O caminho para casa foi turbulento. Não houve nenhum tipo de gritaria, comentário ou perguntas, o que deixava claro que a situação realmente não estava boa entre eles. Era o pior silêncio que Valéria já tinha experimentado. Nem em todas as brigas que já tiveram ele agira assim. E a falta de palavras a estava deixando apavorada.
Entraram em casa no mesmo clima. Ela tentou agir normalmente, mas não conseguia mais disfarçar como antigamente. Algo havia mudado dentro dela. Guardou a bolsa no quarto e começou a mexer na cozinha para preparar o jantar. Era o que seu marido merecia depois de tudo o que aconteceu, mesmo ele não sabendo de nada.
— Não precisa fazer a janta. Estou sem fome.
Ela parou de mexer nas panelas e o observou. Adriel estava encostado na parede da sala de braços cruzados e a encarava seriamente. Seu semblante estava diferente. Valéria tentou manter a calma com a possibilidade do que poderia vir a acontecer.
— Conheci seu primo. É Marlon, não é? — Indagou, aproximando-se da cozinha que era dividida por um lindo balcão de mármore.
— É... — ela sussurrou tentando não demonstrar nenhum tipo de reação que a entregasse.
— Que engraçado, nesses três anos de casamento nunca soube sobre ele. Onde esse tal de Marlon esteve o tempo todo, Valéria?
Ela fechou os olhos e não pôde conter uma lágrima caindo silenciosamente sobre seu rosto. Adriel sabia, havia descoberto sobre o segurança.
— Agora entendo porque você demorou para voltar ontem a noite. Esteve passeando pelo shopping, certo? E foi relembrar os velhos tempos no cinema com outro homem?
A voz dele estava intensa e a cada segundo aumentava um tom. Valéria abaixou a cabeça sem coragem de encará-lo. Ele realmente havia descoberto tudo. Mas precisava se defender, mesmo sabendo que ela havia errado. Jamais pensou que um dia iria trair seu marido. O amava demais para isso, no entanto, nesses últimos dois anos não sabiam onde o amor estava. Simplesmente havia sumido da vida dos dois. Ela já havia percebido, embora se esforçasse em continuar sendo uma boa mulher para quem sabe assim, as coisas voltarem ao que um dia já foram. Mas nada disso aconteceu.
— Foi apenas uma sessão de cinema e um beijo. Nada além disso.
— Ah é! Então você confessa que andou me traindo?
— Não tive essa intenção — ela respondeu com a voz baixa.
— Olhe para mim, Valéria. Você faz isso pelas minhas costas e agora não tem coragem de me encarar? — agora sua voz estava exaltada e quando ela o fitou, percebeu a frieza em seu semblante. Isso fez reacender algo dentro dela. Conviveu com esse tipo de frieza nos últimos meses, para não dizer anos. Estava simplesmente cansada de ficar calada quando ele também não facilitava as coisas.
— Posso ter culpa disso sim, mas você é o maior culpado de tudo. Há dois anos, desde que nos mudamos para essa cidade por causa do seu maldito emprego o nosso casamento nunca mais foi o mesmo.
— Não ouse colocar a culpa em mim. Foi você quem beijou aquele canalha. E ainda tem coragem de falar isso?
— Quem sabe se o meu marido ficasse em casa ao invés de ficar viajando sem parar eu não precisasse fazer isso. Estou cansada de viver nesse apartamento sozinha. Eu não tenho um marido, apenas um conhecido que às vezes decidi voltar para casa querendo que tudo esteja a mil maravilhas. Como quer que um casamento sobreviva a isso? Você mal conversa comigo, quase não me liga e quando chega, me trata como se fosse sua criada, satisfazendo todos os seus desejos. Quer saber Adriel? Eu cansei disso, cansei de ser pisoteada por você e continuar agindo como se não fosse nada demais.
— Ótimo, estamos quites! — foi o que ele conseguiu dizer ao escutar a esposa falar tudo aquilo. Nunca em sua vida imaginou Valéria falar dessa maneira. Seu semblante estava alterado e a voz em um tom decidido.
Não tinham mais o que conversar, embora ela ainda tivesse vontade de vomitar muitas coisas pelas quais estava cansada. Adriel encarou a esposa mais uma vez e simplesmente saiu do apartamento. Valéria encostou-se na parede da cozinha e deixou-se escorregar até o chão e começou a chorar. Só então percebeu o que ele havia dito. Ele não faria aquilo... Saiu correndo e o encontrou no corredor. Ela o encarou e com a voz embargada perguntou.
— O que você quis dizer com, "estamos quites"?
Ele deu um sorriso debochado, porém triste, e respondeu friamente.
— Você só deu um beijo e eu aproveitei muito mais o momento — e sem a olhar mais, desceu as escadas.
Agora seu mundo realmente havia caído. Ela se lamentava por um beijo enquanto seu marido a traiu de todas as formas possíveis? Como ele teve coragem de falar aquilo e com aquela frieza? Com que monstro havia se casado? Ela não aguentou a dor que aquilo a causou. Todos aqueles dias fora de casa e ele se deitava com outra mulher enquanto ela ficava sozinha, sentindo-se completamente abandonada? Não, ele não podia ter feito aquilo. Por que? Sempre esteve disponível para Adriel. Fez o que podia pelo seu marido. Se cuidava diariamente, mantendo-se bonita apenas para ele.
Estava sentindo-se sufocada. A dor da traição era insuportável. Como se uma faca estivesse atingindo o seu coração e divido ao meio. O que uma vez era tão especial e íntimo tornou-se desconhecido. Sentiu que seu marido era o pior inimigo que poderia ter e isso doeu de uma maneira que Valéria não conseguiu mais se conter, e a passos lentos e cambaleando voltou ao apartamento com um choro sufocado. Soluçava alto, desesperada. Aquilo tinha que ser um pesadelo, ela pensava. No entanto, quando mais chorava, mais a dor a dominava e ela sabia que tudo aquilo era real. Seu marido havia a traído friamente.
As imagens passavam pela sua cabeça como um flash relembrando de como haviam se conhecido, dos momentos que desfrutaram juntos, da primeira vez em que ele disse que a amava e como queria acordar todos os dias ao seu lado. E agora, eles passavam os dias longe um do outro e sabe-se lá com quantas mulheres Adriel dormira. Era dolorido demais. Porque ele fizera isso? Ele prometeu fidelidade, amá-la. Sabia que ela também o havia traído, mas nada se comparava ao fato de que outra mulher tivesse acesso à intimidade do seu marido. Ele não era mais apenas seu. Todo o pequeno encanto que tinha acabou-se naquele instante. Ele fora um ordinário, enganando-a esse tempo todo. Quando mais pensava, mais chorava e cansada como estava, deitou-se ali mesmo na sala e adormeceu em meio as lágrimas.
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O valor de uma Promessa ♥ Degustação ♥
EspiritualValéria estava casada há mais de três anos, mas a cada dia a sua companhia era a solidão. Ela simplesmente estava cansada de fingir que sua vida era um mar de rosas, mesmo morando num dos prédios mais luxuosos da cidade. O clima vai ficando insuport...