Segunda - 11 de Julho de 2016
O plástico do banco da sala de espera da Delegacia colava a toda hora nas pernas de Cristina. A movimentação constante e repetitiva de seus pés indicava seu grau de nervosismo, e o cola e descola do pobre material dos bancos produzia um som de tchek-tchek que começa a irritar Jacó.
O namorado a aquietou levando a mão a sua coxa e sussurrando calma em seu ouvido. O assovio clássico de mensagem de texto soando do smartphone veio da bolsa de Cristina, quase ofuscado pelo barulho das pessoas transitando de um lado para o outro e falando alto.
Passou o celular pra Jacó verificar, estava nervosa demais pra isso. Seu companheiro habilmente leu a mensagem de texto e exclamou:
_Mais uma daquelas mensagens, deve ser de presídio isso!
Uma mulher gorda veio do corredor com alguns papeis na mão e conversou com o funcionário do balcão sobre a novela das nove por quase dez minutos antes de se virar para o papel, ler alguma coisa e depois olhar para todas as cinco pessoas na sala de espera e falar:
_Cristina?
Cris se prontificou a identificar-se.
_O Detetive Alan vai te receber agora.
Levantaram os dois e acompanharam a mulher gorda por uma porta que dava para um pátio e um corredor com uma escada. Subiram a escada até um corredor comprido com salas de ambos os lados. A sala do Detetive Alan, não era uma sala fixa e sim uma sala vaga que encontrara para trabalhar naquela manhã e ocupada com o intuito apenas de receber Cristina.
Ouve um breve aperto de mãos. Cristina, sempre observadora, notou um desconforto do detetive, olheiras e barba por fazer. Seus cabelos curtos careciam urgente de um pente ou gel. Ele vestia um blusão de moletom escuro e o lugar era mesmo de paredes geladas apesar do calor do dia lá fora. Alan era atraente mas malcuidado. Esboçou um falso sorriso para o casal enquanto acenava para que fechassem a porta.
Jacó e Cristina sentaram-se do outro lado da mesa enquanto Alan permaneceu de cabeça baixa foleando folhas recém impressas.
_Bom... – disse, então limpou a garganta. – Bom... é um caso bem antigo certo. O Desaparecimento de Michel Mike Hudson.
O estomago da garota revirou.
Estava preparada pra isso quando recebera a intimação uma semana atrás. Quando viu o endereço do 7ºDP da cidade de São José dos Campos, quase desmaiara na ocasião. Vinte anos se passaram sem que ela voltasse a cidade, desde que ela se mudou com a família por conta da traumática investigação sobre desaparecimento do garoto Michel. Como temia ter que olhar pra cara do Delegado Rodrigues mais uma vez? Como temia voltar a essa cidade ainda mais sem seus pais.
A mãe de Cristina faleceu cinco anos depois que se mudaram para Curitiba, num acidente de transito. O seu pai ainda vivia, ao 74 anos, tinha Alzheimer e estava sobre os cuidados de uma clinica especializada. Cristina trabalhava no R.H. de uma empresa de publicidade e podia até pagar alguém para olhar seu pai ao invés de interna-lo, o que relutou em fazer. Mas mesmo assim era preferível isso a ter uma babá, chegar em casa um dia e seu pai ter desaparecido.
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Onde dorme a escuridão
Mystery / ThrillerVinte anos depois de desaparecer misteriosamente dentro de um guarda roupas, Michel é encontrado vivo. Junto com ele uma misteriosa sequencia numérica parece fazer paralelo com bizarros assassinatos. O caso pode ser a chave para que Alan, um detet...