Mentiras

121 14 1
                                    

Durante todo o meu caminho, não tirava da minha cabeça aquelas palavras e a confirmação de que essas "visões" eram realmente um dom e que havia sido passado por mim através da minha avó e com a leitura de tudo aquilo, eu poderia saber pelo menos ou ter uma ideia, de como tudo aquilo começou, descobriria o que era isso.. Seria um divisor de águas em minha vida. 

Assim que cheguei em frente a casa amarela clara e branca de Ally, prendi a respiração por poucos segundos, me assustando com o fato de quê havia algumas luzes acesas e isso significava que ela poderia estar acordada. Parei com a moto ainda na parte de fora e destranquei o portão baixo, arrastando o trambolho pelo jardim bem cuidado dela. Deixei tudo no fundo e peguei as evidências em relação a Louise, ou simplesmente, minha avó.

Destranquei a porta da frente com cuidado, vendo a casa ainda calma. Allyson ainda estava dormindo, então pelo menos até agora, eu poderia continuar analisando tudo e depois a explicava tudo. Me sentei no sofá cruzando as pernas e suspirando, passando os dedos pela estrutura da caixa de madeira. Fui até o quarto de Ally, escondendo a chave de novo. O molho de chaves era pesado e repleto de chaveiros e com meu cuidado extremo para não fazer barulho algum, seria bom demais se nada acontecesse.. Se assustando com o estalo, ela levantou de imediato, encarando a cena por uns 5 segundos, que foram mais torturantes e lentos que 5 horas. Enquanto a mesma alternava o olhar para mim, minha roupa e minhas mãos na chave, eu abria a boca tentando encontrar palavras e argumentos bons o suficiente para minha defesa. 

"Al-" Ela me cortou antes que eu continuasse. 

"O que foi que fez?" Respirei fundo e guardei a chave. 

"Chris me ligou, achou umas provas e uns documentos velhos sobre a minha avó. Você não vai acreditar em tudo que eu li, você não sabe o quão estou confusa e essa era a peça que faltava para completar todos os quebra-cabeças, Ally! Talvez eu possa finalmente acabar com essa farsa de Michelle e voltar como a Outra filha, que descobriu tudo." Vomitei todas as palavras de uma vez, enquanto ela caiu da cama, correndo até mim e pegando tudo das minhas mãos. 

Camila Cabello

Os dias pareceram passar mais vagarosamente que nunca; Vi Michelle na segunda-feira e esperei ansiosamente até o sábado. Eram 17:00 horas e eu estava mais ansiosa que nunca, eu precisava vê-la, acertar tudo o que tínhamos, eu estava confusa. Eu sentia falta da sua antiga amizade, talvez era melhor ter apenas sua amizade mesmo e esquecer um pouco das cores que compartilhávamos há mais ou menos oito meses. Eu não podia negar que ela era importante e com aquele seu jeito rebelde, despojado e louco, me tirava da minha realidade, me proporcionava momentos que eu não tivera vivido nem em minha adolescência. Ela era a única pessoa, a única coisa, que eu tinha em toda a minha vida e por mais que eu relutasse contra isso, que eu não gostasse muito de admitir, eu não aceitaria perdê-la. 

17:30 resolvi ler alguns dos arquivos que estavam no computador, visando me distrair, mas ela não saia da minha cabeça. Recebi um SMS e com o barulho da notificação, me arrepiei correndo até o aparelho, vendo que era apenas minha secretária, bufei e me arrependi de ter aberto a mensagem depois do conteúdo. 

"Senhorita Cabello por favor, dê uma chance ao caso do senhor Jack." Silenciei seu número e não a respondi, vendo que se tratava do caso que eu não aceitei, o assédio sexual. Depois daquele depoimento lido, sobre ele ter estuprado uma garotinha de 9 anos, Laura, Lauren.. Enfim, não importava. Eu só queria considerável distância daquele homem. Deu 18:00 horas e eu não aguentei, discando seu número na tela do celular. Depois de insistentes toques, Michelle me atendeu. 

"Diga Camila." Ela foi dura, pigarreando. 

"Eu ainda estou te aguardando." Me joguei no sofá, lembrando que as 18:30 chegaria a comida que eu havia pedido para nós e eu só montaria a mesa. 

"Não era pra eu estar aí ás 19:00?" Sorri. 

"Então está mesmo cogitando em vir?" Mordi o lábio inferior, enquanto ela bufava.

"Eu não sei, mas agora eu estou ocupada e tenho muito mais o que fazer, tch.." A interrompi. 

"EI! Não desliga na minha cara! E lembre-se, ou você vem ou irei ai pessoalmente lhe puxar pelos cabelos. Atenciosamente, Senhorita Cabello." E antes que ela pudesse protestar mais, desliguei. Ri depois daquele curto diálogo, pensando em como Michelle estava diferente logo depois. Sempre fora tão sagaz, desafiadora, perigosa.. Agora ela quase não tinha respostas, era mais tímida, fechada e até mesmo carinhosa. De repente não usava mais drogas, nem ilícitas ou lícitas, seu cabelo não estava o tom negro escuridão de sempre, parecia estar mais claro e o brilho em seus olhos não era mais visível, agora sua visão era opaca e indecifrável. Parecia conseguir até mesmo as mentiras mais sujas diante de um polígrafo. Não que aquilo me intimidasse.. ela devia mesmo era estar passando por mais alguma fase. Amadurecendo. Ou apenas tomando juízo. 

No fim era mais um dos seus personagens ou nova máscara e por dentro, continuava sendo a mesma. Michelle sempre foi uma caixinha de surpresas. Ela usava várias máscaras, tinha seus personagens e só se mostrava de verdade para quem julgava ser merecedor. Aliás, não tinha essa "de verdade".. Ela nunca demonstrava totalmente seus sentimentos, tudo estava escondido nas entrelinhas, verdades ocultas. Todos éramos peças de seus jogos internos. Talvez por isso era tão divertido estar com ela. Mas nos últimos meses, tinha posto em sua cabeça de todo jeito que tinha uma irmã gêmea e tentara encontrá-la de todo jeito. O que eu julgava ser loucura, seus pais nunca esconderiam uma filha assim, sem falar que procuramos em todos os registros, em tudo.. No hospital onde ela nasceu, conexões com seus pais, usando o sobrenome.. Uma das coisas que eu estranhava também era que Michelle tinha apenas o sobrenome de seu pai, Michael. Não que isso fosse suspeito, talvez um erro de quando fora registrada.. Há uma semana atrás, quando ela ficou com ódio de mim, pedi para ela esperar que investigaríamos, porém fiquei no escritório. Bom, quando voltei a encontrá-la, estava estranha, amedrontada e tão confusa. Se soltou depois de beber um pouco e até achei que fosse uma maneira de me "punir". Até quando fomos para cama, parecia que eu estava transando com outra pessoa. Michelle costumava ser mais decidida, bruta, carnal e naquele momento eu vi ela praticamente desabrochar em minha frente. Agora essa era a nova ela. Com certeza, mais um de seus personagens. Aquela não era Michelle.. Essa garota deveria ser seriamente estudada. 

Acordando de meus devaneios, atendi o interfone, indo na portaria buscar o nosso jantar. Ah, se ela não vir!

Steal Her LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora