Capítulo 6 - Ela se foi

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Eu acordei com várias dores nas costas, morrendo de frio por estar sem cobertor e com os olhos pesados de chorar na madrugada, abri meus olhos bem devagar e percebi que era cedo, olhei para o relógio e eram apenas seis da manhã, em que mundo eu acordaria a essa hora?! Fui ao banheiro e fiz minha higiene, coloquei outra roupa e desci. Fiz o café da manhã e comi, deixando para Iris e meus pais. Sentei-me à mesa e comecei a comer meu crepe e pensei no que ouvi dos meus pais ontem à noite. Pensei e repensei, eu tinha que alugar um apartamento.

Ouvi passos se aproximando, e inclinei a cabeça, vi que era minha mãe descendo e fui até ela para lhe dar bom dia.

— Oi mamãe – Cumprimento-a com um beijo na testa e a mesma sorri. — Bom dia.

— Bom dia querida – Ela diz e vai até a cozinha e eu a sigo.

— Papai ainda está dormindo? – Pergunto.

— Não, ele já vai descer, por quê? – Ela me fita.

— Preciso conversar com vocês – Digo e olho para baixo.

— Sobre? – Meu pai aparece na cozinha já pronta para trabalhar.

— Eu quero me mudar – Digo sem pestanejar, os dois se olham e ficam surpresos.

— Porque meu amor? – Minha mãe pergunta.

— Eu ouvi a conversa de vocês ontem à noite, e não quero mais ser um fardo. Eu sei que não trabalho ainda, mas eu posso conseguir um emprego e pagar um aluguel numa casa pequena. – Meus pais se entre olham, e parecem procurar palavras para falar comigo.

— Natasha, você não tem dinheiro para isso – Meu pai diz ríspido.

— Eu estava contando com você... – Eu semicerro os olhos e penso no que falar — Me emprestasse por enquanto.

— Querida, eu te amo, mas não vou te emprestar dinheiro. Você precisa ter responsabilidades e prioridades. – Meu pai tenta ser gentil, mas não consegue.

— Como quero eu siga com a vida sem ajuda? – Pergunto.

— Arrume um emprego primeiro, depois pense em sair de casa – Meu pai pega a mala em cima da mesa e começa a caminhar para saí-la de casa, mas eu o sigo.

—Não foi assim como Daniel! – Exclamo e ele se vira.

— Daniel é diferente Natasha! – Meu pai diz tentando conter-se.

— Por quê? Hein? Porque ele é diferente? Por um acaso não sou sua filha? – Esbravejo.

— Meu amor, Daniel passou na faculdade que ele queria e estava noivo – Minha mãe justifica

— Vocês nunca foram assim! O que eu tenho de errado? Se não querem me ajudar, tudo bem, eu arrumo alguém que me ajude! – Uma lagrima cai e eu subo as escadas e bato com Iris, mas a ignoro totalmente e vou para o meu quarto.

Essa família parece estar quebrada desde que Daniel se foi, parecem não me agüentar, me querer fora daqui. Esse é o modelo de família cristã que eu devia seguir? Eu não quero então, obrigado. Eu posso estar equivocada e com raiva, mas quem olha não diz que meu pai financiou a estadia do meu irmão num apartamento de luxo perto da faculdade e para eu alugar uma casa pequena ele negou. Será que é porque eu sou mulher? Não, meu pai não é machista.

Algo de errado esta acontecendo, e é comigo, toda a minha volta parecem me querer longe, estão idealizando uma Natasha que não existe. Uma mulher que deveria seguir a carreira do pai de juiz, e ser focada nos estudos, madura e responsável. Uma Natasha mulher, que devia parar de se reunir com os amigos no aniversário para comer pizza e ver filmes e fazer um jantar sofisticado.

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