— Desculpa, não sei seu nome — declarei enquanto colocava o cinto de segurança.
— André.
Ele ligou o carro e começou a dar ré sem realmente parecer estar prestando muita atenção em mim.
— Você realmente não precisa me levar. Ela mora a sete quarteirões, dá pra ir andando.
Ele não respondeu. Ficamos em completo silêncio enquanto esperávamos o portão da garagem terminar de subir.
— Você não vai me sequestrar e esquartejar, né? — eu finalmente perguntei, tentando descontrair o ambiente.
— Achei que alguém como você não tivesse medo de morrer.
— Alguém como eu? — indaguei, quase ofendida.
— Alguém que sobe em um prédio e considera pular — ele suspirou.
Ele fez uma pequena curva para sair da nossa rua e entrou na rua principal. Eu percebi o quanto aquela viagem seria curta e me vi, por alguma razão, querendo prolongá-la.
— Mas não pula — eu corrigi, porque era nessa parte que ele deveria estar focando. Não era justo que ele diminuísse justamente a minha mais excelente conquista do dia. — Alguém que sobe em um prédio, considera pular, mas não pula.
— Ainda assim... Achei que para sequer considerar acabar com a própria vida não se podia ter medo de morrer.
— É aí que você se engana. Muitos suicidas têm medo da morte.
— Sério? — ele virou a cabeça para me olhar. Eu ri.
— Não sei. Provavelmente.
— Você tem?
— Depende do jeito que ela vier — eu disse, encolhendo os ombros. Indiquei uma saída que o faria tomar um caminho duas vezes maior, e um segundo depois não sabia dizer por que tinha feito aquilo. André não pareceu se importar, ou sequer perceber. — A morte em si não me assusta, mas a dor me preocupa um pouco.
— Por que quis pular? — ele perguntou de novo, mas dessa vez com mais intenção de descobrir a resposta.
O semáforo o fez parar o carro, então ele estava olhando diretamente para mim, me pressionando com aqueles olhos castanhos e intensos.
— Porque a dor de cair de um prédio não se compara à dor que eu sinto todos os dias sem precisar fazer nada — eu falei finalmente.
Os olhos dele marejaram e ele esfregou o próprio rosto com certa agressividade como que tentando espantar as lágrimas. O sinal ficou verde, o carro de trás buzinou. André respirou fundo, forçou uma risada e voltou a acelerar.
— Desculpa — ele sussurrou.
E então, após algum tempo de silêncio, ele disse:
— Minha irmã se matou.
Senti de repente como se todo o ar tivesse sido sugado para fora do carro. Uma grande bolota de lágrimas estava entalada dentro da minha garganta, e eu não sabia o que dizer. Mordi meus lábios e fiquei calada enquanto ele dirigia o resto do caminho. Ele parou na frente do prédio da Gabriela.
— É aqui? — perguntou baixinho.
— É — eu disse.
Mas não saí do carro. Não me pareceu certo ir embora daquele jeito. De repente, toda a preocupação que ele tinha tido comigo fez completo sentido. Toda a raiva, a voz embargada, todas as piadas mórbidas.
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Mais dois passos e adeus [Completo]
Historia CortaAlice decidiu que queria morrer, mas o mundo tinha outros planos para ela. Depois de receber uma ligação misteriosa de uma velha amiga, Alice resolve dar uma nova chance a si mesma. É assim que se torna próxima de seu vizinho, André, que se in...