Quando chegamos com o Caíque aqui no hospital, era por volta das dez da manhã, somente às dezessete horas o meu pai foi liberado, assim que olhei para o relógio do hospital e vi que o mesmo marcava dezessete horas em ponto, vi o meu pai sair pela porta, exausto e com um semblante triste, cabisbaixo, andando lentamente em nossa direção, sem o Caíque, nós nos levantamos o mais rápido que podíamos, pois, também havia um grande cansaço em nossos corpos, nós o abraçamos e eu o indaguei, dizendo:
- Pai, como foi? Cadê o Caíque?
O meu pai, coitado, mesmo cansado daquilo tudo que estávamos passando, nos abraçou, pude sentir os batimentos acelerados de seu coração, tão logo tomou um fôlego, respondeu- me:
- Meus amores, a situação não é nada boa...
Antes mesmo dele prosseguir, eu o interrompi, dizendo:
- O quê aconteceu com o Caíque?
Meu pai com muita ternura disse me acalmando:
- O Caíque está bem, apenas está dormindo um pouco, pois não foi nada fácil para ele, mas, ele está muito bem, só que a tentativa de que ele poderia ser um doador da medula óssea para o seu pai Jorge, foi totalmente em vão.
Eu comecei a tremer, temendo o que ele, meu pai e o Jorge, tenham descoberto e com isso poderiam me condenar de alguma forma.
Mas, meu pai é um homem muito sábio, o senhor vai ter a oportunidade de poder conhecer ele pessoalmente e verá que estou falando o certo da figura tão querida que é o meu amado pai e ele já lidou com situações muito mais complexas e delicadas e não seria agora que ele não se sairia muito bem.
Eu, tentando entender melhor o acontecido, perguntei:
- Dona Wilma, o Caíque então, não era compatível para salvar o seu pai Jorge?
Ao ouvir esta minha pergunta, ela respirou fundo e percebi que lágrimas rolaram em seu rosto, assim ela ficou por algum tempo, eu respeitei o seu momento e não continuei a conversa, esperei ela prosseguir no assunto, continuei a dirigir silenciosamente ruma à cidade de Piranguinho Minas Gerais.
Assim que ela parou de chorar profundamente, dona Wilma reinicia a conversar, dizendo, após ter limpado o seu rosto com alguns papéis toalha que eu deixo no veículo para estas finalidades mesmo:
- Não, Caíque realmente não era compatível, o coração de mãe já estava dando sinal que isso não seria possível, mas, o meu pai fez questão e numa situação destas, o meu pai jamais daria por satisfeito os sentimentos de sua filha.
Ela respirou, tomando bastante ar e continuou:
- Só que daí, o meu pai foi nos dar a notícia e antes que ele abrisse a boca, vários carros com muitos policiais, pararam no hospital, armados, com as suas armas em punho, montaram um esquema de proteção entre eles, igual quando passa em filmes, na verdade eu somente tinha visto isso em filmes mesmo e nunca imaginei que um dia eu viveria para ver isso pessoalmente e pior ainda, se a pessoa que eles estavam a buscar seria muito perigosa e nós estávamos em linha de fogo, foi aí que eles avançaram e entraram no hospital, perguntei para o meu pai, que nesta altura da situação, estava abraçando minha mãe e eu:
- Meu pai, o que está acontecendo aqui, eu nunca vi estas coisas?
- Minha filha, fique calma, quando os médicos, colocaram o Jorge na fila para receber a medula óssea, para tentar uma pessoa para doar a medula para ele, o sistema detectou que Jorge é um fugitivo da justiça e isso já faz um bom tempo, eu tive que ficar lá dentro do hospital, até que eles tivessem certeza que a polícia estava aqui e foi por isso que eu pude vir somente agora.
Ao ouvir estas palavras, meu coração disparou de tal forma que eu pensei que não ia aguentar, não podia acreditar que o meu marido era procurado pela justiça e para isso ele deveria ter feito algo horrível e eu gritava:
- Não! Não! Não é possível isso o que está acontecendo! ...
Meu pai, o mais rápido possível, retirou- me do local que estávamos e levou a minha mãe e eu para um lugar onde ninguém ia nos escutar, foi quando um homem forte, todo de roupa social, com uma carteira na mão e dizendo:
- Senhora Wilma? Pode nos acompanhar?
Eu olhei para o meu pai e minha mãe, meu pai deu um sinal para eu seguir o delegado, lembro me de ter perguntado:
- Quem é o senhor e o que está acontecendo?
O homem que pediu para eu acompanhá- los, disse educadamente:
- Desculpe a minha falta de educação, meu nome é Valter Magalhães, da Inteligência do Estado de Minas Gerais. E o seu marido Jorge está sendo preso e precisamos fazer algumas perguntas.
Dona Wilma, com a cenho franzido, continua sem dar pausa na conversa:
- Lembro- me como se fosse hoje, perdi o chão, noção do espaço e visão, não via mais nada, passou um filme em minha mente.
Comecei a me lembrar de como nos conhecemos, Jorge era um homem mais velho, responsável, romântico e no início fez de tudo para conquistar a mim e aos meus familiares, fazia questão em todas as visitas trazer flores, uma mais linda que a outra, era intenso, ele me conquistava todos os dias, eu não conseguia ver defeito no amor da minha vida, o Jorge.
Pensando bem, acho que foi aí o meu erro, me deixei ser levada por ele, ele era muito diferente dos outros, ele me fazia rir todos os dias, me fazia sentir mulher, amada, respeitada e feliz.
O tempo estava passando rápido demais e chegou um tempo que eu precisava ver ele todos os dias da minha vida, não estava conseguindo mais ficar um dia sem ele.
Então, um dia decidimos nos casar, como ele era um homem bom, demonstrava o tempo todo o seu amor por mim, aos meus pais e familiares, ninguém se opôs, o meu pai gostava muito dele e não só o meu pai, mas, todos.
Então marcamos a data do nosso casamento, foi um dia maravilhoso, o noivo era simplesmente o mais lindo que os meus olhos já viram.
Viajamos para a lua de mel, ficamos uma semana passeando, foi um momento muito especial, conversamos muito e rimos muito, sempre com alto astral e me passando como um homem bem sucedido e educado, de fato ele era assim mesmo, todos sentiam isso.
Voltamos da lua de mel, a nossa vida de casados finalmente começou, ele trabalhando muito e eu logo comecei a fazer a faculdade da qual eu tanto queria.
Depois de alguns meses de casados, o Jorge começou a ter uns comportamentos estranhos, ele chegava do trabalho por volta das vinte horas e uma noite, ele chegou meia horas mais tarde e eu perguntei o que havia acontecido, ele me disse que o pneu do carro havia furado e e ele parou para arrumar.
Depois de dois meses, eu fui lavar o carro, eu gostava de fazer este trabalho, eu já fazia isso na casa de meus pais e não teria problema nenhum eu continuar a fazer agora em minha casa. Para minha maior surpresa, quando eu fui aspirar o carpete do carro, encontrei uma arma em baixo do banco do motorista, para ser mais exata, uma pistola sete meia cinco cromada, carregada de munições, assim que eu vi a arma, levantei para analisar, neste momento ele apareceu e brigou comigo e disse que era uma arma de brinquedo, da qual ele e seus amigos brincavam no horário de descanso do trabalho e eu fiquei um pouco chateada com isso e me lembro que ficamos uma semana sem nos comunicar,
Foi triste demais ter que ficar brigada com o homem que eu amava muito.
- Dona Wilma, permita- me uma pergunta?
Ela sinalizou com a cabeça, que sim, aí eu formulei a minha pergunta desta maneira:
- Como assim, a senhora viu uma arma dentro do carro do seu marido e não denunciou a polícia o acontecido?
Ela concordou comigo, com um olhar e respondeu:
- Pois é, não. Eu sei que estou errada, hoje eu vejo que deveria ter denunciado o meu marido, mas, eu o amava muito e automaticamente acreditava no que ele dizia.
Eu, sutilmente, perguntei:
- Estou curioso o quê de fato então, aconteceu para que a Polícia Inteligente de Minas Gerais estava no calço dele?
Ela pensou alguns segundos e continuou a falar:
- Certo. Uma semana depois que eu encontrei a arma em seu carro, assim que voltamos a nos falar novamente, ele chegou em casa com três horas atrasado, chegou excitado, eu perguntei o por que de tanto atraso, ele se gesticulava o tempo todo, e me respondeu que o pneu do carro havia furado de novo e ele teve que parar para consertar, eu já estava puta da vida com esta história de novo em nossa vida, nem deu tempo para eu ficar muito puta com esta história, ele tira do bolso, um celular e diz que quando ele foi encher o pneu, que o celular estava caído ali perto e que ele pegou, só que não tinha nada, nem chip, né cartão de memória, o celular estava sem informação nenhuma que pudesse saber de quem era.
Eu achei muito estranho, pedi para ele me dar o celular para eu ver, ele não me deu, escondeu e depois deu para alguém, sei lá o que ele fez.
Isso tudo eu fui guardando comigo, nunca falei para os meus pais, pois, achava que era um fracasso e que meus familiares iam me condenar para o resto da minha vida.
Na verdade, esta situação ainda se repetiu para várias vezes ainda, dele chegar tarde, o nosso casamento estava indo por água à baixo, literalmente.
O Jorge, de uma pessoa tranquila e amorosa, se transformou num monstro dentro de casa, eu já não reconhecia mais o homem que eu amei, o meu filho e eu vendo toda esta confusão acontecendo debaixo dos nossos olhos e eu não podendo fazer nada, mas, nada mesmo...
A situação em casa não estava bem, eu tinha medo dele fazer alguma coisa para o nosso filho Caíque, ele estava muito agressivo...
Ela falava e seus olhos enchiam de lágrimas, que chegavam banhar seu rosto e o soluço era constante...
Ela volta a falar, enquanto limpa o seu rosto:
- No entanto, eu tinha medo e não o denunciava, achava que se eu fizesse isso, ele poderia me matar e mataria também o nosso filho.
Agora, quando ele passou mal e tivemos que levar ele às pressas para o hospital e depois de ter descoberto que ele iria precisar de medula e que ele não tem nenhum irmão ou irmã que poderiam doar para ele e eu sabendo que o meu filho talvez pudesse ser um doador, este foi um dos motivos que eu não queria que o Caíque fosse um doador para o seu pai, ele não merece o socorro do meu filho.
- Bem, dona Wilma...
Comecei a falar, enquanto ela toma um fôlego, pois afinal de contas, ela fala bastante e não deixa ninguém entrar na conversa...
- Eu acho que ele foi muito mal com a senhora mesmo, para a senhoea chegar ao ponto de não querer permitir que o filho venha salvar o seu próprio pai...
Ela me cortou o raciocínio e disse meio que furiosa:
- Não! Ele não era apenas um mal pai ou marido, ele era um terrorista em casa, não tínhamos paz com ele e o pior que ele nos ameaçava para não contarmos para a minha família, mas o destino foi justo com ele, apesar de eu não ter agido como eu deveria ter feito, a vida se encarregou disso, esta doença o entregou nas mãos da polícia, de onde ele já deveria ter ido faz tempo.
- Naquele dia que o policial a chamou para conversar, o que ele apresentou para a senhora que a deixou convicta de que o Jorge era de fato um procurado pela justiça mineira?
Mais uma vez ela procura em seu arquivo de memórias e diz:
- Bem, me lembro que ele me levou até um carro comum, abriu a porta de trás, esperou eu entrar e fechou a porta delicadamente, logo abriu a sua porta do carona e entrou, o motorista arrancou o carro e nos levou diretamente à delegacia, todos nós estávamos calados, não dissemos nenhuma palavra, na minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos, fiquei a pensar que quem será que havia colocado o Jorge na justiça? Será que ele havia sido pego com aquela arma? Provavelmente não, pois a polícia não teria solto... e muitas outras coisas passavam pela minha mente.
Assim que chegamos, o agente Valter saiu e abriu a minha porta e pediu para eu acompanhá- lo, o que eu fiz prontamente.
A distância do carro e a sala de interrogatório era uns vinte metros, mas, para mim aparentava ser um quilômetro, pois, eu estava muito nervosa, sabia que não tinha nada a ver comigo diretamente, mas, sabia que teria que responder e ouvir algo que ele tinha a me dizer.
Ao colocar os meus pés na Divisão de Inteligência da Polícia de Minas Gerais, fiquei mais gelada ainda, o meu coração parecia que ia parar, um ambiente frio, com pessoas estranhas, todos com óculos de "fundo de garrafa", aqueles com lentes grossas, todos me olharam, mas, no fundo eles sabiam quem eu era.
O senhor Valter, me disse:
- Por favor senhora Wilma, sente- se naquela cadeira e eu voltarei em um minuto.
Eu entrei, era uma sala com pouca luz, gelada e sombria, eu estava com os braços cruzados de frio, cheguei perto da única cadeira no ambiente e descruzei os meus braços e puxei a cadeira, o que fez um barulho, dando eco na sala.
Ao me sentar, notei que havia uma parede de vidro bem a minha frente, mas, não dava para ver quem estava do outro lado.
Em um minuto, como o senhor Valter havia dito, ele voltou com um a cadeira nas mãos e colocou- a de frente para mim, do outro lado da mesa e disse:
- Muito bem, senhor Wilma, gostaria de fazer- lhe algumas perguntas e precisamos informar algumas coisas, que provável a senhora não saiba.
Com um caderno de anotações e uma caneta na mão, o agente me pergunta calmamente:
- Senhora Wilma, o seu esposo Jorge Salles tem se comportado estranhamente nos últimos meses?
Assim que ele terminou de formular esta pergunta para mim, o seu celular tocou e ele pediu desculpas e atendeu.
Ele ouviu atentamente a outra pessoa do outro lado da linha e prosseguiu comigo:
- Acabei de receber uma informação que o Jorge Salles acaba de confessar culpado pelos crimes que ele está sendo acusado.
Assim que ele terminou de dizer isto, ouviu- se o som da impressora e folhas e mais folhas começaram a sair, o senhor Valter começa a analisar uma por uma e após ter examinado cada fixa, ele se vira para mim e diz:
- A senhora sabe o que significa isso?
Eu olhei para a extensa tripa de folhas que havia saído da impressora e respondi:
- Não sei não. O senhor pode me dizer o que é?
Ele balançou a cabeça e me respondeu:
- Estes são boletins de ocorrências feitos contra Jorge Salles, por todos os crimes que foram feitos o b.o.
Na última folha impressa estava a foto do meu marido, eu estava anestesiada.
O senhor Valter então, começou a me falar sobre os crimes, dizendo:
- Todos eles foram estupros, em um deles ele pegou o celular da vítima. Ela contou aos policiais que estava indo para a sua casa, quando um carro Honda City preto parou perto dela e ofereceu uma carona e ela se recusou, ele então seguiu por uns vinte metros e deu ré e voltou e a ofereceu carona e ela agradeceu e ele sacou de sua arma sete meia cinco pratiada e ordenou que ela entrasse no carro, depois disso, ele a levou para uma estrada, empurrou ela do carro, abaixou a roupa dela e a estuprou, tirou o celular dela, provavelmente para ela não ligar para a polícia e entrou no Honda City e foi embora, só que ela conseguiu decorar a placa enquanto ele saía e foi andando até encontrar uma estrada que estivesse passando alguém e pediu socorro e ligou para a polícia, passando toda a discrição que ela havia conseguido e com ela também foi pego o DNA que bate com todas as características do Jorge Salles.
O senhor Valter continuou:
- Só que ela não foi a última, houve outras que ele as estuprou, violentou e até matou.
Enquanto eu ouvia o agente da polícia falar estas palavras, fui ficando enojada, a raiva foi tomando conta de mim, lembrei da noite que ele apareceu com aquele celular sem conseguir dar explicação de onde tinha aparecido aquele aparelho, me lembrei também de todas as noites que ele chegava tarde, fiquei a pensar o por quê ele fazia estas coisas horrorosas?
Quanto mais eu pensava, mais eu endoidecia...Não chegava a nenhum denominador comum.
O agente ao terminar de dizer estas palavras, disse fechando o sua pasta:
- Senhora Wilma, eu estava prestes a interrogá- lá afim de adquirir mais informações do senhor Salles, no entanto, não vai ser mais necessário, se a senhora quiser fazer uma visita pra ele, saiba que ele ainda vai ficar por aqui por uma semana, para podermos juntar todo o processo e depois será transferido para o CDP ( Centro de Detenção Permanente ), em São José dos Campos, São Paulo.
Estas palavras foram para mim, uma espada penetrante em meu coração, de saber que o homem que eu amava, é um estuprador, assassino e está indo para a cadeia neste momento.
- Senhor Valter, a partir de quando eu vou poder falar com ele?
- A senhora tem certeza que gostaria de falar com ele?
Esta foi a resposta do senhor Valter para mim, e eu respondi para ele:
- Sim, tenho certeza, quero que ele saiba que eu sei de tudo.
O senhor Valter pensou um pouco e respondeu:
- Tudo bem, a partir de amanhã, a senhora poderá visitá- lo das quinze às dezesseis horas, poderá fazer isso por seis dias, se a senhora quiser, é lógico.
- Ah! Senhora Wilma, tenho mais uma coisa para lhe dizer:
Eu me assustei, pensei que era algo com o meu filho e perguntei rapidamente a ele:
- O que foi senhor Valter, algo com o meu filho?
Ele deu um sorriso serrado e respondeu:
- Não senhora Wilma, é sobre o Jorge Salles.
Quando ele disse isso eu me acalmei e disse:
- Que bom, o que mais o senhor tem a me dizer sobre o Jorge?
Ele pegou um envelope contento vários papéis e ao me entregar disse:
- O senhor Jorge Salles, na verdade, não está doente, esse procedimento fazemos quando queremos pegar alguém que está em nossa mira, pedimos a todos os hospitais, que ao chegarem pessoas com certos nomes, que nos enviem exames de DNA, com amostras para uma análise rápida, afim de pegarmos o suspeito, mas, ele na verdade não tem nada, foi apenas uma queda de pressão e foi isso que nos ajudou a pegar mais uma pessoa perigosa que estava camuflada na sociedade e cometendo barbaridades por aí.
Eu agradeci ao agente e ele esticou a sua mão e me disse:
- A senhora está dispensada e o motorista irá levá- la para o hospital de onde viemos, tudo bem?
Eu estava atordoada, desorientada com tudo isso que estava acontecendo em minha vida, não tinha noção nem onde ficava a porta de saída, o agente Valter, percebendo esta situação, segurou levemente em meu braço e me conduziu para a porta, que logo após passá- la, o motorista estava a me esperar, o agente Valter deu um sinal para eu ser levada de volta ao hospital, o que fizemos sem nenhuma palavra dita dentro do veículo.
Esse dia foi um dos piores dias da minha vida, era como se tudo o que eu tinha feito, fosse em vão, de nada havia bom, apenas é lógico o meu filho Caíque, que era inocente, lindo e não tinha nenhuma ligação com tudo isso.
Na verdade, eu acho que a minha vida com o Jorge, tudo foi uma farsa, ele não me amava e provavelmente, eu retribuía tudo isso a ele, a falta de atenção que ele me dava, as brigas, mas uma coisa era certa, todas estas coisas acontecendo, eu me apegava cada dia mais o a meu maravilhoso filho.
Ao chegarmos ao hospital, o lugar estava calmo como sempre, a paz voltou a reinar neste lugar, de repente vi de longe meus pais e meu filho, eles estavam me aguardando, já era noite, mas, estava um clima agradável, eu agradeci ao motorista e desci do carro e corri para os braços dos meus pais e meu filho, eu podia sentir as batidas do meu coração, que mais parecia que ia sair do meu peito, abracei demoradamente, beijei- os como nunca havia feito antes, pude sentir o amor deles por mim transbordar, suas lágrimas me molharam toda, senti o verdadeiro amor me envolver, senti me segura e realmente amada.
Fomos abraçados até o carro, eles haviam comprado lanches e me esperaram para então comermos juntos.
Após ter me alimentado, pois estava morrendo de fome; estávamos na estrada, rumo à Piranguinho, o Caíque havia pegado no sono, o meu pai perguntou:
- Então, minha filha, o que deu lá para onde o agente te levou?
Eu olhei para o meu filho, para ver se ele estava mesmo dormindo, respondi a pergunta do meu pai, dizendo com voz baixa:
- Estou chocada ainda pelo que eu ouvi daquele agente da Inteligência da polícia, o Jorge foi preso e está sendo processado por vários estupros, assassinatos e violência à mulheres.
O meu pai quase bateu o carro ao ouvir isso da minha boca, o sangue dele ferveu e perguntou com muita fúria:
- O quê você está falando Wilma? Não brinque com coisa séria!
Eu comecei a chorar e falei misturado com soluços:
- Pai, eu queria muito que fosse uma brincadeira de mau gosto mesmo, mas, não é, o agente da polícia, imprimiu uma ficha extensa, todas de boletins de ocorrências feitas pelas vítimas e familiares das vítimas, pois tiveram mulheres que ele as matou.
Eu continuei a falar:
- Teve uma que ele a estuprou e tirou o celular dela para ela não o denunciar e esta conseguiu gravar a placa do carro dele, correu até uma estrada e conseguiu ajudar, usando um celular de uma pessoa que passava pelo local e ligou para a polícia, além é claro, dele ter deixado esperma após ter violentado a mulher. Com este material, a polícia chegou a conclusão final de quem era de fato o estuprador da nossa região.
Os meus país ficaram sem palavras, horrorizados com toda esta situação, pude olhar nos olhos deles e ver a sua fúria, assim como eu me encontrava naquele momento.
Depois de ter abaixado um pouco a sua fúria, meu pai perguntou para mim:
- Mas, não adiantou muito, pois afinal, ele está doente e como não tem ninguém para doar a medula para ele, ele vai morrer mesmo em breve, será que valeu a pena a polícia ter pegado ele agora?
Eu dei um sorriso forçado e respondi a sua pergunta:
- Pai e mãe, na verdade, ele não está com essa tal doença, isto tudo foi uma estratégia da polícia, eles fazem isso, para que possam identificar os foragidos da polícia e poder pegá- los. E funcionou, assim que o hospital identificou o Nome do paciente, tiraram sangue dele e enviaram os resultados para a polícia que identificaram o Jorge Salles e vieram e prenderam- no.
Meu pai respirou fundo e comentou:
- Minha filha, este safado e sem vergonha, nunca te machucou ou bateu em você, né?
Mais uma vez estava me sentido protegida com as palavras do meu pai e disse a ele:
- Não, meu pai, nunca ele me bateu e nem me machucou apenas brigávamos com palavras.
O meu pai continuou a falar:
- Que bom, minha filha, se não eu mesmo ia lá na cadeia e fazia o que muitas pessoas estão querendo fazer com, eu seria o primeiro a fazer isso com ele.
Para acalmar um pouco os ânimos do meu pai, minha mãe começou a falar:
- Filha, depois que o policial te levou daquele hospital, a polícia já tinha invadido o quarto do Jorge e prendido ele, depois de uns vinte minutos que você saiu, os policiais saíram do hospital com o Jorge algemado e sem olhar para os lados, eles passaram por nós e foram direto para carro da polícia. Saíram com a sirene ligada e em alta velocidade.
Eu fique ouvindo a minha mãe falar estas palavras e no fundo estava me sentindo aliviada e ao mesmo tempo muito triste pelo meu marido ter cometido tantas barbáries.
Estas coisas, nós nunca imaginamos se quer que vão acontecer conosco e eu também nunca imaginei isso, mas, aconteceu e me senti impotente diante de todas estas coisas, queria fazer algo para ajudar as famílias das vítimas e até mesmo as próprias vítimas, talvez eu pudesse amenizar a dor que eles passam, por tão somente culpa de um homem que eu chamava de " meu amor ".############
Portanto, aqui fica um conselho:
Ame!
Mas, ame primeiramente a si mesmo, não deixando que nada venha atrapalhar a sua felicidade, desconfie de tudo que é muito bom, bom até demais, por que tudo o que é demais não é bom, mesmo a bondade.
Ame a sua família, ouça- os, os mais velhos são sempre uma âncora para os mais novos, procure entender o por quê os pais disseram tais coisas, ou os tios, tias, ou os avós, eles são mais experientes do que os mais novos e aí reside a sabedoria.
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Os Segredos Por Trás Dos Vultos
Misterio / SuspensoSinopse O quê você vê quando olha para alguém? Nem sempre é o que aparenta ser... O quê as pessoas escondem por trás de suas muralhas faciais? E se você pudesse descobrir, Os Segredos por Trás dos Vultos? Lembre- se ao descobrir, Os Segredos por Trá...