Não havia mais saída. A escuridão a dominava e por todos os lados a imagem se repetia. Algo sem sentido até dias atrás. Era engraçado como aquele lugar fazia parte da sua vida. Antes era tão estranho e assustador, agora se tornara familiar. Era o seu lugar, a nova morada do seu coração.
"Os nossos ossos se secaram, não havia mais esperança", alguns falavam. "Esse é o meu lugar. Me sinto como eles", outros diziam. A verdade era que eram simples ossos que se tornaram tão amargurados e sem vida que secaram-se completamente. Não havia mais sentido viver, então, ali, tornara-se a nova morada. Naquele lugar enterraram todos os seus sonhos e junto, eles mesmos.
Valéria acordou desesperada, como se alguém tivesse a cutucado. Olhou para os lados e encontrou apenas a escuridão do quarto do hotel onde estava hospedada. Sentou na cama com os olhos arregalados. Sentiu algo ruim dentro de si, não sabia descrever a sensação. Ainda era de madrugada, mas sabia que aquele sonho permaneceria com ela durante todo aquele dia.
Valéria tomou um banho, tentou pensar em coisas positivas, mas nada tirava o sonho de sua mente. Tentou refletir um pouco, entender o porque de aquilo não sair da sua cabeça. Talvez fosse pela descoberta do dia anterior. A traição de Adriel ainda estava em sua mente. E sem que esperasse, cenas dele com a outra mulher povoavam sua cabeça e aquilo doía profundamente. Naquela madrugada havia chorado até soluçar e então dormiu de cansaço. E a parti dali teve aquele sonho estranho. O mesmo que vinha tendo há semanas. Mas, cada vez ele se tornara diferente e permanecia sempre no mesmo lugar: o vale de ossos secos. Seria engraçado se não fosse triste saber que aquele sonho acompanhava o estado crítico da sua própria vida.
Era começo da tarde, o curso começava dali à uma hora, mas ela decidiu caminhar por alguns minutos antes de retornar aos estudos. Apesar da mesa farta do café da manhã e do almoço, aquilo não a instigou a comer. Precisava de ar, respirar novos horizontes, sentir o sol aquecê-la do inverno que jazia em seu próprio coração. Estava cansada, simplesmente cansada de tudo o que estava acontecendo e não sabia o que fazer. Sua vida parecia não ter sentido algum. Casou com o homem no qual se apaixonara na primeira vez em que o vira. Tinha certeza de que com ele seria feliz e passaria o resto da sua vida. Agora estava começando a acreditar que não existia contos de fadas, ou então, não fora predestinada a viver um verdadeiro amor e ser feliz. Parece que vida era assim mesmo, alguns nasciam para serem felizes enquanto outros arrastavam seus dias em busca da felicidade.
O que será que fiz para merecer isso? Pensava, analisava, mas não encontrava respostas. Tinha certeza de que fora uma boa esposa. Onde errei? Será que a minha falta de sinceridade em alguns momentos foi o meu erro? Seu único desejo sempre fora satisfazer Adriel. Deixá-lo feliz era a meta de cada dia, principalmente naqueles poucos dias em que ele estava em casa. Talvez aquilo não fora reciproco. Lembrava-se de todas as vezes em que Adriel chegava em casa após vários dias viajando. Ninguém precisava falar nada, naqueles minutos após se verem se beijavam e corriam para o quarto, mas então, no outro dia, ele parecia outro homem. Estava se tornando cada vez mais exigente e nada do que fazia parecia agradá-lo. Acreditava que fora isso que começou a desgastá-la. Será que fiz pouco mesmo? Talvez tivesse que ter me esforçado mais. Doía saber que não fora suficiente para ele. Por que ele foi atrás de outra mulher? Aqueles beijos pertenciam apenas a ela, o seu toque, pertencia apenas a ela, aquele momento de êxtase... Era seu, apenas seu. Era com Valéria que ele deveria estar... Apenas com ela e mais ninguém.
As lágrimas começaram a brotar em seus olhos. Continuou a andar cada vez mais rápido. De longe avistou a praia e começou a correr em sua direção. Estava desesperada, queria abraçá-lo, precisava ouvir que ele a amava, mas o ódio quebrava qualquer chance de esse ato se concretizar. Continuou correndo, ouviu algumas buzinas após atravessar a rua sem olhar para os lados. Encarou o mar azul tão estonteante e continuou a se aproximar e então quando a água tocou os seus pés soltou todas as lágrimas que vinha prendendo. Deu vários passos e quando a água chegou até a sua cintura, mergulhou. Queria que aquela água levasse embora toda a podridão que havia em si. Precisava que ela levasse embora toda a mágoa e dor que sentia. A necessidade era tanta que continuou mergulhada. Não se importava com o que poderia acontecer, precisava que isso fosse embora.
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O valor de uma Promessa ♥ Degustação ♥
EspiritualValéria estava casada há mais de três anos, mas a cada dia a sua companhia era a solidão. Ela simplesmente estava cansada de fingir que sua vida era um mar de rosas, mesmo morando num dos prédios mais luxuosos da cidade. O clima vai ficando insuport...