Prólogo.

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Oito horas antes..

"Eu não sou louca, não sou louca, não sou.." Lauren repetia para a amiga em sua frente, abraçando os joelhos, com o rosto banhado em lágrimas. "Não tem razão para eu ser internada aqui. Estou a ponto de ficar louca de verdade. Me ajuda, me tira daqui por favor!" Ela pedia com toda a sua alma, gritando por socorro. Se contorcendo e abraçando mais o próprio corpo. Allyson a observou com lágrimas nos olhos, com o coração na mão, abraçando a garota logo depois.

"Eu queria ser capaz de te tirar daqui, Lauren. Eu queria poder fazer alguma coisa! Mas eu não posso, ainda falta uns meses para completar maior idade e não temos nenhum parentesco. Eu sei que você não é louca, eu sempre vou estar aqui para você, eu prometo!" A mais velha a aninhou em seus braços, a apertando contra si e afagando seus cabelos.

"Eu te amo Ally." Lauren disse num soluço doloroso, com a garganta entre cortada devido às lágrimas.

"Eu te amo mais, Lauren!" Elas se separaram e a mesma acariciou o rosto pálido da garota a sua frente. "Eu não sei como aguentou ficar aqui nesses sete meses, mas eu quero te ajudar.."

"Me ajude a fugir, Ally." Lauren viu ali sua chance, enxugando as lágrimas. "Nós damos um jeito de eu sair daqui! Nem que seja morta, eu não quero mais ficar aqui Allyson, por favor me ajuda. Eu não quero mais!" Jauregui chorava ainda mais, se encolhendo e se engasgando com suas próprias lágrimas.

Internada em um hospício, apenas por uma confissão.. Maldita confissão! Para alguns um dom, mas para seus pais, uma aberração, Lauren era capaz de ter visões. Bom, 90% das vezes, quando sonhou com a morte de alguém, a pessoa morreu e exatamente do jeito que ela previra. Ela não aguentava mais guardar aquilo para si, era uma adolescente atormentada. Até que em seus dezesseis anos, se viu numa situação daquelas. Tudo que ela mais ansiava era prever sua morte de uma vez por todas, descansar em paz, tudo que ela mais desejava era acabar com aquele sofrimento, ela queria, ela precisava morrer.

"Lo, eu não quero piorar sua condição! Você já tentou fugir uma vez e você sabe o que aconteceu.. Foi colocada em uma camisa de força e sedada. Quero te poupar de mais sofrimento, mas se estiver mesmo disposta e prometer que não vai fazer mal consigo mesma, eu volto aqui de madrugada e nós fugimos." Allyson disse enquanto a mais nova ficava atenta a cada letra que saía da boca dela. Lauren assentiu. "Vou te dar dois dias para pensar," ela deu uma olhada no quarto, vendo as câmeras de segurança e disfarçadamente colocou um aparelho celular dentro do roupão de Lauren. "Me ligue se precisar de uma coisa, mas não se esqueça das câmeras e não faça besteira!" Allyson pediu e Lauren a agarrou em um abraço apertado.

"Obrigada por tudo! Eu te amo muito, nunca se esqueça disso! Você é extremamente importante para mim e eu nunca suportaria lhe ver sofrer, se algo acontecesse.."

"Você sabe que não precisa agradecer, eu já vou indo.. Se cuida! Nada vai acontecer, princesa!" Ally deu um beijo em sua bochecha, pegou sua bolsa e saiu do quarto 113.

Lauren amava a melhor amiga, mas precisava fazer isso. Era a única saída. Ela se jogaria do último andar do hospício essa madrugada. Não queria trazer sofrimento para Allyson, mas não estava mais aguentando tudo aquilo. Estava a ponto de explodir.

Duas enfermeiras vieram com sua medicação e Lauren engoliu, mostrando a boca para elas. As duas saíram e ela correu até o banheiro puxando vômito e colocando tudo aquilo para fora. Sabia que o horário que as luzes se apagavam eram onze da noite e segundo o celular que Ally havia lhe dado eram oito e quarenta.

"Minha última noite de sono.. Último sonho, um ponto final em tudo isso." Lauren disse, se virando de bruços, de cobrindo devido ao vento gélido que vinha da janela aberta e fechou os olhos. Se deixando levar pelo cansaço.

Rua C, curva esquerda da avenida mais movimentada de San Diego. Meia noite. Lauren viu um caminhão, vindo em sua direção. Se chocando contra seu corpo. Morta na mesma hora com o impacto, seus pés e pernas se prenderam nas embreagens e seu corpo perdia cada vez mais sangue. O motorista do caminhão foi embora sem prestar socorro. Ela tinha ficado lá, abandonada, no meio da pista, o corpo sem vida, o sangue escorrendo mas o seu rosto estava sereno, a alma enfim descansando.

Lauren despertou assustada, finalmente o sonho que mais esperava, a revelação, o sentido de tudo. Sorriu, desistindo da ideia de se suicidar. Ainda restavam uma hora para aquele acidente se concretizar, foi até o banheiro com o celular escondido e discou o número de Allyson.

"Lauren? Você está bem?" Allyson perguntou preocupada.

"Sim! Ally, eu sonhei com a minha morte! Falta uma hora para ela se realizar, finalmente vou poder descansar em paz! Vai ser num atropelamento com um caminhão, por favor me busca aqui no Hester! Eu vou poder descansar!" Lauren nunca esteve tão feliz. Aliás, ninguém nunca esteve tão feliz com sua própria morte.

Allyson sabia que quando Jauregui sonhava, não dava para ser evitado, a sua revelação acontecia. Mesmo desapontada, triste e chorosa, sabia que aquilo era o melhor para Lauren.

"Chego em vinte minutos." Ally disse se arrumando e pegado o carro, seguindo até o manicômio Hester. As luzes já estavam apagadas e todos dormindo. Os seguranças estavam fazendo a ronda em outro andar, então Lauren só pegou o celular, passou pela porta, a encostando e foi até o elevador. Assim que ele foi aberto, dois seguranças apareceram na frente dela. Estranhando sua presença ali, prontos para interceder. Lauren não sabia o que fazer, se encolheu e esperou ser levada. Até que ouviu uma voz conhecida!

"Ei! Deixem minha paciente aí, estão loucos?" Era Allyson, ela estava vestida como uma enfermeira. Lauren reprimiu um sorriso. "Ela precisa de alta medicação, iriam mesmo interceder? Olhem a condição, a roupa da garota.. Vão continuar sua ronda, pois parece que tem um fugitivo no quinto andar."

"Perdão senhorita!" Pediu o mais alto e eles entraram no outro elevador, indo até o quinto andar.

Allyson pegou Lauren pelo braço e a "arrastou" até seu carro.

"Me dê as coordenadas." Ally disse no banco do motorista. Lauren indicou o caminho correto e a hora exata do acidente. Elas chegaram lá na hora. Até que viram uma garota sendo arremessada de um caminhão. "Só estamos três minutos atrasadas, esse não era para ser seu acidente, Lo?" Perguntou Ally confusa.

Lauren saiu do carro junto com a amiga e elas foram até a garota jogada no chão. E então a surpresa. Jauregui não conseguia acreditar, se sentia num sonho.

"Lauren essa garota é idêntica à você!" Allyson disse num grito, se agachando até a menina.

"Não pode ser possível! Eu não acredito!" Foi tudo que Lauren conseguia dizer encarando o rosto, o corpo da garota e vendo que elas eram iguaizinhas.

Allyson revirou os bolsos da jaqueta preta da garota ensanguentada e viu a identidade "Michelle Morgado. 16 anos. Lauren até a data de nascimento dela é igual a sua!" Ela disse surpresa.

"Somos gêmeas?" Lauren perguntou ainda com o cérebro devagar.

"Ainda não está óbvio? Lo essa é sua chance! Aqui tem tudo dela, vocês são idênticas! Ninguém nunca vai perceber! Podemos lavar essas roupas, lhe arrumar assim e sua vida vai mudar! Só sei que para aquele manicômio você não volta mais!"

Steal Her LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora