leave this blue neighbourhood

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Meus olhos estavam doendo, mas eu não tinha certeza se era de chorar ou do sono pesado, talvez um pouco dos dois. Coloquei a cabeça para fora do edredom e puxei o celular para ver as horas. Meio-dia. Bufei e me escondi no edredom novamente, eu não ia sair da cama esse domingo.

Minha mãe bateu na porta suavemente e eu não respondi, o que para ela significa que poderia entrar, senti seu corpo pequeno sentar no meu colchão e ela apertar meu braço levemente pelo tecido da coberta.

- Dia avulso – Respondi abafado.

Desde que eu comecei com os meus problemas, haviam dias que eu só queria me isolar, ficar o dia todo deitado, sem falar com ninguém, fingindo que eu não existo. Funciona pra mim porque é como se eu não precisasse lidar com toda a dor que eu sentia e que não fazia sentido pra mim e se não precisasse lidar então não precisaria entender e isso fazia doer menos.

Fez sentido pra você? Tanto faz, tem coisas que precisam ser sentidas para entender, mas eu não quero que você que se sinta como eu me sinto.

Minha mãe sempre me deixava quietinho só indo ao meu quarto para me fazer tomar água ou comer alguma coisa, porém havia dias, como hoje, que ela se sentia determinada a me tirar daquela situação. Eu sofria por fazê-la se preocupar comigo, então me esforçava a aceitar as condições que ela me propunha.

- Eu sei mas, eu fiz panquecas de mirtilo e dessa vez eu não esqueci de usar leite de soja!

Uma vez quando eu tinha 12 anos, vi uma matéria sobre o abatimento de animais para o consumo humano e nunca mais consegui comer carne, depois com um tempo passei a evitar o consumo de derivados. Tomo leite de soja, mas não consigo dizer não pro sorvete de morango, por exemplo. Minha mãe morre de preocupação de que eu não esteja me alimentando corretamente, uma vez que eu troquei vários alimentos da minha dieta e outra vez pois digamos que eu não sou uma pessoa que come, geralmente eu pareço um passarinho, dou umas bicadinhas e fico satisfeito.

- Mas já são meio-dia. – Resmunguei colocando a cabeça para fora do edredom para olhar minha mãe, seu longo cabelo loiro em um coque. Ela era tão bonita.

- Acho que podemos fazer uma exceção do dia avulso e tomar café duas vezes. No caso, eu, duas vezes.

Nós dois rimos e eu afastei a coberta para me sentar melhor na cama, minha mãe esticou a mão e passou os dedos nos meus cabelos e limpou meus olhos sorrindo para mim.

- Bom dia, você.

Eu apenas sorri de volta e ela se levantou da cama e saiu do quarto antes de me avisar que nós iríamos almoçar as panquecas lá embaixo. Parece que eu não teria um dia avulso afinal, ponto para Lady Narcisa. Arrastei meus pés para fora do meu quarto e desci as escadas onde minha mãe já estava na cozinha sentada em uma das cadeiras da bancada preparando o chá e as panquecas postas em um prato. Me sentei e dei um gole do chá queimando a minha língua. Eu sempre faço isso.

- Então, enquanto você estava dormindo, veio uma pessoa aqui te procurar.

Eu gelei por um momento, quem iria vir me procurar num domingo? Minha única amiga estava a milhares de quilômetros de casa. Entortei a cabeça um pouco para o lado e vi seu sorriso, aquele sorriso que as mães dão quando querem te envergonhar.

- Quem veio, mãe? – Tentei não rir.

- Aquele menino, Potter. – O sorriso debochado ainda estava lá e eu fiquei vermelho como o prato das minhas panquecas.

- Quando você ia me contar sobre ele?

- Nunca, porque não tem nada para ser contado mãe.

- Ele parecia muito ansioso para falar com você. – Ela continuou praticamente cantarolando.

to save and to hold »  AU drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora