Capítulo 9

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- Oi tia, Edu ta pronto? - Perguntei na porta do meu vizinho.

- Pensei que tivesse te chamado hoje, ele já foi...

- Aah, tudo bem, ele devia estar com pressa, então foi na frente, mesmo assim obrigada tia.

Ela fechou a porta e fui chamar o elevador.

Será que ele me viu ontem e ficou chateado?
Acho que não, ele me falaria, ele ia me xingar na verdade.

- Vai pra escola? - Não sei de onde surgiu, ou como, mas fiquei feliz em encontrar ele.

- Sim, sua faculdade é de manhã? Pensei que fosse a tarde, Matheus.

O elevador chegou e entramos.

- Não, é de manhã. Mas tá fazendo o que sozinha? Pensei que ia com Eduardo.

- É ele foi antes, aquele viado me abandonou.

- Viado? - Matheus arregalou os olhos.

- Não, é modo de dizer...

Chegamos ao térreo.

- Boa aula Theus, já estou atrasada. - Disse me despedindo.

- Vem comigo, eu te dou uma carona.

Aceitei, é claro. O caminho foi curto, mas deu pra conversar bastante.

- Entregue. - Disse ele destravando a porta.

- Valeu mesmo. - Chego perto e dou um beijo de leve em sua bochecha.

Saio do carro e vou em direção a escola, corro pra sala, não quero encontrar Eduardo, se ele pensa que eu vou deixar barato isso... Tá muito enganado. Ele sabe que eu odeio andar sozinha na rua.

Eduardo

Não acredito que vi isso, Roberta acabou de sair do carro de alguém, deve ser o Matheus, o novo namorado dela.
Fiquei tão puto que entrei na sala sem nem Saber quem estava lá dentro. Mas mirei em um lugar e ela estava lá. A sala não estava cheia ainda, faltava alguns minutos pra bater o sinal.

- VOCÊ É UMA VADIA RIDÍCULA QUE TRAI OS AMIGOS, SUA GAROTA MIMADA! TA NAMORANDO E NEM ME CONTA E TA COM UM CARA QUE ACABOU DE CONHECER, EU NUNCA MAIS VOU SER SEU AMIGO.

Saí da sala empurrando o professor que entrava.
Eu estava chorando. Ela provavelmente estava chorando.
Saí da escola e fui pro primeiro lugar que me veio na mente. Roberta odeia aquele lugar, aquela vida, eu a partir de agora eu a odeio.

Roberta

Estava tremendo, todos da turma me olhavam como olhar de pena. Eu não acredito no que ele disse essas coisas, logo ele, meu melhor amigo e possivelmente o garoto que eu tô apaixonada.
Não consigo parar de chorar, todos sabem da nossa amizade.

- Vai pra casa, relaxa, você precisa, não te darei falta, vou falar com os outros professores. - Disse a professora de biologia. Ele é nossa professora desde o oitavo ano, conhecia muito bem a gente, sabia o valor dele pra mim.

- Obrigada. - Disse soluçando.

Peguei minha mochila, mas antes de passar pela porta Alê apareceu e meu deu um abraço reconfortante, mas que não foi capaz curar a dor que estou sentindo no meu peito.

Pra onde Eduardo foi?
Comecei a pensar quando saí da escola, eu preciso responder ele, mas na verdade eu quero mesmo é enfiar minha mão na cara dele.
Pra casa ele não foi, provavelmente a praia, ele gosta de pensar lá... Aí não, ele não estaria lá. Aquele lugar não.

Saí correndo para esquina da escola onde se encontra um barzinho fudido.
Entrei lá e o cheiro de bebida e maconha estava no ar, de novo não, Eduardo não pode voltar pro fundo do poço.

Três anos atrás, seu pai abandonou ele a mãe por uma outra mulher, disse que não o amava. Eduardo ficou na merda e começou a frequentar esses lugares. Ficou uns 4 meses assim, até eu salvar ele.

- Você viu um menino moreno, alto, ombros largos e belos músculos ? - perguntei pro cara do balcão.

- Seu namorado, moça?

- Não sou moça, senhorita, por favor, e não, ele não é meu namorado.

- Tem foto?

Peguei meu celular, mas nem precisei ir na galeria, meu bloqueio de tela era a gente no festival de música que fomos nas férias.

- Beco. - respondeu ele.

Ai não, o beco não.
Corri dali e fui pra trás do bar onde tinha um beco.
Tinha uns caras estranhos na entrada, que acabaram me parando.

- O que a menina bonita deseja?

- Quer brincar conosco? - disse outro cara.

Estava com medo, na verdade estava com muito medo, tudo o que eu queria agora, era esta nos braços do Eduardo.

- Estou procurando alguém. Me dêem licença. - Empurro eles.

E lá está ele, com uma lata de cerveja em mãos e um cigarro na boca.

- De novo não. - Disse. Estávamos um pouco distantes, mas dava pra ele me ouvir.

- Sai daqui Roberta, não é lugar pra você.

- Nem pra você, vamos embora. - começo a andar me aproximando cada vez mais dele.

- Pra que? Pra viver em uma mentira? Onde minha melhor amiga, vulgo a pessoa mais importante da minha vida, em todos os sentidos, me trai.

- Eu não te trai, eu só não contei...

- Eu não quero saber porque não me contou, vai embora sua vadia. - Ele me interrompeu.

- Não fala assim . - Meus olhos começam a arder.

- Eu falo do jeito que eu quiser , Piranha. Volta lá pro seu namorado... Espero que seja corna.

Chego perto dele é dou um tapa em sua cara, ele pareceu assustado mas não reagiu, apenas abaixou a cabeça.

- ESPERO QUE QUANDO SAIA DESSA MERDA NÃO ME PROCURE, PORQUE EU JA VOU ESTAR BEM LONGE E PROVAVELMENTE JA TEREI ESQUECIDO VOCÊ.

Saio correndo antes que as lágrimas caíssem.
Tava zonza pra ir andando, então fui pra casa de táxi.
Tudo que fiz quando cheguei em casa foi abrir a porta, me jogar na cama do meu quarto e chorar. Coloquei uma música alta e chorei, chorei o dia todo, a tarde inteira. Eu não comi nada, não fui ao banheiro, eu não me mexia, virei um vegetal ali.

Então a noite chegou e a minha porta bateu. Minha mães esqueceu a chave novamente. Então me levantei da cama, fazendo o meu primeiro movimento do dia.
Assim que abri a porta e encontrei Eduardo, ele tava acabado, cansado, chorando. Ia fechar porta, em sua cara, mas ele colocou o pé impedindo a ação. Quando abriu a porta de novo ele entrou e a abraçou.

- Me desculpa, por favor, perdão. - Ele dizia em meio de lágrimas.

Fiquei em choque, o que ele estava fazendo aqui?
Nunca brigamos sério, não sabia o que fazer.

- Por favor me perdoa, eu te humilhei, e voce ainda foi atrás de mim no pior lugar do mundo, eu não mereço isso, eu não mereço você... Mas vamos voltar a ser amigos, tudo o que eu disse era mentira, eu juro, eu te amo, você é minha melhor amiga. Vamos pro sítio fim de semana, vamos cavalgar, vamos... Ser amigos, falar do seu namorado. - Ele levantou a cabeça e olhou no fundo dos meus olhos, segurando meus pulsos. - Por favor Árvore.

Não consigo.
Abraço ele assentindo com o que ele disse.

- Também te amo Pepito.

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