Capítulo 12

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O apartamento era bem transado, mas o que mais me agradava nele era a varanda, que além de uma mesinha, tinha duas confortáveis cadeiras.
Trancamos a porta, largamos as mochilas no chão, pegamos duas cervejas estupidamente geladas e nos sentamos na varanda. Naquele momento, se tivesse talento, teria feito uma poesia para Renato. Ficamos um bom tempo nos beijando, até que minha mão começou a deslizar pelo seu corpo. Tomando cerveja como se nada estivesse acontecendo, podia até parecer que ele estava indiferente aos meus carinhos, se não fosse pelo volume que começava a se formar dentro do seu short. Pedi a ele que continuasse sentado e deixando-o apenas de camiseta e meias, comecei a chupá-lo.
Eu ainda curtia tudo aquilo quando a campainha tocou. Imediatamente paramos e Renato, mesmo sem gozar, foi vestindo a cueca e o short.
Quem poderá ser, Renato?
Deve ser o Ronaldo, que esqueceu de nos falar alguma coisa que não está escrita no folheto.
Estava indo atender a porta quando Renato, brincando, falou:
Se for ele mesmo, Marcus, dê uma porrada na boca dele por mim.
Ao abrir a porta, não pude acreditar no que meus olhos viam:
Beatriz! Você aqui!
Ela me deu um beijo no rosto e foi entrando sem qualquer cerimônia. Sem entender o que estava acontecendo, fechei a porta com uma única certeza: aquilo só podia ser armação do Renato. Mas por que ele faria isso? Eu ainda tentava encontrar uma resposta, quando ela disse:
Não ganho uma cerveja, Marcus?
Eu estava pegando a cerveja no frigobar, quando Renato entrou no quarto.
Eu pensei ter ouvido a sua voz. É você mesmo!
Tudo bem, Renato?
Eles se cumprimentaram com um curto beijo nos lábios, e Renato perguntou:
Como você nos achou aqui?
Pura coincidência. Eu estou aqui com mais duas amigas no apartamento oito, primeiro andar. E vocês estão sozinhos?
Entrando na conversa, eu respondi:
Estamos, Beatriz. Aqui está a sua cerveja.
Obrigada, Marcus.
Abri minha latinha de cerveja e sentei numa das camas. Eles fizeram o mesmo, com Renato dizendo a ela:
Mas que surpresa, hein!
Ainda mais porque você anda fugindo de mim, não é, Renato?
Eu não tenho motivos para fugir de você.
Parece, Renato. Desde o seu acidente eu ando tentando falar com você e não consigo.
Não confunda as coisas, Beatriz. Não somos mais namorados.
Eu não estou falando de namoro, Renato. Estou falando de amor, amizade e consideração. Eu acho que não mereço ser tratada dessa maneira por você. Afinal de contas, juntos nós vivemos muitos momentos bons.
O diálogo entre os dois estava difícil e mesmo se tratando do meu namorado, achei que deveria sair do quarto para que Renato, mais à vontade sem a minha presença, pudesse dar um ponto final naquela história.
Quando me levantei da cama em direção à porta, Beatriz me perguntou:
Aonde você vai?
Renato apenas me olhava.
Eu vou deixá-los sozinhos para que vocês possam conversar mais à vontade, Beatriz.
Levantando-se da cama e me segurando pelo braço, ela me fez sentar novamente e, olhando para Renato, disse:
Acho que sei o que rola entre vocês.
Com muita calma, Renato respondeu:
O que você está querendo dizer?
Que você e o Marcus se gostam.
Pegando mais uma cerveja no frigobar, sem ter bebido a anterior totalmente, ele disse:
É claro que a gente se gosta, nós somos amigos.
Sem hesitar, ela revidou:
Eu não estou falando de amizade, Renato.
Por que você acha que a gente se gosta de uma forma diferente?
Por tudo que já observei em você, Renato. Agora certeza mesmo eu só tive no hospital em que você estava internado.
Já com a voz não muito firme, ele disse:
Você nunca me visitou no hospital.
Aproximando-se bem dele, ela falou:
Visitei sim, Renato. Presenciei toda a cena que sua mãe fez no corredor com o Marcus. O Carlos também estava lá.
Eu não sei definir direito que tipo de sentimento essa garota provocou em mim, mas sei que gostei muito do fato de ela ter descoberto tudo. Quantas e quantas e quantas vezes eu sonhei em ocupar o lugar dela. Meu Deus! Isso é maluco.
Ela continuou a falar e Renato, de cabeça baixa, apenas ouvia:
Sei que você não tem compromisso nenhum comigo. Mas eu me senti muito magoada por você nunca ter me dito nada do que estava acontecendo, Renato, bastava apenas você dizer que existia outra pessoa na sua vida, só isso.
Assistindo a tudo de camarote - era assim que eu me sentia - pude finalmente perceber que, na verdade, nunca tive raiva dela. Ciúmes e inveja era o que eu sentia por ela poder desfrutar, sem esforço nenhum, aquele universo que a sociedade nunca permitiu que eu tivesse acesso. E a presença dela, naquele momento, representava para mim uma vitória.
Visivelmente sem-graça, Renato pediu desculpas a ela e os dois se abraçaram por muito tempo. Confesso que não sabia o que fazer e acabei por esperar que aquele abraço terminasse.
Antes de sair do apartamento, com lágrimas nos olhos, Beatriz me deu um beijo no rosto, que acabou num abraço. Definitivamente, ela estava triste por ter perdido um lugar no coração dele, mas em momento nenhum ela demonstrava estar com raiva de mim.
Depois de acompanhá-la até a porta, peguei duas cervejas e sentado de frente para ele, na cama, falei:
É melhor bebermos. Tome a sua.
Pegando a cerveja, ele disse:
Desculpe por ter feito você passar por isso, Marcus.
Você não precisa se desculpar. Comigo está tudo bem.
Mesmo?
Mesmo, Renato. E digo mais, nem a presença dela na pousada me incomoda. O que nós temos que pensar, e nem precisa ser agora, é na possibilidade de ela espalhar a notícia no colégio.
Ela não vai contar nada a ninguém, Marcus.
O que te dá tanta certeza?
Não se esqueça de que ela já foi minha namorada, Marcus. Além do mais, nos últimos tempos, ela e eu fizemos muita coisa diferente. E pode ter certeza de que ela também gostou.
Além do que você já me contou na cachoeira, o que mais vocês fizeram?
Eu vou contar toda a história, Marcus.
Eu não estava muito a fim de ouvir toda a história, mas acho que ele precisava falar:
No início nós éramos um casal comum. Íamos muito a motéis e transávamos bastante. Na cama, nós fazíamos aquilo que era considerado normal, ou seja, além do tradicional, um chupava o outro e estava limpo. Com o tempo, comecei a perceber que quando Beatriz me tocava atrás, com a mão ou com a língua - e isso só acontecia sem querer e rapidamente - me dava muito tesão.
Como que ela te chupava 'sem querer' atrás, Renato?
Isso acontecia quando ela dava um trato no meu saco. Por diversas vezes sua língua escorregava mais para baixo.
Você nunca se imaginou transando com um cara, Renato?
Eu já falei que não, Marcus. E o assunto agora não é esse.
Me desculpei e ele continuou a falar:
O tempo foi passando, e como nunca tive coragem de pedir a ela que também desse um trato nesses novos lugares do meu corpo, a nossa relação foi caindo, caindo, até que um dia percebi que estar com ela na cama já não representava muito. Mesmo gostando da Beatriz, resolvi terminar o namoro. Pode parecer estranho, mas pela privacidade escolhi um motel para falar com ela. E olha que foi difícil, Marcus. Ela começou a chorar e a dizer que queria saber quem era a outra mulher, e como eu não tinha o que explicar, fui ficando cada vez mais nervoso, até que, no meio da discussão, disse a ela que não tinha certeza dos meus sentimentos como homem. Ao dizer isso, confesso que esperei dela a reação mais negativa possível, mas foi o contrário, cara.
O que ela fez?
Foi aí que pude perceber como ela gostava de mim. Me abraçando ela repetia que me amava e me aceitava de qualquer jeito.
E você?
Acabei com o namoro assim mesmo. Não seria honesto da minha parte manter uma relação em que já não havia emoção nenhuma.
Mas vocês continuaram indo para cama, Renato.
A Beatriz é uma garota interessante, Marcus. Você acredita que ela nunca perguntou o que eu realmente sentia? Sem contar que nós nunca mais falamos sobre aquela conversa no motel. É como se tudo aquilo nunca tivesse existido.
Acendendo um cigarro, ele continuou:
Uma semana depois, ela me ligou e acabamos saindo. Fomos a um barzinho, e de lá, já com duas doses de uísque na cabeça, esticamos para um motel. Ela escureceu o quarto e disse que iria me fazer uma massagem. Até aí, nada de novo, se não fosse pelo fato de ela insistentemente manter as suas mãos deslizando sobre a minha bunda. Ela me fez viajar, cara.
E você vai me fazer morrer de fome, Renato.
Eu pensei que você quisesse conhecer a história toda!
E quero. Mas não agora. Vamos pedir alguns lanches primeiro?
Fechado. Que tal dois churrascos com queijo para cada um?
Até os lanches chegarem, decidimos tomar um banho super-rápido, já que a fome naquele momento era maior do que qualquer coisa. Com toalhas enroladas na cintura e sentados na cama um de frente para o outro, começamos a comer. Renato literalmente descarregava ketchup no lanche, quando eu falei:
Por que você disse que a Beatriz sente prazer em fazer 'aquelas coisas', Renato?
Você sente quando uma pessoa está gostando de fazer alguma coisa.
Você tem razão… Mas o que vocês faziam?
Parando de comer e olhando para mim, ele perguntou:
Por que você está tão interessado, Marcus?
Eu não estou tão interessado assim… Mas é que por ela ser mulher… Eu tenho curiosidades em saber o que rolou.
Hã, hã.
É sério, Renato.
Imagine a cena, Marcus: Eu deitado de bruços e a Beatriz me lambendo atrás e se masturbando ao mesmo tempo.
Aquilo era excitante demais. Me imaginei deitado de bruços na cama, sendo chupado atrás pela Beatriz.
Fale mais, Renato! Detalhes, detalhes.
Percebendo meu entusiasmo, Renato puxou a toalha da minha cintura. Sorrindo, ele se jogou em cima de mim, me fazendo deitar na cama e disse:
Que mente suja, Marcus!
Você está me apertando muito, Renato.
Não muda de assunto, Marcus.
Eu não tenho culpa de que essa história me deixou excitado.
Ele tentava ficar sério, mas não conseguia.
E o nosso amor, Marcus?
Isso não tem nada a ver com amor, Renato. Aliás se você quiser saber, até cachorro transando na rua me excita.
Rimos.
Tudo bem, Marcus. Pelo seu descaso você será torturado.
Isso não, Renato. Eu sinto cócegas demais embaixo do braço.
Ele sabia que eu quase não agüentava sentir a sua língua passando lentamente sobre as minhas axilas. Ele adora fazer isso e eu sinto um misto de prazer e cócegas ao mesmo tempo.
Preparado, Marcus?
Não, Renato. Não, não, não…
Deitado sobre mim e mantendo minhas mãos presas, ele começou. Dei várias voltas ao mundo em apenas um segundo e, não mais agüentando de tesão, gozei com tudo, de tanto que ele me apertava com o seu corpo.
Sorrindo, Renato disse:
Valeu, Marcus?
Muito…
Em meio à pedaços de pão, ketchup e queijo, eu continuava deitado.
Você vai dormir, Marcus?
Hã, hã.
Ele me havia feito gozar com uma intensidade. Juntando isso ao cansaço da viagem, eu queria mais era ficar largado. Acho que se o mundo acabasse naquele momento, eu não seria capaz de me levantar da cama.
Você não quer deitar na outra cama, Marcus?
Não…
Pegando um pedaço de lanche que estava debaixo da minha coxa esquerda, ele disse:
Você viu a sujeira onde você está deitado? Por isso que eu falei para você mudar de cama.
Não…
Tá legal, Marcus. Durma ai mesmo, que eu vou fumar um cigarro na varanda.
Não vai não, Renato.
Já deitado de lado na cama, fiz com que se deitasse com a cabeça um pouco abaixo da minha cintura. E assim eu adormeci do jeito que eu mais gostava: com o meu pau - mesmo mole e todo sujo de porra - encostado no seu rosto.

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