ajudar, eu ainda tinha esperma do Renato escorrendo pela minha perna.
Também transávamos muito na minha casa. Meu pai sempre trabalhando, minha mãe com 'mil' compromissos junto à comunidade e eu, como filho único, tinha a casa toda para nós.
Eu e Renato chegamos a passar um fim-de-semana inteiro sem sair de casa. O nosso mundo começou numa sexta-feira à noite, quando meus pais foram para um sítio passar o fim-de-semana.
Estávamos dentro de um táxi, indo para casa, quando Renato falou:
E aí, Marcus, você acha que não tem perigo dos seus pais voltarem antes do tempo?
Claro que não, meu pai é do tipo programado, com ele tudo tem que ser pensado antes.
Marcus, que tal comermos um cheese salada antes de irmos para a sua casa?
Você está com fome?
Morrendo.
Ok. Só que a gente pede para viagem e come em casa.
Fechado.
Compramos quatro lanches, dois para cada um. Sentamos no sofá da sala, liguei a televisão e, quando íamos começar a comer, o Renato disse:
Marcus, me empresta o seu lanche?
Para quê?
Ele insistiu:
Empresta?
Dei o lanche para ele e fiquei esperando para ver o que acontecia. Renato tirou o lanche do saquinho e começou a bater uma punheta sobre o hambúrguer.
No meu lanche não. Vai ficar uma bosta!
Não vai não.
Se não vai, então coma você.
De nada adiantou eu falar. Ele esporrou com tudo no meu lanche e falou:
Pronto! Agora você já pode comer.
Rindo, eu disse que não iria comer. Ele insistiu:
Você quer que eu faça aviãozinho, Marcus?
Eu não vou comer.
Acabei cedendo às pressões dele e comi o cheese salada depois de levar muitos beijos no pescoço e na nuca. Na verdade, comemos o lanche juntos e, por incrível que pareça, foi bom. Adormecemos no sofá.
Acordei de madrugada com a garganta seca, e fui até o banheiro para escovar os dentes. Aproveitei para tomar um banho.
Fiquei pensando se realmente eu era um cara normal, não pelo fato de transar com um cara, mas sim pelas loucuras que nós fazíamos. O que será que duas pessoas fazem numa relação considerada normal?
Já estava debaixo do chuveiro quando o Renato entrou no banheiro:
Faz tempo que você acordou, Marcus?
Não, acordei quase agora.
Posso usar a sua escova de dentes?
Claro. É a escova amarela que está dentro do armarinho.
Colocando creme dental na escova, ele falou:
E aí, alemãozinho? Gostou do cheese salada especial?
Quando ele me chamava de alemãozinho, a sensação que eu tinha era a de que ele sentia um certo poder sobre mim, e eu gostava disso. Aliás, fisicamente, nós éramos bem diferentes, a começar pela altura. Ele com mais ou menos um metro e oitenta, e eu com só um metro e sessenta e dois. Outra grande diferença também estava na cor dos cabelos: eu, loiro e ele, com cabelos bem pretos.
Já estava fechando o chuveiro quando ele pediu para eu não sair, que ele iria entrar. Tentei convencê-lo de irmos para a suíte dos meus pais, onde tinha banheira com hidromassagem, mas, dizendo não, ele foi entrando debaixo do chuveiro. Então falei:
Pensa só no que nós faríamos numa banheira, Renato.
Me abraçando, ele falou:
E você acha que eu não sei, alemãozinho?
Então vamos, Renato?
Me acariciando, ele disse:
No próximo banho a gente vai para a suíte. Agora, eu quero curtir você aqui.
Tá legal, Renato, mas antes de você me deixar de pau duro, deixa eu fazer outra coisa com ele.
Eu já saía do boxe quando ele me puxou pelo braço e perguntou:
Você vai mijar?
Lógico, Renato, o que mais eu faria com o meu pau?
Ele me olhou de uma forma estranha e falou:
Mija em cima de mim, Marcus.
Você está louco, Renato? E se você pegar uma doença?
Se nós tivéssemos que pegar alguma doença, já teríamos pegado. Há quantos meses a gente já engole porra um do outro? E tem mais, você só vai mijar em cima de mim.
Ele se abaixou e eu apontei para o seu peito, começando a mijar. Renato segurou meu pau e mudou a direção para o seu rosto, e assim eu mijei até o fim. Confesso que foi uma sensação tão incrível, que o fiz mijar em mim também.
Só sei que nós aprontamos de tudo naquele fim-de-semana. Até vitamina de frutas com porra batida no liqüidificador nós tomamos.
Só não aprontamos da noite do Sábado para o Domingo, porque o cansaço que a gente sentia era tão grande, que resolvemos ir dormir cedo. Não eram oito horas da noite quando entramos na suíte dos meus pais e praticamente nos jogamos na cama. Eu estava tão esgotado que nem me lembro de ter dado boa-noite a ele.
Acordei no Domingo me sentindo uma nova pessoa. Espiritualmente, a impressão que eu tinha era a de que, de alguma forma, um certo 'equilíbrio' havia sido restabelecido dentro de mim. Fisicamente, eu acordei envolvido pelo corpo do Renato, que me abraçava por trás de um jeito muito especial.
Com cuidado para não acordá-lo, saí da cama bem devagarinho e, no quarto mesmo, sentei numa das confortáveis poltronas da minha mãe.
O sol, tentando entrar pelas frestas da veneziana, criava uma atmosfera diferente na suíte, que por si só já era muito bonita, com todos aqueles móveis italianos distribuídos de forma muito bem pensada.
Sentado na poltrona que pertencera à minha avó Elizabeta, e que foi restaurada por minha mãe, me senti literalmente envolvido por quase um século de história. E isso me fez pensar que eu deveria dar um novo rumo à minha vida.
Observando-o dormir de bruços e quase nu naquela imponente cama, me veio a certeza de que, por mais difícil que fosse, eu estaria disposto a enfrentar tudo e todos para poder viver com ele ao meu lado para sempre.
Enquanto ele dormia, aproveitei para colocar a casa em ordem. A bagunça era generalizada, porém a copa e a cozinha eram campeãs da desordem, e foram justamente elas que me deram mais trabalho.
Tomei um banho e fui para a sala; curtindo um som, adormeci no sofá e fui acordado por ele com um beijo:
Dormiu bem, Marcus?
Muito bem. E você?
Dormindo abraçado a um anjo, o que você acha?
Confesso que me senti sem-graça ao ser comparado a um anjo e, sem responder nada a ele, perguntei:
Você tomou banho de perfume?
Ele respondeu rindo:
Por quê? O cheiro está tão forte assim?
Um pouco.
Juntos fomos para a cozinha tomar café, pois eu já havia preparado tudo.
Ele ainda comentava sobre a minha disposição de, sozinho, ter arrumado a casa, quando falei:
Eu quero viver com você, Renato.
Mas nós estamos vivendo juntos, Marcus.
Eu estou falando na mesma casa.
Me olhando fundo nos olhos, ele falou:
Você tem idéia do que está falando, Marcus?
Colocando a minha mão sobre a dele, eu disse:
Tenho mais do que idéia, Renato. Tenho a certeza daquilo que quero na vida. E na vida eu quero você.
Debruçando-se à mesa, ele me beijou e disse:
Eu também quero viver ao seu lado, mas para isso nós precisaríamos abrir o jogo aos nossos pais, e aí a barra pode pesar.
Com a voz abafada, falei:
Eu sei que pode pesar, mas não vejo outro jeito.
Levantando as sobrancelhas num gesto de que também não sabia a resposta, ele perguntou:
Por que você mudou de opinião tão de repente?
Não foi tão de repente assim. Eu já venho pensando nisso há algum tempo.
Sorrindo, ele disse:
Confesso a você que também já sonhei com essa possibilidade, mas…
A ansiedade em falar era tanta que acabei interrompendo as palavras dele:
Se os meus pais me apoiarem, nós teremos um apartamento para morar e dinheiro para vivermos bem até que possamos arrumar emprego, Renato.
Acho que você está sonhando demais, Marcus!
Não estou não, Renato. Além de dinheiro, meu pai tem alguns apartamentos alugados e pode ter certeza, para ele não representaria nada financeiramente arrumar um apartamento de graça para a gente morar.
Eu não sabia que o senhor Giorgio estava tão bem assim, mas não é isso que estou falando, Marcus. O que…
Novamente tentei interrompê-lo, mas ele não deixou, e continuou a falar:
Eu acho, Marcus, que três coisas vão pegar. Primeiro é a sua idade, você só tem dezesseis anos; em segundo, você é filho único e em terceiro, eles não vão aceitar a idéia de que o filho deles é um… você entendeu.
Só que eu sou, Renato, e ninguém pode mudar isso. Se os meus pais souberem da verdade agora ou daqui a dois ou três anos, para eles vai dar no mesmo; agora para nós, isso representa mais três anos perdidos.
Levantei da mesa e continuei a falar, agachado ao seu lado.
Renato, eu não vou pedir nada a eles agora. A única coisa que eles saberiam seria da minha opção sexual. Feito isso, o tempo se encarregaria do resto.
Ainda sentado, só que de frente para mim, ele falou:
E se eles não aceitarem essa nova situação, Marcus?
Eu prefiro não pensar nisso, Renato, mas se acontecer e você gostar de mim do jeito que eu gosto de você, só teria um jeito, cara, colocar a mochila nas costas e meter o pé na estrada.
Os olhos dele brilharam. Começamos a nos beijar, fizemos amor no chão gelado da cozinha e decidimos que ainda naquele dia contaríamos a verdade aos nossos pais.
Renato foi para a casa dele e eu fiquei esperando os meus pais voltarem do sítio. Deitado no sofá da sala, curtindo um CD do Ivan Lins, fiquei imaginando quantos caras deviam sentir o que eu sentia. Mas que, por vergonha ou sei lá o quê, preferiam viver uma vida mentirosa, ou pior ainda, uma vida totalmente sem-graça.
O meu pai sempre me ensinou que a gente devia brigar, e muito, por aquilo em que acreditasse e gostasse, pois, caso contrário, ficaríamos sempre num lugar comum ou simplesmente viveríamos apenas porque respiramos.

O Terceiro  Travesseiro Onde histórias criam vida. Descubra agora