Quatro - Despertada

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A luz da manhã queimou meus olhos, minha cabeça doía, sentia um desconforto estranho na nuca. Foi quando uma súbita lembrança se apoderou de mim, Tyler havia quebrado meu pescoço. Mas como eu ainda podia estar respirando? Lembrei-me que momentos antes, Tyler me fizera beber seu sangue... Mas logo descartei essa imagem absurda de minha mente. "Aquele garoto não me matou, eu apenas bebi demais e acabei perdendo a hora... Estou bem ferrada, com certeza, mas eu não morri."

Olhei ao redor, eu me encontrava em um quarto, deitada numa cama onde havia mais duas garotas dormindo. Havia um pessoal no chão também... "Recapitulando... Eu bebi demais e apaguei em um dos quartos da casa" Verifiquei meu estado físico. Eu estava totalmente vestida, da mesma forma que saí de casa. "Graças á Deus, não fui estuprada". Mas os raios da manhã ainda me incomodavam de mais. "Ressaca!"

Ouvi um barulho de ducha. Alguém estar de pé àquela hora não era tão surpreendente, tem gente que nem seque havia ido dormir ainda. Espreguicei-me e cocei os olhos, fazendo com que eles se acostumassem logo àquela luz forte. Olhei para uma das meninas ao meu lado e vi que a mesma tinha um relógio de pulso. Agarrei seu braço para olhar as horas, mas acabei me assustando com a frieza de sua pele, largando em seguida.

- Ei... – Cutuquei a menina, ela nem se mexeu. – Ei!

Cutuquei mais uma vez... Fiquei encarando seu corpo inerte, e quase caí da cama quando não notei movimento de respiração. Um grito agudo saiu pela minha garganta, mesmo com a minha tentativa de segurá-lo pondo as mãos sobre a boca. Mais uma vez olhei ao redor, ninguém havia nem sequer se mexido por causa do meu grito, a não ser a ducha. Eu não a ouvia mais. Fosse quem fosse que tivesse matado aquelas pessoas, agora estava saindo do banheiro e vindo me pegar.

Levantei rápido, procurando meu celular dentro do meu corpete, mas eu não o encontrei.

- Está procurando por isso?

A voz era conhecida, mas não familiar. Virei rápido na direção do dono desta voz, encontrando um rapaz moreno todo molhado e completamente nu, segurando meu telefone entre o polegar e o indicador. Tyler sorria irônico, como se aquela cena fosse muito divertida pra ele.

- Sua mãe já ligou umas três vezes, sua irmã cinco... Bom, deduzi que fosse sua irmã, até porque a menina na foto é sua cópia fiel.

- Olha, cara... Eu não quero problema, eu só quero ir embora. Eu não vou dizer nada pra ninguém, eu juro!

- Você não pode ir embora nesse estado. Está em transição.

Eu ignorei cada palavra, me esforçando pra manter meus olhos em suas mãos, preparando-me para correr ao menor sinal de ataque.

- Por favor, cara! Meus pais devem estar loucos atrás de mim! Eu não vou dizer nada, eu prometo! Me deixa ir embora!

- Você não está entendendo a situação... – Seu tom de voz era tranquilo e aquilo foi o que mais me assustou, mesmo que por fora eu estivesse uma rocha. – Do que você se lembra da noite passada?

- De nada. Eu bebi demais... Na verdade eu nem sequer me lembro de ter acordado aqui... Aliás, eu tenho certeza de que acordei na casa da Sam. Era isso que queria ouvir? Posso ir embora agora?

Ele suspirou, deu a volta até uma cômoda e puxou uma gaveta. Em seguida ele vestiu uma cueca. Suspirei aliviada, por não ser daquela vez que seria estuprada. Ele virou-se novamente, e caminhou em minha direção, dando a volta na cama. Pulei pra cima na cama, passando por cima dos cadáveres e indo para o outro lado.

- Não percebe o quanto isso é ridículo? Se eu quisesse machuca-la, já teria feito isso.

Mais uma vez ignorei suas palavras, eram as palavras de um homicida e eu não cogitaria em leva-las á sério. Meu olhar de repente se ateve ao corpo da garota, mas especificamente á mancha de sangue abaixo de seu pescoço, onde havia dois buracos paralelos, além da marca de dentes em toda á volta. Encarei o rosto moreno novamente.

- O que é isso? O que você é? Um maníaco homicida com um fetiche estranho por vampirismo?

- Não, eu sou um vampiro mesmo.

Ele abriu a boca e eu vi seus caninos crescerem, seus olhos mudarem e estrias estranhas surgirem em sua face. Não contive o grito.

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