Amigo invisível

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Dois anos depois da morte do médico, eu fui morar com a minha avó.
Eu não saia de casa, eu tinha medo de tudo lá, tudo mesmo.
Minha avó, para piorar, dizia que lá era muito perigoso, isso só me deixava mais amedrontada, então eu me trancava no quarto da minha prima. Minha prima tinha casado a pouco tempo, então não usava mais o quarto. Eu tinha medo do meu quarto, pois minha avó tinha ò enchido de bonecas, de todos os jeitos, tamanhos e cores, e isso me fazia chorar, pois eu via as bonecas nos meus sonhos, eu tinha passado no máximo uma semana dormindo no meu quarto, desde então eu só dormia no quarto da minha prima, ou com meus pais.
Teve uma noite que todos haviam saído, então me deixaram dormindo e foram jantar fora, eu tinha acordado, procurei todo mundo, mas não achava ninguém, então eu queria entrar no quarto da minha avó, mas eu me sentia muito mal, então eu gritei pela minha avó, gritei uma, duas, três, quatro, cinco, ate que quando eu ia gritar pela sexta vez, alguém tampa minha boca.
- Cale- se !- dizia a mulher rouca que falava no meu ouvido - Você atormenta nossas vidas, maldita! - dizia.
Eu tentei pular, tentei me soltar, mas nada dava certo, até que dizem.
- Vou soltar, mas se gritar, vai pagar caro, maldita! - então ela soltou
Naquele momento eu tentei gritar, mas eu não tinha voz, eu gritava mas não saia nada.
-Eu sabia que ia gritar, maldita, eu te conheço desde quando nasceu, Maldita! - ela me chamava de 'Maldita' e eu não sabia porquê!
Ela me soltava de vez, e eu ficava lá, caída no chão, até que eu comecei a escutar risadas horrorosas pela casa, no meu quarto principalmente! Depois senti um chute em minha coxa.
-Seus pais chegaram, fique calada, nos encontramos mais tarde, Harley! - ela riu e sumiu.
Meus pais chegaram e eu os abracei, até que olho para porta do quarto de minha avó, e ela sai de lá, como se nada houve acontecido a alguns segundos atrás ! Então eu comecei a pensar que eu não teria jeito mesmo, minha vida estava acabada, se minha avó estava no quarto dela naquele momento e não escutou nada, é porque ela e nem ninguém pode escutar, então como eu um dia poderia falar pra alguém, se eu não tinha como provar, as pessoas iria achar que eu era louca!
Na noite seguinte eu pensei em morrer, porque eu não aguentava aquelas coisas, então quando era de madrugada eu repetia para mim mesma que queria morrer, eu ficava assustada com o meu estado, eu tava assustada comigo ! Então quando eu comecei a repetir eu escutei a mesma voz rouca da mulher.
- Você não pode morrer, docinho! Nós não vamos deixar você morrer, precisamos de você, e é bem viva !- a voz dela me deixava com medo, e eu ficava desesperada, havia me escondido embaixo dos cobertores, mas quando eu mal percebi, meu coberto voou. Eu fiquei com medo, comecei a chorar bastante, queria sumir, queria que tudo acabasse!
Até que minha porta abre, e eu vejo um pequeno ser vivo vindo em direção a mim, era bem pequeno mesmo, eu não sabia o que era, até que chega mais perto e eu percebo que é um garotinho! Eu simplesmente grito, grito até não conseguir mais, e ele manda eu fazer silêncio, pois ele não queria me matar, ele ia ajudar, mas eu fiquei em choque ai ver um menino de aparentemente menos de 1 ano de idade andando, era realmente pequeno. Eu me calava e ele chegava perto.
-Nao precisa ter medo! - ele dizia - pisque agora! - eu piscava e quando abrir os olhos, gritei ainda mais !
Ele tinha virado um homem, eu fiquei tão desesperada que acabei desmaiando.
Quando eu acordei já tinha amanhecido, eu pensei em tudo o que aconteceu na noite passada, então eu não tinha mais dúvidas, eu estava louca! Eu tinha que ir para um manicômio, eu quando acordei só conseguia pensar em camisas de forças, vozes, o menino que virou homem! Estava realmente muito assustada!
Eu passei o dia todo pensando, até que eu fui até o quintal de casa, fiquei lá sentada, e um menino apareceu, e era o mesmo menino da noite passada, eu fiquei com medo.
Até que ele senta e tenta conversar comigo!
Ele era bonito, cabelos claros, branco, aparentava ter 15 anos, mas o que ele queria ?
- Tudo bem? - dizia e eu simplesmente levantei assustada e entrei para dentro de casa.
Me tranquei no meu quarto, até que olho ao redor, e vejo que as bonecas estavam todas em prateleiras, e eu as olhava. Era a primeira vez que eu tinha ficado ali por tanto tempo olhando aquelas bonecas, eu encarava elas, até que o medo começava a me consumir, mas eu ainda encarava as bonecas, até que me aproximei mais, então eu comecei a falar com elas.
- Eu sei que vocês são vivas! Falem então! Mas não me machuque! - eu gritava em cima das bonecas, até que uma boneca cai, e eu me assusto, depois outra cai, depois outra, e outra, até que a prateleira cai e faz um barulho imenso e eu corro para o quarto da minha prima, passando pelo quarto da minha avó, então eu me tranco, ficava agachada no canto do quarto, até que alguém bate na janela e eu vou ver.
Era o mesmo menino que tinha falado comigo algum tempo atrás.
- O que você quer ? - eu dizia com medo
- Ser seu amigo ! - ele falava e eu não entendia.
Ele se aproximou e passou a mão em meus cabelos.
- Bela cabeleira, Harley ! - dizia .
Meus cabelos iam até abaixo da cintura.
- Obrigada....- Eu falava com medo ainda
- Meu nome é Davi! Não precisa ter medo, pode confiar em mim !- dizia
- Ta bom !- eu falava
Passaram- se semanas e eu e Davi estávamos cada vez mais próximos, até que um certo dia, eu resolvi levar ele pra brincar dentro da minha casa.
Quando eu passei pela minha mãe eu disse.
- Mãe esse é meu amigo Davi! - eu falava e ela me olhava como se eu tivesse louca
- Que amigo filha? - eu apontava para o Davi e ela continuava sem entender.
- A senhora não tá vendo ninguém além de mim ? - eu dizia com medo
- Não, princesa! - ela falou e eu olhei pra ele e ele estava com uma cara como se houvesse sido descoberto.
Então eu fui para o quarto e ele veio atrás.
- Você não existe! - eu disse pra ele
- Ei, claro que existo, existo pra você! - ele falava e eu estava sem reação
- Mas, eu sou louca! - eu falava
- Você não é louca, você é diferente! Você tem o dom de ver coisas que ninguém pode ! - ele falava tentando me acalmar pois nesse momento eu já estava começando a chorar
- E isso é o que ? LOUCURA! - eu gritava e me jogava na cama, chorando
- Nossa amizade não vai acabar por isso ! Ja vou ! Amanhã eu volto! - ele dizia e saia
Eu ficava na cama, pensando, eu tinha um amigo invisível, e isso era uma loucura, até quando eu ia continuar assim ? Quando essa loucura ia acabar ?

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