O dia amanheceu nublado na cidade de Itajaí, sul do país, para ser mais exato em Santa Catarina. Era final de Maio e o frio começava a fazer parte da rotina diária daquela região. E em especial no coração de Valéria. Os últimos meses foram conturbados, estava difícil sorrir, mas era necessário ser forte. Sabia que nem sempre a vida era um mar de rosas, precisava ter muito jogo de cintura para saber como agir com todos aqueles sentimentos que estavam a rondando. Não sabia até onde iria aguentar. Era como se tudo estivesse em suas mãos, o bem e o mal, o sim e o não, o fim ou o recomeço. E odiava-se por isso.
Após tomar um banho quentinho para se despertar, fechou os olhos por alguns segundos e a imagem do sonho que tivera há quase uma hora atrás invadiu sua mente e tudo o que viu era um vale de ossos. Era estranho! A sensação que tinha no sonho era a mesma da vida real, sentia-se seca por dentro, completamente sem vida. Havia tanto mistério ali. Ficou em dúvida se era apenas um sonho ou uma mensagem. Nunca foi uma pessoa religiosa, não acreditava muito nessas coisas, mas também respeitava. Afinal, acontecia cada coisa doida nesse mundo! Decidiu deixar esse assunto de lado ao encarar o relógio da sala. Já estava na hora de ir trabalhar e nem havia tomado o café. Decidiu deixar isso de lado, pois não tinha fome alguma. Naqueles últimos dias sua única alegria era o trabalho. Colocou um sorriso no rosto e foi rumo a sua "felicidade".
Shopping! Era a palavra que poderia definir Valéria. Desde a adolescência era apaixonada por esses lugares. Quando começou a trabalhar como vendedora em uma loja de roupas, quase todo o seu salário era gasto naquele lugar. Shopping era sinônimo de alegria, de realização, de sonhos, de fazer parte da sociedade. Ficava horas no fim de semana com suas amigas, paquerando os garotos mais lindos que já tinha visto. Sim, ela era namoradeira, mas isso foi até conhecer Adriel em uma das muitas sessões de cinemas que assistia aos sábados a noite.
O filme era aquele que praticamente toda garota era apaixonada: romance. E lá estava ele, na imensa fila para entrar no cinema. Valéria caminhava pelo corredor com suas amigas. Entretanto, teve que ir urgentemente ao banheiro e quando retornou o que restou foi o fim da fila. Ao entrar na sala já escura acabou ficando ao lado de um jovem. Ambos estavam procurando por algum lugar vago. Ali trocaram as primeiras palavras, um tentando ajudar o outro, até que o destino iluminou exatamente dois lugares. O que mais a instigou foi o fato de ele estar naquela sala para assistir a um romance. Desde quando um homem entraria sozinho em uma sala de cinema para assistir a um filme desses? Não que isso não possa acontecer, mas é bem raro. A grande maioria, pode-se dizer 90%, estaria assistindo a um filme de ação, aventura, mas não romance. E essa foi a pergunta de Valéria ao final do filme. E a resposta foi inesperada: "Só restou esse filme, as outras salas já estavam cheias". Ela riu e compreendeu a situação. Ele achou graça e começaram a conversar. Pela primeira vez, um jovem havia conquistado o coração de Valéria. Sua única pergunta no momento presente era: o que aconteceu com esse sentimento?
— Moça? — escutou uma voz e então ficou assustada ao ver um sujeito em sua frente. Pelo semblante impaciente não era a primeira vez que a chamava.
— Me desculpe! Em que posso ajudar? — perguntou voltando sua total atenção para o homem. Esqueceu-se por um momento que já estava em seu trabalho. Porém, seu olhar paralisou ao observar o homem pela primeira vez. Sua respiração ficou tensa. Então ele começou a falar novamente. Que voz! Que homem! Não sabia o que estava acontecendo, mas uma coisa era certa, ele era muito charmoso e atraente, sem dúvida. O jeito que falava e o sorriso torto enquanto esperava pela sua resposta a deixou em transe por mais alguns minutos. Ele era alto, loiro e com os olhos verdes mais profundos que já vira. Parecia um modelo que beirava a perfeição.
— Moça? — ela abriu um imenso sorriso e pediu aos céus para que ele não percebesse o quanto estava envergonhada. Sua pele era bem branquinha, era muito fácil de as pessoas notarem quando ficava ruborizada. Já havia visto ele de algum lugar, mas não lembrava da onde — Você está bem? — perguntou gentilmente, olhando preocupado, diretamente em seus olhos.
— Ah, claro, claro! Me desculpe novamente. Então, o melhor tratamento seria usar esses três produtos. Mas pelo que vejo — fitou-o por alguns segundos — Você é perfeito! Não precisa desse produto. Sua pele é muito bonita, mas se quiser algo para deixá-la sempre assim, recomendo esse creme aqui — foi até uma prateleira ao canto e mostrou uma embalagem pequena. Para a sua surpresa, quando entregou o produto para o homem, ele estava com um sorriso de parar o trânsito. E novamente, sem sombra de dúvida, ficou vermelha.
— Obrigada pelo elogio! Você é sempre assim, sincera com os clientes? — Perguntou interessado.
— Ah! Quando são bonitos sim — no exato momento em que disse essas palavras arrependeu-se. Desde quando era ousada daquele jeito? O que estava acontecendo com ela? Respirou fundo e tentou concertar a situação — Quero dizer. Nem sempre dá para ser sincera, posso deixar o cliente magoado. Mas em alguns casos posso ser.
— Como o meu?
— Sim, como seu... Me desculpe, não quis ser...
— Tudo bem. É bom saber disso — respondeu antes que ela pudesse terminar a frase. Ele continuou parado, enquanto ela ficou sem saber para onde olhar — Bom, agradeço muito pelo seu atendimento. Você conquistou um novo cliente. Vou levar esse aqui para meu rosto ficar sempre assim e os três produtos para o tratamento de espinhas da minha irmã.
— Certo! — foi o que conseguiu falar enquanto embalava os produtos. Se xingou mentalmente por ser tão inconveniente. Agora ela iria ficar marcada como a mulher ousada, que trata seus clientes como se estivesse paquerando-os. E por céus, ela não era assim. Tudo bem, um dia foi, mas não hoje, e nem poderia.
— Vou te dar 10% de desconto pelo inconveniente.
— Qual? Não teve nenhum. Não acho que a sua sinceridade seja algo ruim. Não precisa se redimir.
— Agradeço, mas insisto.
— Vamos fazer assim. Esquece essa história dos 10% e você almoça comigo aqui no shopping amanhã ao meio dia. Esquecemos essa história e ninguém saberá que você paquerou um cliente.
Essa ela não esperava. Como um simples desconto poderia se transformar em um convite para um almoço? Não, não poderia aceitar. Como iria sair daquela situação? O sujeito charmoso continuava parado, fitando-a com aquele sorriso torto, deixando-a sem saída. Ok! Será apenas um almoço, nada demais e depois tudo voltará ao normal. Ele um cliente e ela uma vendedora de cosméticos. Apenas isso!
— Certo! Mas é apenas um almoço sem segundas intenções — ouviu-se dizer, novamente espantada pelo seu comportamento. Realmente aquele dia estava se tornando diferente de todos os outros. Não saberia dizer se era bom. Mas sabia, aquelas últimas palavras precisavam ser ditas. Com o acordo firmado, ele pagou a conta e foi saindo da loja sem levar as mercadorias. Antes que ela pudesse ir ao seu encontro para levar a bolsa com os produtos, escutou-o falar.
— Leve amanhã no almoço. É a minha garantia de que você irá comparecer.
♥ E o primeiro capítulo está postado. Onde a Valéria foi se meter, hein. O que será que vai acontecer? Alguém tem palpites?! Obrigada por estarem juntinhos nessa nova história.
Meu maior desejo é que essa história possa ser benção para cada um que ler.
Beijinhos ♥
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O valor de uma Promessa ♥ Degustação ♥
SpiritualValéria estava casada há mais de três anos, mas a cada dia a sua companhia era a solidão. Ela simplesmente estava cansada de fingir que sua vida era um mar de rosas, mesmo morando num dos prédios mais luxuosos da cidade. O clima vai ficando insuport...