You In My Arms

Capítulo 7 - Chamas e Sussurros

Abri lentamente meus olhos, colocando meus braços em cima deles, evitando que a luz solar os machucasse. Cocei, tirando sua poeira, e olhei para o lado, à procura de Hus, mas ele não estava lá. Tudo bem, não me importei muito no começo, talvez ele já tivesse decido. Tirei meu cobertor. Levantei-me da cama. Coloquei meu casaco vermelho novamente (Eu amo usar casaco, não me julguem). Fui abrir a porta mas ela permanecia trancada. Estranho, lembro-me de ter trancado a porta noite passada, mas a chave continuava do lado de dentro de meu quarto. Aquilo tudo não pode ter sido um simples sonho... Não. Foi tudo real de mais para ser um simples sonho.

De qualquer forma, torci a chave na maçaneta, destrancando a porta e abrindo-a. Caramba... Estava muito quente do lado de fora do quarto...

Logicamente tirei meu casaco.

- Pom?! Pom! Você aumentou a temperatura do termostato de novo?!

- Grito à sua procura, tirando o suor do rosto conforme caminhava.

A única coisa que ouvi foi um eco. Um frio e seco eco.

- Hus?! Luna?! Alguém?

Novamente, ouvi apenas um eco eterno. Não recebi resposta alguma. Estava começando a ficar com medo.

Vi algo avermelhado eliminando por completo as paredes de casa. Eram labaredas. As mais fortes e quentes labaredas que já havia visto em toda a minha curta vida. Terminei de descer as escadas e fui até a porta do quarto de baixo, onde Pom ficava às vezes quando não queria ser incomodada.

- POM!! HUS!! LUNA!! VOCÊS ESTÃO AÍ?!! - Gritei o mais alto possível.

- Shibe?! É-É você mesmo...?! - Ouvi uma voz masculina e aconchegante do outro lado da porta. Deduzi rapidamente quem era o dono daquele timbre.

- Hus!! O que está fazendo aí?!!

- Quando desci as escadas ouvi algo me chamando para dentro desse quarto. Segui a voz e a porta se fechou do nada! Trancando-me aqui dentro.

- Uh... E-Eu... Eu vou dar um jeito de te tirar daí... Só um instante!

- Rápido! Não sei mais quanto tempo aguento aqui dentro!

Droga! Olha no que eu me meti... Bem, não é hora de resmungar, tenho que pensar em alguma maneira de ajudar Hus...

A casa estava a cada segundo se despedaçando. Uma das toras que segurava o telhado quase me esmagou quando caiu em chamas. Enrolei meu casaco nas mãos e segurei a tora de madeira, mirando-a na porta do quarto onde Hus estava trancado.

- Um... Dois... Trêêêêês!!!

Empurrei a tora com toda a força na porta, mas ela apenas rachou um pouco.

- Funcionou?! - Hus pergunta.

- N-Não... Espere, tive mais uma ideia.

Coloquei novamente meu casaco, mesmo me sentindo uma batata frita fritando na panela. Comecei a me jogar na porta, dando "ombradas" nela. Cada "ombrada" que eu dava era suficiente para a porta se rachar um pouco mais.

- Arf... Arf... - Arfava com dificuldade. - Ok, lá vai...! Sai da frente!!! - Tomei distância da porta e corri em sua direção o mais rápido possível, esbarrando com ela e despedaçando-a em pedaços.

- Hus?!! Hus, você está bem?!! Hus?!!! - Não o via...

Gritava e gritava cada vez mais alto, mas continuava escutando apenas um eco interminável de meus gritos em desespero. Me coloquei de joelhos no chão, chorando, olhando cada canto do quarto a procura de Hus. Rapidamente, mais labaredas envolveram o quarto, formando um círculo de fogo comigo no centro. Algo dentro do círculo de fogo apareceu na minha frente, levantei minha cabeça e vi Hus enforcado em uma corda, pendurado pelo pescoço. Não me importei do quão horrendo era aquela cena. Corri no mesmo momento em que o vi daquele jeito, abrindo meus braços. Tentei envolvê-lo, numa tentativa idiota de salvá-lo, mas eu quem fui envolvido por uma chama negra quando tentei fazer essa ação.

- HUS!! HUS!!! ONDE VOCÊ ESTÁ??!!! HUS!!!

Gritava seu nome desesperadamente, não estava nem aí para minhas cordas vocais naquele momento. Mas dessa vez não ouvi apenas um eco. Ouvi uma voz chamando meu nome. Como um apelo.

- SHIBE!! SHIBE!! ACORDE SHIBE!! SHIBE!!!

- NÃO ME DEIXE AQUI SOZINHO, HUS!!!

Ainda ofegando bastante, arregalei meus olhos ao ver que Hus olhava fixamente meus olhos com um olhar de preocupação.

- V-Você está... - Tento proferir, entre suspiros.

- Meu Deus, Shibe... Que bom que está bem... - Hus me envolveu em seus braços aconchegantes e deixou uma lágrima escapar de seus olhos.

- H-Hus... - Não consegui me segurar e acabei encharcado o ombro dele.

- Tá tudo bem agora. Foi só um pesadelo, garoto bobo... Já se sente melhor? - Disse, retirando-me de seus braços mas ainda olhando para mim com um olhar de "mãe coruja afetuosa".

- Um pouquinho...

- Quer me contar sobre seu pesadelo? - Levou sua mão até meu rosto, alisando-o lentamente até chegar na ponta de meu queixo.

- Acho que esse não é o momento certo... Vamos... Vamos comer algo primeiro...

- ... - Olhava-me com um olhar que nunca tinha visto antes na minha vida. Algo em seus olhos estava diferente... Estavam... Brilhando...

- H-Hus...? - Tento tirá-lo do transe.

- Uh, ah, sim! Hehe, vamos indo, também estou morrendo de fome. - Colocou uma das mãos na barriga e a outra em sua cabeça depois, coçando-a sem jeito. Por um minuto percebi que suas bochechas estavam bastante rosadas.

Hus abriu a porta e Pom e Luna caíram no chão.

- Lu-Lu-Luna?!! - Hus assusta-se. - O que você está fazendo aqui?! Não me diga que...

- Hus!! Que bom que já melhorou! Hehe. Me encontrei com seu amigo no meio da rua ontem à noite e decidi ficar por um tempo na casa de vocês!

- Espera aí, o que as duas estavam fazendo...? - Hus pergunta, ajudando Luna a levantar do chão.

- Er... Nós iríamos ver se vocês dois já estavam acordados e... - Pom morde a língua.

- ...E se gostariam de um delicioso café da manhã! Hehehe... - As duas se entreolham.

- Digam isso para suas bochechas avermelhadas... - Colocou suas mãos no bolso de seu casaco e desceu as escadas, com um sorriso no rosto.

- Aff, que cara chato...

- E aqueles gritos, Shibe... O que houve aqui? - A kitsune pergunta.

- Nada de mais, foi tudo... Foi tudo apenas um pesadelo...