Capítulo 9

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Vitória é uma pessoa simples do interior de Minas Gerais, com poucas palavras, mas, com muito a nos ensinar.
Os seus almoços são sempre deliciosos, seus abraços acalentados, nos dá mais sentido a vida.
Seu nome já diz tudo sobre ela, mas, apesar disso, ela sempre quer mais que uma vitória, ela quer ser lembrada por suas palavras carinhosas e respeitosas.
Talvez foi pensado nisso que ela me chamou na sala e começou a dizer:
- Sérgio, posso falar com você um instantinho?
Ela é mineira, tem o dom da palavra, sabe como tocar as pessoas com o seu jeito carinhoso de ser.
Eu olhei para ela e disse, ao me sentar em sua pequena sala:
- Sim, claro que pode.
Ela se sentou na ponta do sofá, mostrando estar buscando as palavras certas para aquele momento.
Ela colocou as suas duas mãos uma contra outra e disse olhando para mim:
- Olha, esta história que você acabou de nos falar, é fantástica, isto significa que você é uma pessoa especial e sensível, você hoje foi selecionado entre poucos para esta grande missão.
Eu já tinha você como uma pessoa especial, mas, agora vejo que não só eu tenho, mas, também os céus têm você como uma pessoa especial.
Saiba que você foi selecionado entre as pessoas que mais tem capacidade para tal missão e que neste momento, dona Wilma está sendo ovacionada e seu nome está sendo citado como um herói de toda esta situação.
Eu fiquei todo orgulhoso com estas palavras da Vitória e ela prosseguiu, dizendo:
- Lembra da tia Lourdes? Elas não se falaram naquele momento em que você foi buscar o Caíque no casebre, não foi por que elas estão de mal, mas sim, porque a dona Wilma ainda não havia ido para o lugar dela, ela havia ficado aqui neste mundo, buscando uma oportunidade para trazer o Caíque para os braços de seus avós. 
Tia Lourdes, veio para uma grande missão, de cuidar do Caíque e com certeza agora elas devem estar comemorando a missão bem sucedida e graças às suas habilidades que o fez tão especial.
Você foi qualificado para poder ajudar à essas pessoas, saiba que o seu nome neste momento está sendo proclamado por todos os cantos por onde elas estiverem.
Ficamos ali por um tempo conversando e em seguida me despedi de todos e parti para a minha cidade.
No caminho, as cenas de tudo o que havia acontecido, passavam pela minha mente como um filme e no fundo me sentia uma pessoa privilegiada por poder ajudar as pessoas que precisaram do meu auxílio.
Ao chegar em casa, já a noite, o pessoal estava a dormir, a minha familia já está acostumada com esta minha vida de taxista e para não acordá- los, entrei sem fazer algum barulho.
Após o meu banho merecido, antes mesmo de entrar no quarto, percebi que o meu celular estava a chamar e como estava no o silencioso, só vi a luz acesa do aparelho, peguei o celular na mão e atendi:
- Alô, senhor Sérgio a sua disposição, no que eu posso ajudar?
Era assim que eu sempre atendia o meu celular e uma voz do outro lado da linha disse:
- Boa noite senhor Sérgio, me desculpe ligar a esta hora, é que eu tentei o dia todo falar com o senhor e não consegui, eu estou precisando de seus trabalhos, ouvi dizer que o senhor é um profissional e tanto, por isso o senhor pode nos levar amanhã bem cedo para  o Paraná e depois o senhor nos traz de volta, será bem rápido, pois, a minha irmã está muito doente e só eu tenho a possibilidade de cura para ela e temos outros compromissos aqui em São José dos Campos logo em seguida.
Eu combinei o horário, local e fui dormir.
Me deitei e tão depressa o tempo passou que logo era o horário para me levantar e sair.
Cheguei ao local na hora combinada e lá estavam a senhora que havia falado comigo, dona Marta e o Charles, o filho de dona Marta.
Apesar da simpatia de ambos, eram pessoas que não falavam muito, porém, são pessoas muito educadas.
As coisas parecem que estão indo depressa demais, quando menos esperei, lá estávamos nós, em uma casa na Vila Auer na cidade de Curitiba.
A casa era uma casa muito bem elaborada, toda de madeira moderna, antes de chegar, o Charles que educadamente estava sentado no banco da frente, pediu para que eu o acompanhasse e que seria muito rápido a nossa visita.
Nós três entramos, a irmã de dona Marta quando a viu, abriu um largo sorriso e disse:
- Que bom que você veio me buscar, eu sabia do fundo do meu coração que você viria.
Enquanto as irmãs se conversavam, o filho de dona Marta, o Charles, estava cumprimentando as outras pessoas da casa.
O Charles foi até a tia e deu um beijo e disse que a amava.
Depois deste momento, todas as pessoas da casa, vieram até onde está a senhora doente e começaram a chorar...
A irmã de dona Marta, foi a primeira a descobrir que ela havia falecido.
Ficamos mais um pouco e em seguida o Charles pediu para irmos embora, fomos até o carro, depois das despedidas e a dona Marta não tinha vindo ao carro...
Perguntei:
- A sua mãe não vai, dona Marta?
O Charles olhou para mim, um tanto surpreso pela minha pergunta e disse:
- Ah minha mãe? Não vai não, ela vai depois...
Ele disse estas palavras afim de me responder apenas o que eu tinha perguntado.
Entramos no carro e viemos de volta para São José novamente.
O fato da dona Marta não ter vindo, ficou em minha mente, mas, logo passou.
Chegamos em São José em paz, fui para casa e ao chegar, todos de novo estavam dormindo.
Fui dormir e me levantei bem cedo e fui trabalhar como de costume e assim foi até no próximo sábado, muito trabalho.
Sábado, tentei levantar me, mas, não foi como eu estava acostumado, pois eu havia perdido a hora, o dia já tinha clareado e me esforcei para levantar, mas, não foi possível.
A tentativa foi em vão, nenhum músculo se moveu... eu estava pasmo, olhei ao redor, minha esposa linda e maravilhosa, estava bem vestida e cheirosa, pude sentir o seu perfume doce, do qual muitas vezes nos envolvemos intimamente, que lembrança sensacional.
Pude ver também os meus filhos, como eles eles são lindos e grandes, com os meus netos, hoje pelo jeito é um dia muito especial, pois eles todos estão aqui, talvez seja por isso que eu não fui trabalhar, mas independentemente se era especial ou não o dia, eu ia trabalhar, pensei em meus passageiros, eu estou deixando de ganhar dinheiro...
Mas tudo bem, hoje a minha esposa conseguiu reunir todos aqui, que felicidade.
Talvez  a minha esposa tenha desligado o alarme e por isso eu não acordei no horário...
Isso não tem problema, afinal de contas, tenho trabalhado muito e por muito tempo e esta semana foi bastante produtiva, pude viajar no sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta e sexta, todos esses dias viajei, coisas que nunca havia acontecido comigo antes.
Por um momento e por algum motivo, eu comecei a me recordar das coisas que eu havia feito em toda a minha vida...
Lembrei-me de quando eu havia estado no colo de mamãe...
Ah eu me sentia seguro, amado e confortável, para mim o melhor lugar era o colo de mamãe...
Depois me lembrei de minha mãe me ensinando a respeitar as pessoas, a amar o próximo, a cuidar dos meus irmãos mais novos, o meu primeiro dia da escolinha, depois o meu primeiro dia na  escola que eu ia fazer a primeira série.
Lembre- me também da minha primeira paixão de menino, quando eu me abri com a minha mãe, ela foi tão carinhosa e compreensiva, mesmo estudando nas horas vagas, eu engraxava sapatos, carregava compra na feira, olhei carro, catei papelão e muitas outras coisas para poder ajudar minha mãe nas despesas de casa, talvez seja isso que hoje trabalho muito para que os meus filhos não passem pelas mesmas dificuldades do que eu passei em minha infância.
Me lembrei de quando a minha mãe abençoou a minha união com a minha esposa, a minha primeira e um única paixão.
A vida passou como se fosse um filme, todos os momentos maravilhosos que passei e os momentos não tão bons assim.
Mas, saiba o seguinte, eu daria tudo para poder vivê- los novamente...
Mesmo deitado ali na minha cama, olhei mais ao fundo, vi pessoas que não via há muito tempo, tias, filhos, vizinhos, passageiros...
As pessoas estavam serenas, calmas... umas riam e outras nem tanto, mas eram pessoas que ao me ver, estavam se confraternizando umas com as outras.
Depois que as  pessoas fizeram uma oração, eu tive força e consegui me levantar, após me levantar, fui caminhando pela casa, mas, as pessoas não me viam, sei disso pois, os seus olhos não me acompanhavam, notei bem acima onde eu estava deitado, uma faixa, que ao ver o que estava escrito, fiquei muito assustado.
Sentei, respirei fundo e pergunte em voz alta:
- O que é isto? Não é possível tal coisa?
Mas, ninguém podia me ouvir.
A faixa dizia:
" Missa de sétimo dia do nosso querido Sérgio,
Viveu grande e morreu grande,
Homem de fé e bondade,
Aqui ficam os nossos agradecimentos,
Pelos seus dias em nossas vidas".
Quando eu vi isso pensei imediatamente:
- É doideira, eu morri? Quando foi isso que eu não me lembro de nada?
Ao terminar de pronunciar estas palavras, chega uma pessoa do meu lado e diz:
- É estranho tudo isso né?
Sem olhar para quem disse isso, eu respondi:
- Sim, é muito estranho, eu não me recordo de nada do que houve comigo.
A pessoa do meu lado disse:
- Eu entendo, foi assim comigo também...
Logo que eu olhei para a pessoa, vi que era a dona Wilma, sorridente e com um olhar carinhoso.
- Dona Wilma,  a senhora por aqui?
Indaguei- a e  imediatamente pensei no sábado anterior que eu havia levado ela e seu filhinho para a cidade de Piranguinho MG.
Dona Wilma, me pegou suavemente pela minha mão, me direcionou ao um sofá e me disse:
- Senhor Sérgio, naquele dia que o senhor nos levou para Piranguinho, o senhor já havia falecido, na verdade, a hora que o senhor morreu foi às duas horas e trinta e seis minutos.
Eu comecei a ter muitas dúvidas, não estava endendo nada e perguntei:
- Mas, e as corridas que eu fiz? Desde de sábado até ontem?
Na verdade, você estava em uma missão desde sábado até hoje.
Ela continuou a falar:
- Hoje eu também estou em missão, de poder explicar estas coisas para o senhor e ter a oportunidade de encaminhá- lo para  o seu merecido lugar.
Eu fiquei a olhar para ela, como se me haviam anestesiado, não tive mais reação, a ficha havia caído, eu realmente tinha morrido há uma semana atrás...
Dona Wilma, com todo carinho do mundo me disse:
- O senhor tem cinco...Cinco e minutos e teremos que ir embora... vá se despedir de sua família e estarei aqui para seguirmos...
Assim que ela me falou isso, eu olhei para ela com semblante sereno e concordando com o que ela tinha dito e fui.
Comecei a andar e todos na sala estavam falando da minha pessoa, eles não estavam chorando, mas, estavam conformados, não havia tristeza e nem lamentações, mas havia gestos de gratidão em cada rosto e em cada olhar.
Ao chegar perto da minha esposa, ela estava na janela como se estivesse a procura do meu olhar, eu fiquei do lado dela, e eu disse, sabendo que ela não ia ouvir, mas, eu tenho certeza que ela pôde sentir e eu disse:
- Meu amor, sinto muito em te deixar, mas, saiba que eu sempre vou te amar por onde quer que eu vá, levarei sempre comigo o nosso amor, a nossa alegria, o prazer da nossa vida...Te amo muito, eu levarei este amor por toda a eternidade, nada apagará o que eu sinto por você, eu te amo muito, quero aproveitar e te dizer, obrigado por tudo o que passamos juntos, obrigado pela vida que você me deu, por todo o seu empenho em me apoiar incondicionalmente, não esquecerei de você um segundo se quer, adeus meu amor...
Ao terminar estas minhas palavras, vi uma lágrima de seu olho direito escorrer e em seguida uma outra lágrima de seu olho direito descer.
Entre uma lágrima, eu dei um beijo em seu rosto e fui em direção a dona Wilma e dalí seguimos o meu caminho...

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A vida é um cristal, sensível e bela.
Devemos aproveitar ao máximo para torná- brilhante e eterna.
Mas, nunca é tarde para corrigir qualquer risco que possa vir a ter, trazendo para si a beleza.
Vivendo cada dia mais com firmeza!
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