O Assassino está do outro lado da Porta (Conto/Palhaço)

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Não pude abrir os olhos subitamente quando pancadas ritmadas na porta ampliaram minha dor de cabeça. Afinal, a luz intermitente que, pela janela, invadia aquele claustrofóbico recinto, onde me encontrava estirado no chão frio e úmido, retraiu dolorosamente minhas pupilas dilatadas devido ao demasiado tempo que fiquei mergulhado na escuridão total.

Senti meu corpo dolorido de tal forma que um insight invadiu meus perturbados pensamentos: Eu não havia dormido ocasionalmente. Estive apagado nas últimas horas devido a um forte golpe que recebi na cabeça. Apesar de ainda estar com os olhos semicerrados, tentei me levantar. Não consegui. E isso só aumentava o meu pavor. Em minhas narinas, um intenso e repugnante odor que, por alguma razão macabra que desconheço, pude identificar rapidamente: Cheiros de sangue e carne podre mesclavam-se naquele apertado cômodo.

– Maldita amnésia! – apenas murmurei, embora meu objetivo fosse um grito. Estranhei-me com o som gutural que saíra de minha boca.

Deslizei, em seguida, a mão esquerda pelo chão em uma nova e desesperada tentativa de ficar em pé. Esbarrei-a em um jornal cujo clarão pálido em que o quarto estava me permitiu lê-lo: PALHAÇO ASSASSINO CONTINUA FAZENDO VÍTIMAS. Era o que dizia a manchete assustadora.

Minha memória, aos poucos, foi retornando. Todavia, ainda estava longe de desatar todos os nós de mistério que ali foram dados.

Coloquei-me de pé e, ainda atordoado e cambaleante, analisei melhor o lugar. Para o meu interminável desespero, havia três cadáveres dilacerados e desfigurados. Uma imensa faca encontrava-se suja de sangue sobre a cama encharcada pelo líquido escarlate. O brilho diabólico do instrumento refratava a luz na direção da porta que agora quase cedia com os golpes cada vez mais potentes.

Naquele mesmo dia fatídico, havia eu chegado com mais três amigos naquela casa de campo para um final de semana agradável em meio ao bucolismo relaxante. Entretanto, um assassino terrível pôs fim em todos. Eu consegui fugir. Devo ter me trancado naquele quarto pouco antes de desfalecer. Mas agora, alguém tentava arrombar a porta. Não posso deixar esse serial killer entrar aqui, pensei.

Antes, porém, de tomar qualquer atitude, meus piores medos se tornaram reais, e a porta foi arrebentada. Fiquei paralisado em um estranho estado de choque ao passo que uma brisa gélida invadia o ambiente juntamente com luzes vermelhas e azuis intermitentes. Esperei a morte iminente. Homens entraram. Agarraram-me com violência enquanto gritavam imperiosamente fonemas que para mim eram difusos. Imobilizaram-me. Não tive forças para me defender, dar o meu parecer diante das conjecturas em que fui exposto.

No entanto, quando me empurraram para fora do quarto, um imenso espelho redondo me foi revelado na parede do corredor. Eu olhei para ele, e a imagem que ele devolveu para mim foi a de um sinistro palhaço algemado sendo preso por policiais implacáveis.

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