comida

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nada e ninguém
parecia interessante
a não ser aqueles vastos cabelos
flutuantes em meu quarto

amarrados;
depois soltos;
esparramados em minha barriga;
depois por toda o chão da casa;
no ralo do chuveiro;
dentro da boca;

nada era interessante,
a não ser
aqueles vastos cabelos
loiros.

ela tinha o endereço
da minha casa
ela entrava e saia
o porteiro já reconhecia

e quando ela chegava
preparava o melhor
prato de comida
e depois
íamos pra cama

as vezes ela passava
toda a noite aqui
me protegendo,
me dando abrigo
entre as pernas.

não me acomodei
com sua presença,
pois eu previa
que cedo ou tarde
ela partiria

éramos dois seres
confraternizando
a solidão
e ambos
não precisaríamos
de mais fardo

toda noite antes de dormir
requento marmitas
azedas e fedidas;
nada se compara
aos seus pratos deliciosos
e aquele buraco
quente, úmido e fundo
que eu metia minha mão
todas as noites

Bebendo Coragem, Vomitando CovardiaOnde histórias criam vida. Descubra agora