Capítulo 15

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A viagem de volta foi muito cansativa. Pegamos um congestionamento que atrasou em duas horas a nossa chegada a São Paulo. Pelo adiantado da hora, Renato me deixou em casa e nem entrou para cumprimentar os meus pais. Estava abrindo o portão de casa, quando eles saíram:
Filho!
Oi, mãe; oi, pai.
Nos abraçávamos quando meu pai perguntou:
E o Renato? Por que não entrou?
É tarde, pai. Amanhã, quando ele trouxer o carro, vocês se cumprimentam.
Natural de quem chega cansado de uma viagem, me joguei no sofá enquanto meu pai recebia a pizza que já haviam pedido. Estávamos tão descontraídos que minha mãe nem reclamou quando ele sugeriu que comêssemos na sala mesmo. Já equilibrando o prato sobre as pernas, meu pai falou:
E aí, filho? Fale da viagem.
Foi ótima, pai.
Sem ter como detalhar os meus melhores momentos - iria chocá-los - acabei por transferir a conversa para o lado deles. Minha mãe, desconsiderando que nada era novo para mim, começava a falar com grande entusiasmo até perceber a aliança de prata no meu dedo.
Você está usando anel, filho?
É uma aliança, mãe. Ela simboliza um compromisso.
Tentando quebrar o silêncio que veio a seguir, falei:
Tudo bem, pai? Tudo bem, mãe?
Tomando a iniciativa, meu pai respondeu:
Tudo bem, filho. É que… sua mãe e eu ficamos um pouco sem-graça. Esse…
Interrompendo-o, minha mãe perguntou:
Esse compromisso representa exatamente o quê, Marcus? Um noivado?
Hã, hã.
Incrivelmente calmo, meu pai disse:
Independentemente de qualquer outra coisa, você não acha que ainda é muito cedo para pensar nisso, Marcus?
Acho que não pai. Em dois meses estarei fazendo dezessete anos e…
Sentando-se ao meu lado e bem tranqüila, minha mãe nem esperou que eu terminasse de falar e disse:
Você está pensando em não fazer faculdade, filho?
Lógico que não, mãe. Os meus planos para o futuro não diminuíram, só cresceram.
Olhares interrogativos me fizeram explicar melhor:
Apesar de essa conversa ter começado sem querer, eu iria falar com vocês sobre os meus planos para o futuro. Renato também já deve estar falando com os pais dele. Foi por isso que ele não entrou, pai.
Demonstrando preocupação, meu pai perguntou:
O que vocês decidiram de tão urgente, Marcus?
Não, não é nada urgente, pai. O que nós decidimos nessa viagem deve acontecer só daqui a um ano.
Antecipando-se a mim, minha mãe disse:
Vocês pretendem morar juntos?
Terminando o colegial, sim. Mas não se preocupem, pois tudo será feito com muita discrição. Para parentes e amigos, seremos apenas dois estudantes - fazendo faculdade - que moram juntos.
Me servi de um pouco de Coca-Cola antes de continuar a falar:
O que eu gostaria de saber é se posso contar com o apoio de vocês. Nós faríamos a faculdade à noite e trabalharíamos durante o dia. Mas, mesmo assim, acredito que os salários não seriam suficientes para vivermos bem.
Depois de um breve silêncio, meu pai disse:
Você sabe que tudo isso é muito difícil para sua mãe e para mim, mas com certeza nós nunca daríamos as costas para você, meu filho.
Obrigado, pai.
Na verdade, o objetivo daquela conversa não era o de pedir apoio e sim prepará-los para uma situação que acontecia antes do próximo Natal. Acredito que só não falamos mais, porque na cabeça dos meus pais um ano é muito tempo.
Mais um pedaço de calabresa, filho?
Quero sim, mãe.
No dia seguinte, acordei com a campainha tocando insistentemente. Imaginando ser Renato, desci rapidamente para atender a porta. O olho mágico mostrou-me Beatriz.
Apenas com um palmo da porta aberta e com o meu corpo por detrás dela, a atendi:
Não esperava sua visita tão cedo. Tudo bem?
Tudo bem, gatinho. Posso entrar?
Claro que pode, mas me dê alguns minutos para colocar um short. Eu estou apenas de cueca.
Por mim nem precisa, Marcus.
Fiz Beatriz esperar na sala, enquanto subi para lavar o rosto, escovar os dentes e colocar um short.
Bom dia, Beatriz.
Ganhei um beijo no rosto.
Você me acompanha no café da manhã?
Fomos para a cozinha. O relógio da parede marcava dez horas em ponto e por um bilhete deixado na mesa, meu pai estava na editora e minha mãe fazendo compras no mercado.
Eu não esperava você tão rapidamente, Beatriz, está tudo bem mesmo?
Sim e não, Marcus. Eu gostaria de falar sobre o que aconteceu na pousada.
Então fale, o que está incomodando você?
Sabe o que é, Marcus, eu não gostaria que você pensasse algo errado de mim. Nunca havia feito o que fiz naquela noite. Foi a primeira vez que estive com dois homens e, você sabe, sou apaixonada pelo Renato. Eu…
            Ela não parava de se justificar e confesso que mesmo fingindo prestar atenção, eu estava mais preocupado com os meus pensamentos. Apesar de ainda me sentir atraído por ela, com certeza mais nada poderia rolar entre a gente.
            Servindo-lhe uma xícara de café, voltamos para a sala e, sentados no sofá maior, fiz com que ela parasse de se explicar:
Você está preocupada à toa. Se eu tivesse que pensar algo errado a seu respeito, então o que você pensaria sobre mim?
Sabe o que é, Marcus, eu me sinto muito sozinha. Você ainda pode dividir com o Renato todos os seus sonhos e sentimentos. E eu?
Ela começou a chorar.
Beatriz, pára com isso.
Abraçado por ela, e sem saber o que fazer, comecei a passar a mão nos seus cabelos.
Eu… estou confusa, Marcus.
Chorar não vai adiantar nada, Beatriz. Vamos conversar.
Naquela noite, Marcus… com a desculpa de pegarmos mais cervejas no frigobar, o Renato… me ofereceu a você e… no dia seguinte… praticamente me… me expulsou do apartamento.
Suas palavras me atingiram como um raio. Com certeza toda a culpa era minha. Enxugando as lágrimas do seu rosto e olhando-a de frente, eu disse:
Beatriz, eu te peço desculpas. Tudo o que aconteceu foi minha culpa.
Você não teve culpa de nada, Marcus.
Tive sim. Naquela noite desejei transar com você e o Renato percebeu isso. Você me perdoa por eu ter passado por cima dos seus sentimentos?
Você não precisa do meu perdão.
Um beijo roubado.
Você é a parte boa de toda essa história, Marcus.
Confuso, me deixei levar por um beijo carregado de emoções.
Eu quero você, Marcus.
Beatriz… eu… não… posso…
Eu quero… sentir você, Marcus…
Não… não, Beatriz. Eu… eu não posso…
Forçando-me a deitar no sofá e jogando o seu corpo sobre o meu num desejo quase incontrolável, ela me dava pequenas e curtas mordidas no peito.
Beatriz… pare. Eu… não posso.
Eu quero sentir você só mais uma vez, Marcus.
Pelas suas mãos, meu short e cueca foram puxados até os joelhos e num movimento rápido e brusco, Beatriz sentando-se sobre mim, fez-se penetrada. Sem calcinha, mas ainda de vestido, ela mexia seu corpo de um jeito tão especial, que me fez gozar em pouco tempo. Como a demonstrar vergonha por ter forçado tudo aquilo, ela me abraçou e disse:
Me desculpe, Marcus. Eu não tinha o direito.
Esqueça, Beatriz. Agora já fizemos.
Você não gostou de estar comigo, Marcus?
Gostei. Só que a gente não deve mais fazer isso.
Levantando-se do sofá e vestindo a calcinha, ela disse:
Por quê, Marcus? Nós três juntos viveríamos muito bem.
Colocando o short, eu pensava numa maneira suave de dizer a ela que no máximo poderíamos ser amigos, quando ouvimos o barulho da porta se abrindo.
Beatriz, que surpresa boa!
Oi, dona Ana, tudo bem com a senhora?
Tudo bem, e com você, filha?
Também está tudo bem.
Por que você não me falou que a Beatriz vinha almoçar com a gente, Marcus? Eu teria preparado algo especial.
Antes que eu pudesse responder, Beatriz disse:
Não vim para almoçar, dona Ana.
Nós fazemos questão de que você almoce com a gente, não é, Marcus?
É, mãe.
Fui para o banho enquanto Beatriz auxiliava minha mãe na cozinha. No chuveiro, cheguei à conclusão de que seria melhor não contar nada ao Renato do que havia acontecido entre mim e a Beatriz.
Estávamos almoçando quando Renato chegou. Respirei fundo antes de abrir a porta:
Oi, Renato, tudo bem?
Nos cumprimentamos com um rápido beijo na boca.
Sentiu saudades, Marcus?
Muitas cara. E você?
Outro beijo.
Nós estamos almoçando. Você quer almoçar com a gente, Renato?
Eu já almocei, mas fico com vocês na cozinha.
Mas uma coisa, Renato. Tem uma amiga nossa almoçando com a gente.
Quem está aí?
Beatriz.
O que ela veio fazer aqui?
Sei lá, apareceu. Tudo bem?
Sem me responder, Renato foi até a cozinha cumprimentá-las e, ao contrário do que havia dito, ficou na sala assistindo à TV com cara de poucos amigos.
Você quer mais polpeta, Beatriz?
Não, dona Ana, obrigada. Eu estou de regime.
Com este corpo maravilhoso, você não precisa de regime. Não é Marcus?
Hum, hum.
            Contrariando a vontade de minha mãe, Beatriz foi embora tão logo o almoço terminou. Renato e eu fomos para o barracão nos fundos da minha casa para conversar, enquanto minha mãe arrumava a cozinha.
Eu não estou gostando dessa história, Marcus.
Mas que culpa eu tenho, Renato?
Desse um gelo na garota. Mas não, ainda a convida para almoçar.
Eu não a convidei, Renato! Foi minha mãe.
Você estava muito gentil com a Beatriz. Ela vem te visitar, bater papo, almoçar e sei lá mais o quê!
Comecei a rir.
Você está rindo do quê, cara?
Estou rindo do seu ciúme, Renato. Acho legal.
Deixa de ser criança, Marcus, eu não estou com ciúme nenhum.
Está sim, eu só quero descobrir se é de mim ou da Beatriz.
Nervoso, ele me prensou contra a parede e disse:
Você está a fim de levar uma porrada?
Respondi com um beijo. Ser prensado na parede por ele me deixava muito excitado. O beijo foi aceito e estávamos dando o maior malho quando - da porta da cozinha - minha mãe me chamou:
Marcus? Marcus?
Excitado demais para sair do barracão, pela janela mesmo respondi:
Fala, mãe.
Eu vou subir para descansar um pouco. Se vocês tiverem com sede, tem suco de laranja na geladeira.
Tá legal, mãe.
Outra coisa Marcus, caso a Lídia telefone, diga a ela que à noite eu ligo.
Tá ok, mãe.
Eu falei a você sobre o jantar beneficente que estamos organizando, Marcus?
Estava difícil prestar atenção no que minha mãe dizia, pois enquanto nós conversávamos, Renato, agachado à minha frente, me chupava e se masturbava ao mesmo tempo.
Depois a senhora me fala, mãe.
Você está passando bem, filho? Você está suando!
É o calor, mãe.
Por que vocês não vêm para a sala?
Daqui a pouco nós iremos.
Ah, e não se esqueça de devolver as fitas de vídeo na locadora, Marcus.
Senti Renato esporrando na minha perna.
Pode deixar, mãe.
Quando fechei a janela, ele estava deitado no chão curtindo a sensação de após gozo.
Foi demais, Marcus!
Eu que o diga.
Me fazendo deitar ao seu lado, ele disse:
Você quer ficar com a Beatriz, Marcus?
Não! Claro que não!  Eu amo você, Renato.
Então não deixe que ela interfira no nosso relacionamento.
Nunca mais, Renato. Nunca mais.
Muitos, muitos beijos fizeram com que a visita da Beatriz fosse um capítulo esquecido.
Agora eu vou fazer você gozar, alemãozinho.
Eu não posso, Renato.
Por quê?
É que ainda não faz duas horas que almocei. Pode dar congestão.
De novo com esse papo, Marcus!
É verdade, cara. Para que o estômago possa fazer a digestão dos alimentos, ele necessita de muito mais sangue do que o normal, é por isso…
Pára, Marcus!
É sério, Renato. Deixa eu acabar de explicar.
Passamos um bom tempo discutindo sobre sexo após as refeições.

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