Olá, eu sou Amelia, tenho 16 anos, tenho cabelos castanhos arruivados (se é que essa cor existe) e eu sou branca, mas isso não importa, não é? Hoje é o primeiro dia, em muitas coisas. Há uma semana me mudei de estado, agora estou morando em Santa Catarina, Florianópolis. Não queria vir pra cá, queria continuar no mundinho construído que eu já tinha na minha cidade antiga, mas vim, e hoje seria meu primeiro dia de aula. Meu pai estava me levando pra escola, eu estava só olhando pelo vidro do carro a cidade, sem falar nada.
- filha... Promete que vai abrir um sorriso quando entrar na escola? - ele falou olhando pra mim e depois olhou pra rua. Eu apenas balancei a cabeça em sinal de positividade. Isso não era tão difícil, eu vivia fazendo isso. Fingir que estar bem quando não está, é uma habilidade em que os seres humanos são bons, e eu sou ótima. Cheguei na escola e fui logo procurar a minha sala, várias pessoas passavam e me olhavam, eu só morava em outro estado, não que eu fosse completamente diferente delas. Quando achei a sala com o número que meu pai havia falado, vi que já tinha uma professora lá. Abri a porta devagarinho e entrei, a professora até parou de falar e olhou pra mim. Nossa, ninguém deveria passar por isso! Procurei logo uma carteira e sentei, um pouco na frente.
- então pessoal, como de costume, hoje é o dia das apresentações. Quem são os novatos? - a professora disse e alguns levantaram a mão, eu levantei só um dedo, balancei ele um pouco e depois abaixe ele. - Caleb, você não é novato. Abaixa essa mão. - a professora falou com o menino que eu imaginava ser o "palhaço" da sala, ele olhou para os amigos e riu. Os novatos foram falando os nomes deles; Juliana, João Carlos, Tirza. Aí foi a minha vez de falar.
- Amélia. - falei e dei um sorriso amarelado.
- seja bem vinda, Amélia. Muito bonita você querida. - a professora falou
- obrigado - falei com outro amarelado. Ela contou que iria passar um trabalho em dupla, para que os alunos se conhecessem melhor. Antes, explicou um pouco da sua matéria e os horários, e então foi falando os nomes das equipes, cada vez que saia o nome de um novato, ela falava quem era a pessoa com quem ele faria o trabalho, afinal, nós não conhecíamos ninguém. foi falando muitos nomes até eu ouvir o meu.
- Leslie e Amelia. - ela disse e procurei a pessoa só por impulso, se nem ao menos conhecer. - Amélia, aquela é a Leslie, juntem as cadeiras. - ela apontou pra um menina de cabelos loiros, que usava uma jaqueta cinza, ela era bem bonita. Ela não trouxe a carteira dela, só pegou o material dela, colocou na mochila e puxou uma cadeira vazia que estava atrás da minha.
- oi. - ela falou se sentando.
- oi... Então, entendeu como é pra ser o trabalho? Eu me enrolei aqui. - falei tirando o caderno da mochila.- ah, sim, o tema é república. É pra apresentar o trabalho semana que vem. Temos que falar sobre como funciona a república do nosso país, ela explica rápido demais mesmo. - ela disse e balançou os ombros.
- nossa, entendi. - falei. Conversamos bastando depois disso, tanto sobre o trabalho, quanto sobre nossas vidas, ela disse que morava desde sempre em Florianópolis, disse as séries que ela assistia, eu me identifiquei muito nessa parte, eu falei da mudança, da minha cidade antiga. Depois que acabou a aula da professora, ela voltou pro lugar dela, e foram passando outras aulas. Quando bateu a campa do intervalo, peguei meu dinheiro do lanche na mochila, fui na cantina, comprei uma salada de frutas e sentei em uma mesa. A escola era até bem estruturada, tinha várias mesas na cantina e tal. Quando percebi, vieram duas meninas na minha direção, uma morena que usava uma calça apertada e uma blusa toda fru-fru e outra, uma loira, com os cabelos bem longos e usava uma saia curta e uma blusa chique demais pra ir pra escola, desnecessário. A loira sentou na minha mesa e a morena ficou em pé. Lembrei de ter vistos ela na minha sala.
- você que é a Amelia, né? - a loira falou.
- isso. - disse e depois comi uma colher de salada de fruta.
- olha, eu sou a Celeste, eu ando com aquele grupinho ali. - ela apontou pra uns garotos e umas garotas numa mesa distante. - quer sentar com a gente? - eu olhei bem pra eles, não pareciam ser o tipo de pessoa que eu andaria, e eu estava bem na minha mesa e foi isso que disse.
- eu estou bem aqui, mas obrigado. - falei e ela se levantou e já ia saindo mas deu meia volta, botou os braços na mesa e falou:
-cuidado com as pessoas que você escolhe pra andar, flor. Não sei se a Leslie contou, mas ela é muito mal falada. Um garoto viu ela beijando outra menina ano passado. Só estou avisando. - ela levantou e saiu de vez dessa vez, e a morena a seguiu.
Mas o que? Eu só estou no grupo dela, com certeza essa garota não sabe receber um "não na vida". Confesso, que isso me deixou um pouco.. Bom, sei lá, um pouco assustada. Depois do intervalo, as aulas continuaram sem graça, quando bateu a campa de fim de aula já estava ansiosa, coloquei minhas coisas na mochila, e fui embora da sala, só que a Leslie me chamou.
- ei? Como vamos fazer pra se encontrar pra marcar o trabalho? - ela disse - porque amanhã eu vou faltar e depois vai ficar meio em cima da hora.
- pode ser na minha casa. Me dá o seu número e a gente conversa por mensagem, é melhor. Meu pai está me esperando já. - falei, mas na verdade meu pai não se importaria de esperar, eu só não queria que os outros pensassem que ando com a lésbica.
- tá - ela falou e escreveu como se tivesse percebido algo em mim e foi embora logo depois de escrever, e eu também.Quando entrei no carro meu pai perguntou exatamente o que eu pensei que perguntaria, como havia sido a aula, se eu havia feito alguns amiguinhos, caramba. Ele me trata ainda como se eu tivesse 10 anos de idade. Cheguei em casa, joguei a mochila no canto do meu quarto, coloquei o fone de ouvido e uma música e me joguei na cama. Fiquei pensando sobre o dia de hoje, sobre o que tinha acontecido, até minha mãe me chamar pra ir almoçar, uns 15 minutos depois.
- conheceu alguém na escola filha? - minha mãe perguntou enquanto almoçávamos
- não, quer dizer, sim, só menina do trabalho em grupo - falei
- ah tá. Chama ela pra vim aqui em casa qualquer dia desses, faço uma lasanha. Aliás, vou no salão de beleza no shopping hoje, quer fazer alguma coisa no seu cabelo também? - ela falou
- eu vou então - falei.
Mamãe falou sobre a vizinha que passou aqui e conversou com ela hoje, e enquanto tomava banho tive uma ideia. Iria chamar a Leslie pra vim aqui fazer o trabalho. Depois que terminei o banho, enrolei a toalha em mim e mandei uma mensagem, aproveitando que ela estava online.
"ei, quer vir aqui em casa amanhã? Já que vai faltar na escola, é isso? Aí podemos fazer o trabalho logo, pra não ficar muito em cima." - escrevi e ela demorou um pouco pra responder.
"Tá, eu vou. Só preciso do endereço e o horário" - ela respondeu. Passei tudo certinho e logo depois comecei a me arrumar pra ir no shopping com a mamãe, minha mãe retocou as suas luzes e eu fiz apenas uma hidratação, quando estava saindo do salão, vi a Celeste, a menina morena e mais uma outra do outro lado do shopping com um bando de sacolas, pensei em acenar, aliás, elas eram da minha turma, mas elas me olharam e viraram os rostos. Então não olhei mas também. Aproveitei que já estava no shopping e me inscrevi na academia, iria começar semana que vem, eu faço academia desde os 13 anos, e não queria parar agora. Depois que voltamos pra casa, eu terminei um livro que estava lendo "o orfanato da senhorita peregrine para crianças peculiares.", essas crianças me lembravam eu, enquanto as crianças normais brincavam de Barbie e outras bonecas, eu pedia livros ou então apenas uma entrada pro cinema, sempre adorei cinema, e na adolescência, enquanto as minhas amigas falavam da bunda dos meninos, eu ficava apenas de fone de ouvido escutando música. Logo que terminei de ler, liguei o notebook e procurei saber alguma coisa sobre república, que assunto chato pra estudar! Ainda mais do meu país que tem a liderança bem exemplar pra não dizer o contrário, não é? E fiz o dever de casa de matemática, quando chequei o relógio já eram 11 horas, e me arrumei pra dormir.
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Garota perdida (romance lésbico)
RomansaEste livro fala não só sobre uma garota perdida, mas uma garota que acha várias coisas ao decorrer da história. Amélia é uma adolescente de 16 anos, que se apaixona por outra garota, mas tem medo do regime tradicionalista imposto pela sociedade. Amé...