A Outra Argent

Dois - Retornada

A notícia da morte da Allison me atingiu com um baque absurdamente doloroso. Eu senti como se meu peito estivesse se rasgando de dentro pra fora, chorei por horas, depois da ligação de papai, enquanto arrumava minhas malas. Ele havia implorado para que eu fosse, disse que não suportaria sozinho. Mas eu iria de qualquer maneira, mesmo se ele não quisesse, precisava ver minha irmã pela ultima vez. Mas imaginar sua pele fria e seu rosto sem a vida que sempre teve era massacrante.

Decidi que levaria tudo. Eu iria pra ficar. E meu pai não iria me deixar partir mesmo... Ele precisava de mim e eu não o abandonaria, porque acima de tudo eu o amo. Ele é o que me restou de família e eu não vou abandoná-lo. No fim "tudo" ficou dividido entre cinco malas e duas caixas. Eu não tinha muita coisa... Comprei a minha passagem só de ida para a Califórnia pela internet, para o voo mais próximo, chamei um táxi e parti para o Aeroporto de New Orleans.

Chorei mais um pouco dentro do táxi, lembrando-me dos meus momentos com a Alli, de como ela me fazia rir. De quando ela me ligou escondida no meio da noite pra contar que tinha conhecido um garoto na escola nova, e eu quis tanto estar lá com ela... Poderia ter sido o nosso primeiro dia, poderíamos ter feito o dever de casa juntas, poderíamos ter fofocado a noite toda sobre os gatinhos que conhecemos na escola nova, como fazíamos em São Francisco. Mas eu tive que fugir pra droga de uma festa! Eu tive que morrer e virar uma monstruosidade! Agora eu não tenho mais minha irmã, só tenho um cadáver frio me esperando em Beacon Hills.

Nem fiz questão de enxugar as lágrimas, quando saí do táxi, o taxista já estava mesmo me olhando com pena... Colocou minhas coisas num carrinho, paguei-lhe a viagem e saí empurrando o carrinho com um pouco de pressa até o portão de embarque. Nem estava na hora do voo ainda... Mas eu não me importava. Só queria ser a primeira a entrar, e certamente a primeira á sair.

O embarque do meu voo, foi anunciado meia hora depois da minha entrada no aeroporto. Entrei no avião e fui logo para o meu lugar. Dormi o voo inteiro e agradeci por isso, pois estava cansada. Sonhei com a Alli, uma mistura de lembrança com fantasia... Nós tínhamos oito anos, uma época que gostávamos de fingir ser uma a outra. Mamãe e papai ficavam enlouquecidos, era muito divertido. Estávamos na nossa casa em São Francisco, brincando de esconde-esconde com os filhos dos vizinhos. Nos escondemos juntas no armário e nos perdemos lá dentro, mas não tivemos medo, porque estávamos juntas. "Annya, não solta minha mão. Eu te protejo"... Acordei com lágrimas nos olhos, no momento em que o piloto anunciou o pouso.

Passei pelo portão de desembarque e avistei meu pai. Eu o reconheceria em qualquer lugar. Logo que ele pôs os olhos em mim... Nenhum de nós conteve as lágrimas. Vê-lo correndo em minha direção, sentir seu abraço... Eu pensei que isso nunca mais aconteceria. Mas acho que desde que a Allison começou a namorar um lobisomem, o coroa acabou relevando seus conceitos. E ali estava a mão da minha irmã, sempre segurando a minha, mesmo estando tão longe uma da outra.