A garota levou um susto, seus pensamentos estavam longe demais.
— Nossa, como você demorou! – levantou, meio sem jeito. — Vamos comer, se não vou desmaiar de fome.
E assim, se encaminham para a mesa. Bobby era muito gentil o que a deixou sem jeito. Foi logo puxando a cadeira para que ela sentasse, dizendo "por gentileza". Ela sem dizer uma palavra, sentou-se de frente para ele. Houve um certo silêncio, onde se ouvia apenas o barulho dos talheres, até que...
— Você disse que já conhecia esse lugar e que pertencia a seus avós, não é?
Marly estava com o pensamento tão longe dali que mal ouviu o que ele disse.
— Desculpa, o que você disse mesmo? – perguntou, gaguejando um pouco.
— Perguntei sobre essa cabana, ela pertenceu ao seus avós?
— Sim, esse chalé era deles. Achei que não tinha ninguém morando aqui, por isso vim para cá. Se soubesse que havia alguém, com certeza não viria. Mas posso ir embora se você quiser, afinal chegou primeiro. Não sei como e nem através de quem, eu por sinal nem sabia que vovó tinha um amigo tão jovem, mas se o incômodo posso voltar para minha casa.
— De jeito nenhum, afinal essa casa pertence a você. Se alguém tiver que sair, saio eu – respondeu ele.
Marly pensou se era aquilo mesmo que ela queria. Que mal conhecia aquele homem, mas que sentia algo, como se já tivesse o conhecido. Ele era simpático, jovem, bonito, atraente, gentil. Mas será que não era perigoso?
Afinal nunca o tinha visto, não o conhecia. E se fosse um bandido? Alguém que estava se escondendo ali, porque era bastante longe da cidade?
Então, sem pensar, Marly fez uma enxurrada de perguntas:
— Como veio parar aqui? Você conheceu meus avós? Você é... – fez uma pausa, sem perguntando se deveria ou não perguntar aquilo. — Você é casado ou solteiro?
— Nossa! Que bombardeio de perguntas. Vamos por partes! – Bobby respirou fundo. — Primeiro, não tive a oportunidade de conhecer seus avós, apenas ouvi falar sobre eles. Que eram muito felizes, apaixonados mesmo com uma idade já avançada. E que seu avô partiu primeiro, deixando sua avó sozinha e só com essa casa na praia onde viveu o resto dos seus dias. E que depois de um ano sua avó também acabou falecendo, deixando essa cabana nas mãos de um homem que vez e outra, vinha aqui fazer alguns trabalhos para eles. Soube também que eles tinham uma filha Elizabeth que não vinha muito pouco para esses lados. E segundo, para sua informação: não, eu não sou casado, senhorita Marly – sorriu, encantador.
Marly ficou vermelha de vergonha e ao mesmo tempo de raiva.
— Olha só seu...seu...convencido! Eu só perguntei, só isso. Acho que tenho o direito de saber alguma coisa sobre você. A propósito, quero é distância de homens, tá legal? São todos iguais – bufou, revirando os olhos. Enquanto ele o encarava, meio brincalhão. — Mas mudando de assunto, me parece que você sabe mais a respeito dos meus avós do que eu... Antes de meus pais irem viajar, minha mãe me prometeu que na volta íamos conversar sobre meus avós, ela disse que tinha tantas coisas para me falar, coisas que nunca havia me falado. O que sei de meus avós é que aparentemente eles eram felizes aqui, só que houve uma fatalidade e meus pais acabaram não voltando. Houve uma tribulação e o avião em que eles estavam acabou caindo. Eles não sobreviveram, o que foi um choque para mim. Pois eu precisava deles, estava em um momento em que eu precisava deles, mas ele partiram me deixando só. Então é isso, Sr. Bobby Singer – suspirou. — Eu sei pouco sobre meus avós, e aparentemente você sabe mais do que eu. Seria coincidência ou você é um anjo que veio me consolar? – assim que terminou essa frase, Marly se arrependeu de tê-las dito. Foi algo que saiu sem querer de sua boca. Ela bem que tentou disfarçar, mas era tarde demais.
— Como assim consolar você? – fingiu estar curioso. — Anjo? Não entendi? Além da perda dos seus pais, tem algo a mais que queria me contar? Pois se tiver, fique à vontade – falou, debochado. De um jeito que não a agradou nem um pouco.
Marly ficou em silêncio por algum tempo e depois, respondeu:
— Não, falei por falar. É só isso mesmo.
Bobby fingiu acreditar, deixando assim. Mas inevitavelmente, percebera que havia algo mais que deixara a moça linda ainda mais triste.
Assim que acabaram de comer, limparam a cozinha. Bobby era organizado e gostava de tudo bem arrumado.
Após colocarem tudo em ordem, foram até a varanda da cabana e ali se assentaram. Cada um dos dois traziam consigo uma ferida no coração, como marcas de um passado. Marcas que os levaram até aquele chalé, mas porquê? Seria ali o lugar onde poderiam esquecer o passado ou ele era mágico?
Marly gostaria de perguntar para Bobby o porquê dele ter vindo parar em um lugar tão distante de tudo. Pensou no que teria o levado ali e até mesmo se sofrera alguma decepção amorosa como ela. Mas essas dúvidas permaneceriam assim por algum tempo, afinal não tinha intimidade e nem coragem, o suficiente para perguntar a ele.
Quando deu por si, ele estava atento olhandopara ela, seus olhos mais uma vez se encontraram. Ela eles, o silêncio da noite,a lua e as estrelas, uma cena linda para um casal. Um casal de apaixonados.
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Marcas do Passado
RomanceDois corações destroçados, duas almas que sofreram por marcas do passado. Um chalé em uma praia deserta, que reserva inúmeros segredos. Juntos eles serão capazes de se curar e esquecer o que passou? O amor será capaz de reconstruí-los?