Os arrecadadores de impostos _ A volta dos irmãos estudantes...

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Após algum tempo, o velho nobre dirigiu a tenção para o pátio, de onde chegavam interpelações e gritos misturados com cacarejos de galinhas assustadas. Depois ouviu-se o ruído de um galope e, afinal, exclamações mais violentas, nas quais se reconheciam os acentos de Guilherme. Era uma bela tarde de outono, e os demais moradores do castelo deviam estar ausentes.

_ Não tenham medo, meus filhos _ dizia o avô. _ Estão afugentando algum mendigo.

Mas já Angélica havia descido a escada aos pulos e gritava: 

_ Estão atacando Guilherme, querem maltratá-lo!

Coxeando, o barão foi buscar um sabre enferrujado, e Gontran voltou armado de um chicote, dos que se utilizam para bater nos cães. Chegaram até a porta e viram o velho empunhando a lança e Angélica a seu lado.

O adversário não estava muito longe. Achava-se fora de seu alcance, do outro lado da ponte levadiça, mas ainda o defrontava. Era um moço de aspecto famulento e parecia furioso. Procurava, ao mesmo tempo, retomar o porte afetado e oficial.

Gontran baixou o chicote e puxou seu avô para o interior da casa, cochichando:

_ É o cobrador de impostos. Já o afugentaram várias vezes...

O funcionário hostilizado continuava a retroceder lentamente, mas sem dar as costas, e adquiria novo ânimo ante a hesitação dos reforços. Parou a distância respeitosa e, tirando do bolso um rolo de papel bastante amassado pela rixa, pôs-se a desenrolá-lo carinhosamente, suspirando. Depois fazendo contorções, começou a ler a intimação segundo a qual o Barão de Sancé devia pagar sem demora a quantia de oitocentas e setenta e cinco libras, dezenove soldos e onze dinheiros, correspondente a impostos de meeiros atrasados, dízimos das rendas do senhor e imposto real, taxas pela cobertura de éguas, "direitos de pó" pelos rebanhos que transitaram pela estrada real e multa pelo atraso nos pagamentos.

O velho nobre ficou vermelho de cólera.

_ Pensas acaso, patife, que um gentil-homem vai pagar só por ouvir esse aranzel do fisco, como se fosse um vilão qualquer? _ gritou exaltado.

_ Sabeis de sobra que o senhor vosso filho pagou até agora regularmente os tributos anuais _ disse o homem, curvando a espinha. _ Voltarei, pois, quando ele estiver aqui. Mas eu vos previno: se amanhã, à mesma hora, pela quarta vez, não estiver aqui e não pagar, mando-lhe uma citação, e vosso castelo e vossos móveis serão vendidos por dívidas ao Tesouro Real.

_ Fora daqui, lacaio dos usuários do Estado!

_ Senhor barão, advirto-vos de que sou um servidor juramentado da lei e que posso ser designado agente executivo.

_ Para a execução é preciso um julgamento _ fulminou o velho fidalgo.

_ Tereis o julgamento facilmente, crede-me, se não pagardes. . .

_ Como quereis que vos paguemos se não temos com quê? _ exclamou Gontran, vendo que o barão se perturbava. _ Já que sois oficial de justiça, vinde certificar-vos de que os saqueadores nos levaram um garanhão, duas jumentas e quatro vacas, e que a maior parte do que reclamais como dívidas procede dos impostos dos meeiros de meu pai. Desejou até pagar por eles, pois esses pobres camponeses não podiam fazê-lo, mas ele mesmo nada deve. Além disso, por terem sido atacados pelos bandidos, nossos aldeões sofreram ainda mais que nós, e não é hoje, precisamente depois desse saque, que meu pai está em situação de pagar essas contas. . .

Aquela linguagem razoável apaziguou o agente do fisco muito mais que as injúrias do velho cavaleiro.

Lançando olhares prudentes para o lado em que se encontrava Guilherme, aproximou-se um pouco e, em tom mais brando e quase compassivo, embora firme, explicou que ele não podia senão receber e transmitir as ordens da intendência fiscal. A seu ver, o único meio capaz de retardar o embargo seria o barão dirigir um pedido ao intendente geral do fisco, por intermédio do intendente provincial de Poitiers.

Angélica - Marquesa Dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora