Capítulo 7

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O nervosismo pelo primeiro dia de aula sumiu assim que Valéria abriu a porta do guarda-roupa do marido. Depois disso, ela começou a fazer as coisas mecanicamente, como o "bom dia" para todas suas colegas de trabalho, clientes e inclusive para suas alunas que estavam animadas, até Marlon estranhamente recebeu o comprimento. E dessa forma passou aquele dia.

Chegou em casa e após tomar um banho, simplesmente caiu na cama. Não comeu e nem fez o seu tratamento diário de beleza. E os dias seguintes se passaram da mesma forma, cumprimentos mecânicos, trabalho, curso e conseguiu comer duas maças para não desmaiar de fome, mas fora isso, ela estava como um robô: escutava as conversas e risadas das clientes e alunas, fingia que fazia parte, no entanto, seus pensamentos vagavam por um mundo totalmente desconhecido. O vale dos ossos secos começou a se tornar seu mundo particular e descobriu que quanto mais andava por ele, pior ficava.

Uma semana depois do bilhete de Adriel, Valéria conseguiu reagir. Ao sair da loja naquele domingo, não foi direto para casa, parou em uma das lojas mais caras do shopping e depois de provar duas blusas que vinha paquerando fazia semanas, comprou-as. Teve que passar no cartão, pois não havia sobrado mais nada do seu salário. Pela primeira vez em dias deu um meio sorriso, feliz por aquela conquista.

Quando estava quase saindo do shopping seus olhos bateram em um Scarpin perfeitamente lindo. Era o novo lançamento e de uma marca que ela simplesmente adorava. Não se importou em pagar trezentos reais por ele. Para que serve o cartão? Então, novamente o passou sentindo-se feliz por aquela aquisição.

Ao chegar em casa Valéria guardou suas novas aquisições no espaço vazio do guarda roupa de Adriel. Ele simplesmente havia tirado suas roupas, seus pertences, não deixando nada naquele quarto. Prova de que aquela semana de trabalho era uma tremenda mentira. Queria saber quando ele iria ser homem o suficiente para conversar como uma pessoa adulta. Se bem que, depois de tudo o que fizera, perdera completamente o respeito por ele. Sua única preocupação no momento era que se ele saísse de casa como pagaria o aluguel do mês seguinte?

Moravam na cobertura de um dos prédios mais conceituados da cidade. O salário de Adriel permitia isso e muitas outras regalias. Morar num apartamento luxuoso e com direito a piscina e uma área de festa como aquela não era para qualquer um. Decidiu que teria que resolver aquilo naquele momento. Não iria mais esperar os problemas se resolverem sozinhos, pois na maioria das vezes ela fugia e Adriel era quem tinha que dar um jeito em tudo. Agora os papeis haviam se invertidos.

Gostaria de saber se vai continuar pagando o aluguel desse apartamento. Seria injusto deixar para pagar sozinha, sendo que não ganho nem a metade do seu salário. Ah, e muito obrigada pela consideração em me avisar que estava levando todas as suas roupas com você. Mas, obrigada, agora tenho um espaço perfeito para as minhas novas aquisições.

Segundos depois, chegou uma nova resposta em seu celular.

Não se preocupe. Tenho dinheiro suficiente para pagar o apartamento onde você mora e um só para mim. Ah, e espero que aproveite bem o espaço com o segurança.

Não estava acreditando no tamanho da frieza de Adriel. A vontade que tinha era de entrar no celular, pegar ele pelo colarinho e pedir, "porque está fazendo isso comigo?". O que havia acontecido com eles?

Perfeito!

Foi a única palavra que conseguiu digitar. Não sabia que era possível ficar ainda mais magoada, mas foi o que aconteceu. Realmente seu casamento estava terminado e ainda lutava para acreditar nisso. Deixou que as lágrimas fossem sua companhia naquela noite. Dessa vez, não poderia dizer que "vai passar", pois pela primeira vez o desespero tomou conta dela. A tranquilidade antes tão presente estava ameaçada e não sabia se um dia iria se recuperar.

O valor de uma Promessa  ♥ Degustação ♥Onde histórias criam vida. Descubra agora