Capítulo 8

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O momento da paixão dominou Valéria começando pelo beijo arrebatador que a deixou nas alturas. Marlon continuou avançando e passando a mão sobre suas costas, descendo até a cintura fina. Tirou rapidamente a camiseta e com delicadeza começou a tirar a blusa de Valéria. Mas num impulso ela sussurrou o nome de Adriel. Os dois se afastaram rapidamente e se olharam perdidos. Ela queria aquilo, mas sabia, não poderia ir adiante.

— Sou louco por você, Valéria, mas poderia ser um cafajeste se continuasse com isso.

Ela não disse nada, apenas sentiu seu rosto pegando fogo. Respirou fundo, mas não teve coragem de encará-lo e ficou um tempo cabisbaixa tentando controlar suas emoções que estavam em erupção. Depois de sentir-se melhor ergueu o rosto e percebeu que estava sozinha, novamente...

Completamente sozinha. Deixou que uma lágrima caísse, já estava cansada de chorar.

***

Nas semanas seguintes Valéria evitou estar no mesmo ambiente que Marlon, e pelo jeito, ele fez o mesmo. Apesar de se sentir triste por isso, sabia que era o melhor para todos. Não estava em condições de ter nada com ninguém e ainda era casada. Por mais que Adriel tivesse sumido da face da terra, ela ainda tinha um compromisso com ele. Será que era louca por pensar assim? Claro, e o único compromisso que Adriel tinha agora era o pagamento do apartamento onde ela morava.

Às vezes Valéria se perguntava se ela era ingênua ou o quê? Ele a traiu, simplesmente poderia pedir o divórcio e ponto final. Sempre fora contra isso, apenas no caso de traição é que ela achava correto. Afinal, como poderia continuar um casamento se toda a confiança que um dia existiu fora quebrada? Não era tão fácil assim juntar os caquinhos de um coração quebrado, aliás, era completamente impossível. Descobriu isso depois daquela noite em que Adriel confessou ter ido muito mais além que ela.

Lembrou-se da primeira semana que estavam morando juntos. Ele havia chegado em casa com uma mulher, suas roupas estavam rasgadas e havia marcas de beijo em vários lugares. Ela ficou em choque ao ver o homem que amava naquelas condições. A mulher simplesmente o jogou para cima dela e foi embora. Adriel estava desacordado. Valéria ficou com tanta raiva que o deixou ao chão e foi para o quarto. Ele não lembrava muito sobre o que tinha acontecido, mas jurou que não havia ficado com aquela mulher. Ela não acreditou no começo, mas ele suplicava de joelhos e com lágrimas nos olhos que realmente não havia acontecido nada. Após algumas semanas sem ao menos trocar uma palavra com ele, decidiu dar uma nova chance. "A última", ela avisou dias antes de eles marcaram a data do casamento. Por um momento Valéria pensou que havia esquecido aquele episódio, mas tudo indicava que não. Nunca chegou a confiar nele de verdade. Tudo o que fazia desde então era com medo de perdê-lo para outra mulher. Estava completamente cega, colocou-o em um pedestal que nunca mereceu. Todo o esforço foi em vão. Um dia ele fora tudo em sua vida, e hoje restara apenas traços de um homem que nunca fora capaz de amá-la. Ele não fazia ideia do buraco enorme que ficou no coração de Valéria.

***

Era o dia de folga da Valéria e lá estava ela, em sua casa encarando o guarda-roupa por mais de meia-hora. Ainda não podia acreditar que aquilo havia acontecido. Como havia comprado tanta roupa no último mês? O espaço vazio que seu marido deixara fora preenchido por roupas novas e um detalhe muito importante, tudo de marca. Embora ela quase não usasse, cada vez que batia o olho em alguma peça nova nas lojas do shopping, algo gritava dentro dela dizendo que precisava daquilo e assim estourou os seus três cartões de créditos que só usava para emergências.

Começou a andar de um lado para o outro estupefata com a loucura que havia cometido. Além dos cartões de crédito quase a metade do seu salário havia sido consumido nessa loucura. Não sabia como iria sobreviver um mês inteiro com o que restara, tendo que pagar contas e ainda manter a casa. Bufou por um momento e no instante em que uma lágrima surgiu, ligeiramente ela a mandou embora. Não iria se fazer de fraca agora, o culpado de tudo era o seu marido. Ao menos ele tivera a decência de pagar o aluguel do apartamento, mas só ficou sabendo disso por uma breve mensagem sua, como se fossem completos estranhos. Só de pensar nisso a raiva aumentava, precisava fazer alguma coisa para estagnar aquele sentimento.

Uma música bem alta! Valéria pensou. Quem sabe ela fosse capaz de vencer seus próprios sentimentos e temores. Foi até a sala e... Estagnou! Aquilo não poderia estar acontecendo. Sua respiração acelerou violentamente ao ver a cena em sua frente.

Uma onda de constrangimento se apossou dela. Ficou alguns minutos parada, apenas observando-o, completamente diferente da última vez em que o vira. A barba por fazer, os cabelos despenteados e um olhar triste, perdido. Ele não se mexeu, ficou em pé, do jeito que estava, com as mãos no bolso. Após aqueles minutos intermináveis, enfim, disse as primeiras palavras.

— Valéria, precisamos conversar!

— Sobre o aluguel do apartamento? É melhor decidir o que vai fazer, Adriel. Não tenho condições de ficar sozinha nesse lugar — disse secamente não importando-se com o semblante abatido do marido.

— Não se preocupe. Trouxe minhas coisas de volta, a partir de agora não ficará mais sozinha.

Ela arqueou uma sobrancelha e arregalou os olhos. O que ele estava pensando? Simplesmente sumia de casa e acha que poderia voltar na hora que quisesse? Será que teve que acontecer tudo aquilo para perceber o erro que fizera? Sem que esperasse ela começou a rir. Não sabia de onde vinha aquilo, mas não conseguia parar. Sentiu o olhar apavorado de Adriel sobre ela, mas não se importou. Sentou-se no sofá e ficou ali, rindo, até que as lágrimas começaram a surgir se transformando em um soluço profundo. Ela queria parar, fugir da presença de seu marido, mas não conseguiu, ainda mais quando sentiu os braços quentes e fortes a envolvê-la.

Quando finalmente conseguiu se recompor, levantou-se e encarou Adriel de um jeito que ele nunca tinha visto, e não sabia o que significava aquele olhar.

— O que você quer de mim? — sua voz saiu alterada.

— Quero voltar ao que éramos antes.

— Antes do quê? De virmos para cá e você esquecer que é casado ou de você ter dormido com outras mulheres? Ou quem sabe agora você decida falar que realmente dormiu com aquela mulher, na nossa primeira semana juntos.

— Eu nunca dormi com ninguém, Valéria! — a voz trovejante do marido se apossou da sala — Foi você quem me traiu!

— Foi só um beijo, nunca deitei com ninguém, ao contrário de você que teve o prazer de jogar isso na minha cara.

Valéria parou de falar ao encarar o semblante transtornado de Adriel. Após uma pausa na discussão, escutou-o soltar um suspiro pesado e percebeu os olhos vermelhos. Sentiu ele se aproximar um pouco mais.

— Eu só disse aquilo por que não suportei a ideia de você ficar com outro homem.

Seus olhos a encaravam. Havia culpa neles e uma dor imensa. Ela deu um passo para trás e o fitou novamente, perguntando se ele realmente estava falando a verdade. Temeu pelas palavras que sairiam pela boca de Adriel, no entanto, para o seu desespero, seu semblante denunciou que era sim, verdade. Ela não aguentou a pressão que aquela revelação fez dentro dela. Como ele pôde brincar com seus sentimentos daquela maneira? Com que direito? Errou em deixar que Marlon a beijasse, mas jamais, em hipótese alguma, pensou em ir adiante e muito menos mentir sobre isso.

— Você é louco? — ela gritou — Por que você fez isso, Adriel? Por quê? Responda! — exigiu.

— O que você queria que fizesse? Você beijou um homem no cinema e ainda inventou que era seu primo e eu sou o louco?

Antes que Valéria pudesse atacá-lo novamente, escutou um barulho forte no hall de entrada. Em segundos algumas pessoas invadiram a sala desesperadas. Valéria e Adriel se entreolharam da mesma maneira.


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