Capitulo 1: O novo hospede de Severus

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Não consigo dizer desde quando, nem mesmo o porquê, mas já fazia alguns anos que minha vida era embalada por aquela estranha sensação. A de que estou vivendo um estranho deja vu.

Todas as minhas manhãs eram iguais, todas minhas tardes e noites, todas e todas eram iguais.

Talvez as únicas ocasiões em que eu saía um pouco da rotina eram como quando estou agora, na frente do espelho de meu quarto analisando a grande marca arroxeada em minha bochecha esquerda.

- Em quanto tempo será que isso vai sumir?

Não sou um ser vaidoso, oh não, deixo isso para meus amigos Sirius e Lucio. Estou mais para uma pessoa pratica. Vamos e convenhamos, eu já não sou o que chamaríamos de alguém dono de beleza convencional, e com um hematoma desse tamanho no rosto, dificilmente conseguirei uma companhia que aqueça o outro lado da minha cama. Lado que foi recentemente abandonado pelo causador desse mesmo hematoma. Hemp, não tenho culpa se algumas pessoas não aguentam ouvir a verdade.

"Ótimo, eu sempre soube que você não me amava, e acredite, nunca esperei que o fizesse" a voz de seu último amante ressoou na sua cabeça "pois se algum dia houve algum sentimento nessa pedra que você chama de coração, dificilmente foi amor".

E então nesse momento eu disse alguma coisa que realmente não me lembro, mas que provavelmente foi a causador da minha marca...hm... Ah é!

"Com amor ou sem amor, eu não me lembro de você se negar a abrir as pernas e gemer para essa pedra. Realmente, quer que eu te diga quem eu acho que dos dois tem mais problemas?"

É... Foi mais ou menos isso.

Sei que não foi a melhor maneira de remendar a situação, mas também não posso negar que meio que me aproveitei da chance de pôr um fim a essa relação. Ambos estávamos atrás de coisas diferentes. Ele de um sentimento inexistente e eu do seu traseiro.

Olho mais alguns segundos para a marca em minha face e solto um suspiro resignado, terei que sair assim mesmo.

Afasto-me um pouco do espelho e confiro por uma última vez como estou vestido, nada mal. Saio do quarto e caminho até a porta, lá eu pego o meu casaco, que estava preso no armador e levo a mão ao bolso de trás da minha calça atrás das chaves.

Din-don!

Solto o ar de maneira irritada, porque sempre que estamos saindo aparece alguém para nos atrasar? Como se para isso eu precisasse de ajuda.

Coloco as chaves na fechadura e abro a porta. Nada do que eu imaginava me preparou para o que eu vi ao abrir.

Na minha frente estava o que eu não consegui ver mais do que um garoto magricelo e maltrapilho. Ele me olhava diretamente com seus grandes olhos verdes, protegidos atrás de seus horrorosos óculos de armação grossa e quebrada. Quando abriu ligeiramente a boca na tentativa de iniciar qualquer diálogo, eu o cortei:

- Não estou dando esmolas - e fecho a porta em sua cara.

Foi apenas alguns segundos depois que me lembrei que eu estava de saída. Tudo o que fiz foi dar de ombros, esperarei alguns minutos e depois saio. Vai que o garoto me vê saindo e
depois invade a casa para roubar algo e...

Din-don!

Minha campainha soa novamente.

Tenho um mau pressentimento.

E confirmando minhas suspeitas, assim que abro a porta lá estava ele, com a mesma expressão que tinha há poucos minutos atrás, antes de eu fechar a porta na cara dele. Aquilo me desconcertou um pouco, mas não mais do que quando ouvi:

Posso ser sua estrela?Onde histórias criam vida. Descubra agora