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E ela o fez, com a mão dentro do meu cabelo, o bagunçando por completo. Assim que terminamos ela me avaliou mais uma vez, sorrindo e me roubando outro beijo.

"O que faremos hoje? Deixo você decidir, pois hoje passaremos a tarde inteira juntas!" Ela disse de maneira fofa e eu fiquei inquieta no banco.

"Acho melhor você escolher porque eu sou muito indecisa.." Ela me interrompeu.

"Quem te viu quem te vê, Michelle. Sempre tão determinada!" Ela disse enquanto sorria de lado balançando a cabeça negativamente. Camila pousou a mão na minha coxa e eu me metralhei por dentro, por que eu tinha que ser tão diferente da minha irmã?

"Mas enfim, você me interrompeu e sabe que eu odeio isso!" Bufei enquanto revirava os olhos, e fingia indignação, aquilo era parte do teatro.

"Continue então, rainha!" Camila ironizou apoiando o braço na janela e jogando o corpo para o lado. "Sabe Michelle, você consegue ser bem confusa quando quer. Só saiba que eu não vou estar sempre a sua disposição!"
O que eu faria agora? Decidi que nessa situação agiria apenas como Michelle. Tudo que se relacionasse a ela, eu usaria. Ela era manipuladora, egocêntrica, inconsequente, irresponsável.. Totalmente o oposto de mim.

"Ah não seja tão dramática, daddy." Passei para o outro banco, juntando ao máximo as pernas de Camila e me sentando em seu colo. No painel que continha na porta, levantei todos os vidros, liguei o ar condicionado e passei a chave pela ignição. Eu sabia dirigir, se Michelle sabia, não era do meu conhecimento, mas bom, não faria mal me realizar um pouco na minha irmã gêmea não é?

"Quando você aprendeu a dirigir?" Ela perguntou apreensiva. Sorri e lhe roubei um beijo arrancando com o carro.

"Para onde vamos?"

"Já disse que você decide.." Camila me encarava com um sorriso enquanto apertava minha cintura.

"Mas eu já disse que você decide!" Parei no cruzamento.

"Apaga esse fogo porra, dirija pra onde quiser ir ou saia do carro!" Me virei com o meu melhor olhar superior mas ela falava sério e aquilo estava obvio em toda sua expressão facial, ela me fez tremer. Voltei a focar na direção, eu não tinha a menor ideia para onde ir, mas sempre quando eu via uma direção e sentia que devia segui-la, para mim era o bastante. E foi assim que paramos na rua do meu manicômio. Na mesma estrada onde minha irmã havia sido atropelada. Tudo aquilo veio a minha cabeça, o medo de voltar para lá, a angústia que eu sentia ali dentro, a minha ideia louca de roubar a vida dela, apertei os olha com força me arrepiando. Mas o pior foi mirar em um poste e ver um cartaz. Nele as palavras DESAPARECIDA estavam quase pulando dali, de tão notáveis e enormes. Mas isso não era o pior, em baixo uma foto minha e o nome: Lauren Jauregui.

Quando me deparei com aquilo deixei o carro derrapar na pista perdendo o controle de tudo e me encolhi, começando a chorar. Nossa sorte foi que haviam poucos carros na estrada que seguíamos e não chocamos em nenhum. Meu maior dano foi meu corpo ser jogado para o lado com força e paramos no acostamento. O impacto foi tão grande que minha mente começou a pregar peças em mim mesma. Tudo que passava na minha cabeça era eu voltando para aquele lugar infernal e sendo julgada por todos, inclusive por Michelle, o que não me surpreendia muito.

Dois homens cobertos de branco da cabeça aos pés me pegavam pelo braço e me arrastavam de volta para aquele prédio asqueroso, me jogavam no meu "quarto" e lá me injetavam alguma coisa, mesmo eu gritando e me debatendo e então no próximo segundo era como se eu estivesse em uma câmara de tortura, onde qualquer poderia decidir o que fazer para me afetar e então em cada uma das cabines cheias de botões estavam Allyson, Michelle e Camila. 

Acordei com a mesma em cima de mim desesperada.

"Que merda Michelle você quer me matar? Derrapou com o carro, se machucou mesmo que pouco mas esse não foi o pior.." Ela disse ofegante me encarando com os olhos quase saltando das órbitas. "Você está há meia hora de batendo, gritando e chorando. O que há de errado?" A puxei para mim de imediato me agarrando ao seu corpo de forma como se fosse minha única necessidade. E naquele momento era. Camila estava confusa mas correspondeu à altura.

"Desculpa." Pedi com o fio de voz que ainda restava.

"O que está acontecendo?" Ela pedia acariciado meu rosto com as pontas dos dedos, perigosamente próxima. Chorei ainda mais. "Calma linda, só me explica!" Eu queria poder contar tudo, mas era, contar tudo e aquele sonho se tornar realidade. A apertei ainda mais contra mim molhando sua camisa social. "Não precisa pedir desculpa, eu to aqui." Continuamos assim por uns 20 minutos, até que ela me pôs no banco de trás em posição fetal, eu me sentia um bebê de novo, não só pela fragilidade e da maneira que ela me colocou assim. Mas também do jeito que ela me tratava e eu gostava disso. A mesma assumiu o volante e não consegui acompanhar para onde íamos, apenas senti minhas pálpebras pesando.

Acordei com o supercílio ardendo e me levantei medrosa.

"Calma Michelle e sossega aí, porque eu preciso passar gelo!" Eu estava na casa de Camila, mais especificamente na sua cama e ela estava esfregando um paninho com duas pedras de gelo em meu supercílio, me deitei de novo e vi que ao seu lado também tinha álcool e alguns papéis com sangue. Eu tinha me cortado quando choquei com a porta do banco do carona. Ela pôs álcool dessa vez e eu gemi arqueando as costas para trás.

"Eu quero cuidar de você, bebê, mas você tem que deixar!" Ela pediu da maneira mais carinhosa possível e eu voltei a posição inicial, mordendo os lábios com força, a ponto de sentir o gosto enferrujado de sangue depois. Aquilo realmente estava ardendo, mas assim eu podia prestar a atenção no lábio sangrando e esquecer da dor maior em meu supercílio. Assim que terminou, Camila abriu com a boca um band-aid infantil da hello kitty e eu não pude evitar não rir.

"Era tudo que tinha aqui!" Ela deu de ombros rindo também. Cabello se aproximou e colocou-se lateral do corte, colocando um pedaço de gaze e esparadrapo no meio. "Pronto!" Ela sorriu e eu retribui o sorriso. "Acabou que nem fizemos passeio nenhum, não é? Não tem nem mais clima para isso.."

"São que horas?" Perguntei sugestiva me sentando na cama.

"Você saiu do colégio uma hora, já são duas e meia."

"Ah, temos tempo!" Eu disse leve. "Se quiser ir a algum lugar."

"Eu to exausta, vamos ficar aqui mesmo." Ela se jogou na cama, baixando o zíper de sua saia social e me puxando pela cintura.

"Não! Você disse que iríamos sair hoje e é isso que vamos fazer!" Eu disse tentando passar seriedade fazendo minha melhor cara feia, mas ela riu sarcástica me puxando mais ainda, me forçando a deitar ao seu lado. "Não Camz! Eu falo sério!" Emburrei reclamando com a voz mais fina que o normal.

"Eu também!" Ela respondeu fazendo voz afetada e eu dei um tapa em seu braço. "Pensei que quem espancava era eu!" Por um momento esqueci daquelas ilusões horríveis e me permiti apenas ficar com ela.

Steal Her LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora