Capítulo 6

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Como estava com vontade de bater em Alfredo, sentia meu corpo tremer em fúria. Respirei varias vezes para me acalmar.

- Fique calma, ele não vai mais te perturbar.

- Isso tudo é muito injusto. Ela esbravejou.

- Não basta estar aqui presa nesta fazenda, trabalhando dia e noite, sabendo que viverei assim para sempre ate o meu ultimo respirar, não voltarei a minha terra natal nem viverei livre, como vocês brancos vivem, nunca dormirei tranquila em uma bela e cheirosa cama, não terei vários livros em uma prateleira para lê-los no fim da tarde tomando chá, como fazem as outras mulheres, nem passearei a cavalo pela manhã sentindo o vento em meu rosto, não terei uma terra para chamar de minha, uma casa para chamar de lar. Essa condição eu já aceitei, mas não vou permiti que usem do meu corpo que é a única coisa, se é que é, já nem sei mais se posso dizer ser meu.

Senti um nó em minha garganta enquanto ela pronunciava aquelas palavras não para mim, era como se eu não estivesse ali, ela falava com ela mesma.

- Fique tranquila Rita, eu te prometo que nada acontecera a você. Abracei-a sem mesmo me questionar o que os outros escravos pensariam.

- Deixe- me proteger- te.

Ela afastou-se para me olhar.

- Obrigada Cássio, mas o que você vai querer em troca?

Ela perguntou tão certa de suas palavras que por um minuto me fez pensar, que na verdade realmente eu queria sim, mas não em troca queria livremente.

- Não quero nada Rita, apenas que confie em mim.

- Tenho medo do que podem pensar. Ela olhou em volta se afastando.

- Pensei que não se importasse com os outros.

- Na verdade, pode parecer que não, mas me importo sim. Se começar a me defender de tudo e todos, vão começar a pensar coisas que não existem. Comigo tanto faz, como seu irmão disse sou apenas uma escrava e sendo assim já imaginam coisas horríveis de mim, mas preocupo-me com você, não cai bem para um homem branco da sua linha social, ficar defendendo uma escrava, não vale à pena colocar sua reputação ate mesmo vida em risco por causa de mim.

- Nunca mais me diga que não vale a pena defendê-la. Disse olhando em seus olhos.

Ela se preocupava comigo, mas do que com ela mesma, e saber disso entristeceu-me profundamente, saber que ela aceitava tão facilmente aquela vida de escrava que não tinha esperança em ser feliz, havia deixado os sonhos de lado não fazia planos, apenas vivia dia a pós dia, como se já houvesse jogado a vida ao acaso, e ainda não conseguia enxergar seu real valor.

Outras mulheres agiriam totalmente diferentes, tantas faziam de tudo para ser desejada a maioria usa de todas as armas de sedução, outras escravas, aposto que havia várias, que queriam estar no lugar dela, ser desejada pelos escravos, pelos patrões, por todos os homens da fazenda, mas não Rita, ela não precisava usar da sedução, seduzia os homens naturalmente sem intenção, não precisava de belas roupas, sapatos e perfumes, ela exalava seu próprio perfume o que deixava qualquer um louco, as roupas ajudavam aos homens a ficarem imaginando - à por baixo dos trapos, sua postura às vezes arrogante, seu olhar selvagem fazia qualquer um, não resistir ao instinto masculino de domar a fera. Ela era infeliz em saber que era desejada, não gostava de saber que ali havia homens capazes de fazer loucuras por ela, assim como eu estava.

- Mesmo que não queira que me peça, eu não vou deixar ninguém te machucar.

- Por quê? Ela me perguntou.

MORENA DE ANGOLAOnde histórias criam vida. Descubra agora