Esconde esconde

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31 de Julho de 1996

VINTE, DEZENOVE, DEZOITO...

Era a voz de Dora contando regressivamente, ecoando pela casa.

... DEZESSETE, DEZESSEIS...

Catarina passou como um cometa pelo corredor, com as meias deslizando no piso frio, entrou para a sala. Parecia levar a serio demais a brincadeira. Agachou-se atrás do sofá, mas logo viu que não era seguro. Olhou ao redor avaliando sua opções: A estante de livros era larga e ocupava quase toda a parede do lado esquerdo, menos o canto. O canto tinha um pequeno vão para rolar as cortinas do recinto, o suficiente para ela se espremer. Sua bexiga gritou com vontade de fazer xixi, mas ela ficou ali quieta em pé, colada ao móvel. "que eu seja a ultima a ser encontrada" – pensou. Suas mãos suavam e tamborilava vagarosamente a madeira da estante como um tique nervoso.

...QUINZE, QUATORZE, TREZE...

Cristina foi a ultima a correr, após se certificar que Dora não estava olhando. Dora era traiçoeira, ela sabia, mas parecia ter escondido o rosto de forma correta. Cristina tirou as sapatilhas e andou rapidamente na ponta dos pés. Viu Catarina entrar na sala correndo como nunca, continuou no corredor onde olhou para o quarto dos Hudsons. Os pés de Michel estavam saltados abaixo da cortina na qual ele se enrolara como um rocambole. Achou graça, entrou no quarto o chamando.

_Michel, ai não, ela vai te ver!

...DOZE, ONZE, DEZ...

Retirou o menino de trás das cortinas pensando num bom esconderijo para ele, por fim, abriu o guarda roupas do casal e sentou Michel sobre dois edredons dobrados. O menino sorria pra ela quando ela fechou a porta pondo o indicador na frente dos lábios, fazendo o sinal para ele ficar quieto.

...NOVE, OITO, SETE, SEIS...

Era a ultima olhada que Cristina dava em Michel, o garotinho de 5 anos, miudinho e caçula da família. Criativo de forma excepcional, há apenas algumas horas contara a ela uma versão da historia de chapeuzinho vermelho que não acabava muito bem, onde o caçador tirava a chapeuzinho da barriga do lobo, mas ela tinha se transformado num zumbi deformado pelo suco gástrico do lobo e por fim comia o caçador.

Dora aumentava o tom da voz para saberem que estava no fim da contagem.

...CINCO, QUATRO ....

Catarina atrás da estante tentava respirar normalmente sem fazer muito barulho, seus joelhos agora pressionavam a estante de livros que rangia um pouco. Isso não podia acontecer de forma alguma se ela quisesse ser a ultima encontrada.

... TRÊS ...

Cristina encostou a porta do quarto do casal, deixando apenas uma fresta e correu para a cozinha mais a frente.

Onde dorme a escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora