And I tried

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Todo os dias, no mesmo horário.

Ele saía do prédio, seguia pelo mesmo caminho, ia até o mesmo ponto da rua, e fazia a mesma coisa de sempre.

E eu nunca me cansava de assisti-lo repetir aquilo.

Não tinha coragem de interromper, nem de abordá-lo para dizer um "oi" ou perguntar porque ele fazia aquilo. Apenas o fato de vê-lo sendo adorável daquela forma era o suficiente para mim, apenas ver o brilho em seus olhos contrastando com o brilho das estrelas acima de nós era suficiente.

Mas houve um dia, um dia específico, em que algo diferente aconteceu.

Ele fez o mesmo de sempre, foi até a rua, olhou as estrelas, e sorriu como uma criança para elas, mas antes de ir embora, atravessou a rua, até a praça onde eu estava, e sentou-se ao meu lado no banco. Primeiramente eu assustei-me, porque não sabia que ele havia me visto, ou que sequer sabia da minha existência, mas, mesmo assustado e, talvez, um pouco trêmulo, apenas fingi que estava tudo bem e que eu não havia visto nada.

Um silêncio seguiu-se, mas não um silêncio constrangedor, afinal, nem sequer nos conhecíamos - pelo menos pela parte dele. Juntou as mãos em uma concha na frente do rosto, soprando, tentando, inutilmente, aquecê-las, e formando uma fumaça branca no ar.

Quantas batidas por minuto um coração pode dar até que seja considerada uma parada cardíaca?

Ele sorria para o nada, ainda com as mãos sobre a boca, olhando para as lojas já fechadas do outro lado da rua. Eu não tinha a menor coragem de perguntar nada. Nunca sequer ousaria desmanchar aquele sorriso doce em seus lábios.

- BaekHyun - ele disse, repentinamente, o que me fez dar um pulo por conta do susto. - meu nome, é Byun BaekHyun. - ele virou aqueles olhos negros na minha direção.

Nunca fui uma pessoa religiosa, nem de crença nenhuma, mas nunca fui completamente cético ou ateu, sabia que havia algo lá fora que estava acima de nós, mas não no sentido físico nem espiritual, e sim no sentido hierárquico. Algo maior, mais poderoso, onisciente, onipotente, e onipresente, apenas não havia criado uma teoria boa o suficiente para convencer a mim mesmo da existência deste ser.

Mas eu tenho certeza de que no momento em que eu vi aquele garoto, eu estava vendo um anjo.

Seus lábios pareciam pequenas nuvens. Sua pele me lembrava pêssego, tanto na coloração rosa-avermelhada quanto na textura. Os cabelos castanhos mostravam-se muito mais brilhantes debaixo da luz do único poste funcional que havia naquele lugar do que debaixo da luz fraca das estrelas.

E seus olhos, ah, eles brilhavam.

Mas não o mesmo brilho que emitiam quando ele olhava para as próprias estrelas, e sim um brilho natural.

Eu estava tão maravilhado pela cena a minha frente que esqueci que tinha que responder sua apresentação, esqueci como respirar, esqueci como falar, esqueci até mesmo meu nome.

Quanta informação um cérebro humano consegue guardar antes de ter uma sobrecarga de memórias?

- Quantas? - aquela voz doce me tirou de meus devaneios, e eu o olhei, indagando com o olhar que tipo de pergunta era aquela. - Quantas lágrimas podem ser derramadas até que alguém resolva que já chega de chorar?

Foi quando percebi que algo quente escorria por minhas bochechas.

Eu estava chorando?

Limpei as lágrimas, tentando me recompor. Desde quando eu estava chorando? E por que eu não havia percebido que estava chorando?

- Nos vemos por aí, grandão. - sorriu, levantando-se e atravessando a rua para fazer seu percurso típico de volta para seu apartamento.

Quantas vezes uma pessoa precisa negar até perceber que está apaixonada?

Heaven | ChanbaekOnde histórias criam vida. Descubra agora